Parasha da semana – Vaishlach
Por Rav Reuven Tradburks
Os desafios de Yaakov parecem nunca ter fim. Ele retorna para a terra de Israel. Receia um confronto com Esav. Prepara-se, dividindo a sua comitiva. Um homem luta com ele durante a noite, mudando o seu nome de Yaakov para Israel ao amanhecer. Yaakov envia presentes a Esav para o apaziguar. Esav corre, abraça Yaakov, beija-o e chora. Yaakov rejeita o pedido de Esav para assentarem juntos. Dinah é violentada por Shechem em Shechem. Shimon e Levi matam os homens da cidade. Yaakov chega a Beit El, o lugar do seu sonho da escada, e constrói um altar. Rachel morre ao dar à luz Binyamin. Reuven deita-se com Bilha. Yaakov reencontra-se com Yitzchak. É delineada a linhagem de Esav.
A vida de Yaakov é dura. Esav queria matá-lo; ele fugiu para salvar sua vida. O tempo que passou com Lavan foi de trabalho duro e decepção. Lutou com um anjo. Ao voltar para casa, não se chega a reunir com a sua mãe, Rivka. Evita confronto com Esav. Dina é violentada. A cidade de Shechem é massacrada. A sua querida esposa Rachel morre no parto. E na próxima semana Yosef é vendido. Entendemos bem o comentário de Chazal no início da parashá da próxima semana, de que Yaakov apenas procurava um pouco de paz e sossego.
1ª Aliá (32: 4-13) Yaakov envia mensageiros a Esav. Digam a Esav que o seu servo Yaakov esteve com Lavan. Temos muito gado. Os mensageiros voltam com a informação de que Esav está a aproximar-se com 400 homens. Yaakov tem receio; divide a sua comitiva, assim pelo menos metade sobreviverá. E reza: Embora eu não mereça, Tu prometeste que a minha descendência seria numerosa.
Yaakov não sabe o que esperar de Esav. A última vez que soubemos dele, Esav queria matar Yaakov. Yaakov não sabe se ele ainda quer. Porque há uma lacuna crucial na nossa história. Há muito tempo, quando Yaakov roubou a bênção de Esav, Esav jurou matá-lo. Rivka avisou a Yaakov para este fugir. Mas Rivka também lhe prometeu que lhe enviaria uma mensagem quando o caminho estivesse limpo, quando Esav já não fosse tentar matar Yaakov (27:45). Onde está a sua mãe Rivka? Aquela que o amava? Yaakov nunca recebeu notícias dela, de já ser seguro voltar. Ele obteve a garantia de D’us para voltar, que D’us estaria com ele. Mas será que isso significa que Esav ainda quer matá-lo, mas que D’us estará com ele para o proteger? Ou será que Esav desistiu da sua raiva?
2ª Aliá (32: 14-30) Yaakov prepara presentes do seu gado para Esav com a mensagem: D«o teu servo Yaakov». Um homem luta contra Yaakov durante a noite, ferindo-o na coxa. Ao amanhecer, o homem diz-lhe que o seu nome é agora Yisrael, pois ele lutou contra D’us e o homem e prevaleceu.
Yaakov não sabe se Esav tem uma intenção assassina. Para o caso de a ter, Yaakov tenta apaziguá-lo com presentes. Porque acha ele que presentes de gado com um cartão anexado a dizer «Do teu servo Yaakov», irão esfriar a intenção assassina de Esav?
Esav queria matar Yaakov porque Yaakov lhe tinha roubado a brachá. O que era essa brachá? (27: 28-29) «D’us dar-te-á da gordura da terra, muitos grãos e vinho. E vais governar: o teu irmão curvar-se-á perante ti.» Uma brachá em 3 partes: sucesso agrícola, poder político e domínio sobre o seu irmão. Yaakov está a dizer a Esav para não se preocupar muito com a brachá. Porque nunca se tornou realidade. Não tenho sucesso agrícola nenhum, não tenho poder algum e não tenho domínio nenhum sobre ti. Tudo o que tenho são animais. Não tenho terra. Muito menos a gordura da terra. E quanto ao poder? Fui um trabalhador estrangeiro junto de Lavan. E quem está a curvar-se perante quem? «Do teu servo Yaakov». 3 riscos por cima: sem gordura da terra, sem poder, e o mestre és tu, não eu. Então, não há necessidade de te preocupares com uma brachá que não deu em nada.
3ª Aliá (32: 31-33: 5) Yaakov acorda coxo, daí a proibição de comermos o nervo ciático. Vê Esav. Divide a família. Esav corre até ele, abraça-o, beija-o e chora.
Yaakov deve ter dado um suspiro de alívio. Quando soube que Esav estava a chegar com 400 homens, convenceu-se de que Esav ainda tentava matá-lo — caso contrário, para quê a tropa? E, nunca recebi uma palavra da mãe a dizer-me que Esav não me queria matar. E então Esav correu, abraçou-o, beijou-o e chorou. Que alivio.
O que fez Esav mudar de ideias? Vamos deixar os sapato de Yaakov. E entrar nos de Esav. Rivka nunca enviou uma palavra sobre a mudança no coração de Esav porque não tinha havido essa mudança. Ele tem toda a intenção de matar Yaakov. Trouxe o exército. Mas agora ele mudou de ideias. Porquê? Talvez ele tenha sido convencido por Yaakov de que a bracha tinha sido um fracasso e, portanto, não havia nada com que se preocupar. Mas a Torá parece silenciosa sobre essa mudança crucial. Porque não nos diz porque Esav mudou de ideias, desistiu da sua intenção de matar Yaakov e o abraçou?
Rav Elchanan Samet tem uma sugestão fascinante. A Torá não fica em silêncio sobre a mudança de atitude. Conta-no-la exatamente: Um homem lutou com Yaakov a noite toda. Pela manhã, abençoou Yaakov, porque Yaakov prevaleceu.
Rav Samet sugere que quando o Midrash nos diz que este homem é Saro shel Esav, o equivalente angelical celestial de Esav, está a explicar o fluxo simples da história. É esta história que explica a mudança de opinião de Esav.
Esav, o homem, é guiado por Esav, o anjo, o seu equivalente celestial. Existem 2 mundos paralelos: este mundo e o seu equivalente celestial. Esav, o homem, não sabe porque mudou de ideias. A sua mente foi mudada pelo seu anjo da guarda. Esav, o anjo, tentou lutar contra Yaakov a noite toda sem sucesso. A luta com Yaakov acabou. O sar celestial de Esav, o seu anjo, admite a derrota. O sar abençoa Yaakov. E, portanto, a luta de Esav, o homem, também acabou. O anjo da guarda de Esav mudou de intenção assassina para bênção — assim também Esav, o homem, muda paralelamente de intenção assassina para reconciliação. O Midrash parece ser o pshat. (O meu amigo Rabi Shmuel Goldin apontou que isso é prefigurado no final da parashá da semana passada, pela estadia de Yaakov em «machanaim» , literalmente «acampamento duplo», onde ele encontra anjos. Existem mundos paralelos, o físico e o angelical.
4ª Aliá (33: 6-20) Esav é instado a aceitar os presentes de Yaakov. Esav propõe-lhe viverem em fraternidade. Yaakov opõe-se, enviando Esav à frente, dando-lhe a entender que o alcançará mais tarde. Em vez disso, vai para a terra de Israel. Mora em Sucot e depois em Shechem. Constrói um altar e invoca o nome de D’us.
Embora Yaakov possa ter tentado convencer Esav de que a brachá de Yitzchak não existiu, ele próprio não acredita. Ele vai a Shechem e constrói um altar. Porque não vai ele imediatamente para Beit El? Não fez ele uma promessa, quando teve o sonho da escada, de que voltaria para aquele lugar? E porque não se reuniu imediatamente com a sua mãe e o seu pai? Porque ir para Shechem e não para Beit El ou Chevron? Ele está a seguir os passos de Avraham — literalmente. Avraham viajou de Charan; a primeira paragem na terra de Israel foi Shechem, onde construiu um altar. Yaakov acabou de viajar de Charan para a terra de Israel, parando primeiro em Charan e construindo um altar.
5ª Aliá (34: 1-35: 11) Dina é violentada por Shechem em Shechem. Os irmãos informam que só se aliarão a homens circuncidados. Enquanto os homens estão a recuperar, Shimon e Levi matam-nos a todos. Yaakov fica descontente. Mas eles contrapõem; «Podem eles fazer da nossa irmã uma prostituta?» D’us diz a Yaakov para ir a Beit El e fazer o altar prometido. Ele faz. D’us aparece-lhe e diz-lhe que o nome dele é Yisrael, não Yaakov. E que nações e reis surgirão dele.
A história da violação de Dina é a primeira história da próxima geração. E o comentário retórico dos irmãos será uma ideia para o resto do livro — não o que eles disseram, mas o que sugeriram. «Podem eles fazer da nossa irmã uma prostituta?», ou seja, «E nós, os irmãos, ficamos de braços cruzados?» Não. Nós defendemos os nossos irmãos. Assim começa o resto do livro —irmãos a defenderem irmãos. Ou talvez não.
6ª Aliá (35: 12-36: 19) D’us afirma a promessa da terra a Yaakov. Yaakov constrói altares, viajando para o sul. Rachel morre ao dar à luz Binyamin. Reuven deita-se com Bilha. Yaakov vai para Chevron, para Yitzchak. Yitzchak morre aos 180 anos e é enterrado por Esav e Yaakov.
A introdução para a história dos filhos de Yaakov está a decorrer. Mas tudo continuará sem Rachel, a querida esposa de Yaakov. As mulheres desempenharam um papel dominante até aqui. A morte de Rachel priva Yaakov da sábia voz feminina que Avraham tinha em Sarah e Yitzchak tinha em Rivka. Teria Yosef aquela túnica especial, se Yaakov pudesse ter contado com o conselho de Rachel?
7ª Aliá (36: 20-43) São enumerados os descendentes de Esav: nações e reis.
Tal como ocorreu com Yishmael, é detalhada a família de Esav. Este é o fim da história de quem está no povo judeu e quem fica de fora. O resto da Torá é a história de Yaakov e a sua família, todos eles o povo judeu.