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Aqui ela mostra como fazer autênticas Frituras de Prasa sefarditas-turcas (fritos de alho-francês).
“Deliciosas Frituras de Prasa – Fritos de Alho-francês, tornados ainda mais especiais com cebola dourada, e apenas um toque de batata, farinha de matzá e carne moída! Uma iguaria de alho-francês sefardita-turca que você tem que experimentar!”
Aqui ela mostra como fazer autênticas Borecas sefarditas turcas (pastéis de batata e queijo).
“Se nunca comeu uma autêntica Boreca sefardita turca, vai amar! Esta receita foi transmitida na minha família de geração em geração e é verdadeiramente uma iguaria sefardita turca! Eu vou ensinar como fazê-las exatamente como as minhas avós as faziam na Turquia, com o seu delicioso queijo Kashkaval e recheio de batata, e a sua crosta artesanal folhada. Depois de experimentar uma autêntica Boreca sefardita turca, você ficará viciado para sempre! Como sempre, os utensílios que você vai precisar e os ingredientes exatos com as respetivas medidas precisas estão listadas logo depois da minha introdução no vídeo.” (Vídeo em inglês)
Eles são conhecidos por sua caminhada sabática semanal até o rio, as cerimônias secretas em apartamentos e celebrações do nono dia de Av. Os descendentes da seita Sabbatean “Donmeh”, que se converteu ao Islã no século 17, nas sombras de seu falso messias de Smyrna (Izmir), mas que, no entanto, continuou a praticar os costumes judaicos. Muitos estão se assimilando na sociedade turca. Mas há também aqueles que anseiam retornar ao povo judeu.
Asher Flori quando criança no Kosovo, percebeu que era um pouco diferente do resto de seus colegas. Sua mãe, que havia nascido em uma família que emigrou da Turquia, comportava-se aparentemente como todo mundo, mas dentro de casa, observava outros costumes. Toda sexta-feira acendia velas, cozinhava peixe, e certificava-se de que todos na família se banhavam. Na manhã de sábado, ela ia a pé para a beira do rio, para esperar o “Messias” retornar.
Após uma breve investigação, Flori descobriu que ele era filho de descendentes de judeus shabbetaístas que acreditaram no falso Messias, Shabatai Zevi. Flori começou a investigar o assunto depois que sua mãe faleceu há alguns anos atrás e desde então se aproximou ainda mais do Judaísmo. “Tenho uma esposa e queremos nos casar em uma cerimônia de casamento judaico”, diz ele, entendendo que isso provavelmente irá exigir que ele passe por uma conversão. “Temos um filho de dois anos e um filho de 6 meses, e queremos educá-los de acordo com os valores judaicos.”
A história de Flori não é rara: aparentemente, vários milhares de descendentes de judeus “Sabbatean” vivem hoje, principalmente na Turquia. Mesmo que a maioria destes já não mantêm o estilo de vida único do grupo, que inclui costumes claramente judaicos, estes foram educados neste meio familiar e lembram bem suas experiências “clandestinas”. Muitos deles têm se assimilado na sociedade turca, de forma que o número do grupo está diminuindo, mas existem alguns entre eles que gostaria de voltar totalmente ao judaísmo.
Uma incrível lembrança sobre a existência da seita “dönme”, como são conhecidos, foi encontrada em uma notícia anunciada em 1932 pela agência de notícias judeu-americana, JTA. “Em Istambul há uma comunidade ‘dönme’ de 15.000 membros que acreditam no falso Messias Shabatai Tzvi”. De acordo com o artigo, apesar da aparência turca dos dönme, eles se reúnem em apartamentos secretos, lêem artigos judaicos, e observam costumes judaicos em suas casas. Foi observado também que, “os homens têm dois nomes; um é o nome religioso em hebraico, que mantêm em segredo, e o segundo é em turco. Eles acreditam que o Messias aparecerá no sábado, e, portanto, enviam suas esposas e filhos para a beira do mar para ver se há um navio no horizonte. Os rabinos do dönme estão muito familiarizados com a Bíblia e conhecem o texto judaico místico do Zohar, quase que de memória. ”
Excelência em Cabalá (misticismo judaico)
Shabatai Tzvi foi o caráter messiânico mais importante e influente na história do povo judeu após Jesus. Durante um curto período em 1665 ele arrebatado diversas comunidades judaicas que acreditaram que ele iria redimir a nação de Israel e devolvê-los à sua terra. Como conseqüência da conversão de Shabatai Tzvi ao Islã, após o sultão otomano ameaçá-lo de morte caso não o fizesse, a maioria de seus seguidores, em seguida, abandonaram, decepcionados, o “Messias”.
Mas um pequeno grupo de fortes “Maaminim” (hebraico para “crentes” – os historiadores muitas vezes se referem a eles como shabetaístas ou pelo termo turco “dönme”) se converteram juntos com Shabatai Tzvi, enquanto desenvolviam diferentes ensinamentos cabalísticos sobre o papel místico do messias que existiria, especificamente, através de sua conversão ao Islã e de sua descida à impureza espiritual (“Klipot” – cascas).
Michael Freund, fundador da organização Shavei Israel, está em contato com alguns desses descendentes Sabbatean, bem como com outras tribos perdidas e comunidades judaicas escondidas. Ele descreveu o modo de vida dos dönme como extremamente complexo. “Mesmo que eles, exteriormente, observam as leis do Islã, eles observam os costumes místicos diferentemente de seus vizinhos muçulmanos”, disse ele. “Muitos deles continuam a observar costumes como os feriados judaicos, estudar o Zohar e recitar capítulos dos Salmos, diariamente. Eles observam os “18 mandamentos” de Shabatai Tzvi que foram passados de geração em geração. Entre essas “leis” está a proibição de casar-se fora do grupo”.
Por muitos anos os dönme viveram na cidade grega de Salónica, até que eles foram exilados para a Turquia em 1923, como parte da troca de população entre os dois países, após a Primeira Guerra Mundial. “Isso os salvou do destino que teve os judeus gregos, a maioria dos quais foram assassinados pelos nazistas”, disse Freund. “Apesar de que, mais de 300 anos se passaram desde que os dönme se converteram, os muçulmanos da Turquia ainda olham para eles com desconfiança. A mídia local acusa-os, por vezes, de ser parte da conspiração sionista internacional. Não é à toa que eles decidiram passar para a clandestinidade e levar uma vida dupla, a fim de sobreviver.”
Há alguns anos atrás Freund visitou Istambul e pediu para conhecer a nova geração dos dönme. Um deles, chamado Uri, pediu para não usar seu nome completo, temendo pela sua segurança. Ele concordou em atender Freund por causa de seu desejo de retornar ao judaísmo.
“Eu o conheci no saguão de um pequeno hotel, e ele parecia muito estressado”, descreveu Freund. “Constantemente olhava em volta, com medo de que alguém que o conhecesse o vesse numa reunião com um judeu, que vestia um solidéu de Israel. Ele me disse ‘Estou cansado de me esconder, já agi enganosamente o suficiente. Quero voltar para o meu povo e ser um judeu”. Fiquei surpreso com o nível de conhecimento que ele tinha sobre conceitos cabalísticos, e não estou me referindo ao tipo de Cabalá que a Madonna, e outros de Hollywood, estudam. Falo sobre a real.”
A esperança é tudo o que temos
Uri levou Freund para um passeio ao redor da cidade, e lhe mostrou o cemitério dos dönme, muito diferente do cemitério muçulmano. Desde então, Uri já retornou ao judaísmo nos Estados Unidos, com a assistência de Freund. Quando oferecemos entrevistá-lo, Uri pediu para enviar as perguntas por e-mail para Freund, a fim de proteger sua identidade.
O termo ‘dönme’ é considerado depreciativo (os membros do grupo chamam-se de ‘Maaminim’, ou em Ladino, ‘Los Maaminimas’). Em resposta à nossa primeira pergunta, Uri tentou explicar o mundo no qual ele cresceu. “Os Maaminim consideram-se descendentes dos israelitas e consideram os judeus, heréticos. Quando os judeus estavam no Egito, eles não foram os únicos escravos, mesmo que eram a maioria. Outros escravos também deixaram o Egito junto com eles. Os Maaminim acreditam que por causa da má influência dos judeus, aconteceu o episódio do pecado do Bezerro de Ouro. Os Maaminim acreditam que são a continuação de Moisés, Arão e os filhos da tribo de Levi, estes sim, os verdadeiros judeus.
Os ‘dönme’ celebram o Nove de Av, ao invés de jejuar neste dia, um costume que começou nos tempos de Shabatai Tzvi, baseados na crença de que o Messias já tinha vindo. Em Purim, Uri conta, existem costumes especiais: “os Maaminim colocam um prato vazio na mesa e deixam um quarto com uma cama vazia, no caso de o Messias voltar, pois Purim é um dia em que milagres acontecem. Uma vez por ano, é celebrado um dia especial chamado de “Santo Sábado” que se destina a compensar o resto dos sábados que não podemos cumprir, uma vez que devemos nos parecer como os muçulmanos. Em paralelo, mantivemos o calendário judaico intacto.”
Eles estudam Cabalá e acreditam no seu poder prático. “Me contaram que os rabinos Sabbatean podem mover mesas e cadeiras no ar”, relata Uri. “Para participar da oração, um homem deve se casar com uma mulher “Maaminim”, e é proibido se divorciar. Homens e mulheres participam da oração em conjunto. Todas as cerimônias acontecem em apartamentos especiais cuja localização é mantida em segredo. Neste lugar, ambas as aulas de história e religião são dadas para a juventude”.
Os seguidores de Shabatai Tzvi, afirma Uri, não acreditam que ele realmente se converteu ao Islã. Eles acreditam que ele agiu exteriormente como se fosse um convertido, mas em segredo manteve seu judaísmo. “Os shabetaístas explicam que sua conversão foi ‘uma descida com o propósito de uma ascensão’.”
“Têmos leis diferentes, como, por exemplo, que não é possível se tornar um membro dos Maaminim mas é preciso nascer assim, e vice-versa. Se perguntarem por que você não jejua ou reza junto com os outros muçulmanos, você pode responder que é “uma pessoa secular e segue Ataturk” (fundador da República Turca e o primeiro presidente). “Como você pode ver”, disse Uri, “não têmos nenhuma ligação histórica com os muçulmanos ou com os turcos, e, por outro lado, é razoável supor que os pais dos meus pais construiram pirâmides no Egito, junto com os pais dos seus pais. Por isso, é difícil para mim me definir como um muçulmano ou como um turco. Não temos nada em comum.”
“A maioria dos shabetaístas não tem expectativas de Israel. Voltar para Israel ou para o judaísmo é impossível para eles. Há aqueles que ficam felizes quando alguém dos Maaminim se casa com um judeu ou uma judia, mas eles têm medo de expressar isso. Quando me casei com minha esposa, que é judia, meus pais me disseram que seria uma pessoa exilada e estaria excomungado. Talvez até um tempo atrás eu consideraria isso que um tipo de ameaça, mas hoje isso não me incomoda em nada. Nada mudou na minha vida, e eu ainda estou em contato com a maioria deles. São curiosos para saber sobre tudo aquilo que passei, mas não têm a coragem de perguntar;”
Existe uma chance de você se mudar para Israel no futuro?
“Acredito que sim; esperança é a única coisa que têmos. Michael Freund e a organização Shavei Israel têm me ajudado a voltar para o povo judeu. Estou feliz por ser oficialmente um judeu e sou orgulhoso do que sou. Não tenho vergonha da minha herança Sabbatean, mas eu também não tenho nenhum desejo de passá-la para meu filho. Nós somos a última geração. Mesmo que nos EUA, e, aparentemente, também em Israel, eu sou considerado um judeu, na Turquia eles não me vêem como tal.
“Há uma questão que me incomoda muito”, termina Uri. “Se D’s me perdoe, eu morresse hoje, onde eu seria enterrado? Em Istambul? Não seria no cemitério judeu, e também não seria no cemitério dos Maaminim. Possivelmente seria num cemitério muçulmano. E isso me assusta mais do que a morte.”
Vigilância no cemitério
O Professor Marc David Baer, que atualmente vive na Grã-Bretanha, pesquisou exaustivamente os dönme e até mesmo viveu alguns anos na Turquia para este propósito. Em 2010, ele publicou o primeiro livro que lida com a investigação desta seita particular, intitulado “Os Donme; Judeus convertidos, revolucionários islâmicos e seculares turcos.”
“Dois grupos estão muito interessados nos dönme – os judeus e os anti-semitas”, disse o Prof. Baer. Ao longo dos anos, houveram vários grupos dentro dos dönme. Exisitiram figuras centrais na política turca que vieram de família dönme. Os muçulmanos que apoiaram o sultão Abdul Hamid II, possivelmente foram descendentes dönme. Eles também disseram ser ateus e judeus, pois o sultão protegia os judeus. Os muçulmanos culpam os dönme por derrubar o reinado muçulmano, e há rumores de que Ataturk era dönme. Mesmo Erdogan, o presidente turco atual, em uma série de observações, conectou os dönme à uma conspiração anti-turca. Por vezes, essas teorias se desenvolvem de pequenas semente da verdade. Um dos ministros das Finanças do sultão era um judeu, e ele ajudou a derrubar o sultão. De acordo com os anti-semitas, os judeus controlam o mundo, e eles têm o poder de governar qualquer país.
“Levei 13 anos para escrever o livro”, relata o Prof. Baer sobre o processo desta particular pesquisa. “Passei muito tempo no cemitério em Istambul. Eu poderia estar por aí por horas. Era um pouco assustador, mas quando via uma família chegando perto de um túmulo na seção ‘dönme’, eu os seguia. Eu leio turco otomano e então, me aproximava deles enquanto estavam orando e me apresentava, dizendo: ‘Eu posso ler o que está escrito no túmulo’. Custava apra eles acreditarem em mim, mas quando eu lia para eles, me diziam que eu havia lido corretamente. Entendiam, assim, que eu era útil para eles e, em seguida, a família dizia ‘Temos fotos e documentos, talvez você possa lê-los para nós’. É assim que eu os conheci e aprendi sobre sua cultura.”
“Eu não sei se eles ainda fazem suas orações da mesma maneira que faziam, até as décadas de 30 e 40, do século passado. Na década de 50, estes já começaram a se casar com judeus e muçulmanos. Muitos emigraram para os EUA, para Israel e para a Europa”.
A dualidade e o sigilo foram uma parte inseparável da vida dos dönme. “Eles jejuavam no Ramadã, mas quebravam o jejum cedo para que não fosse considerado que realmente jejuaram. Alguns pesquisadores israelenses divulgaram algumas orações dönme em ladino, e são fascinantes. Em uma rápida olhada, pareceria algo judaico, mas consta muitas vezes o nome ‘Shabatai Tzvi – além de uma combinação de crenças que os judeus não têm. Eles estavam sempre em diálogo com o judaísmo e o islamismo. Deixaram o judaísmo, mas sempre se mantiveram com ele.
“Eles tinham seus próprios feriados, como o aniversário de Shabatai Tzvi ou o dia de sua circuncisão. Celebram um feriado na primavera, onde comem uma refeição com animais, que os judeus e os muçulmanos não comem. Eles também misturam intencionalmente leite e carne. Isso faz parte da percepção Sabbatean das correcções místicas que são alcançadas ao pecar. Eu estive lá no nono dia de Av e eles estavam comemorando. Realizaram realmente uma festa com vários doces”.
De acordo com Baer, a comunidade judaica turca não quer estar em contato com os dönme. “Eles não querem praticamente nenhuma ligação com os judeus. Principalmente, não querem que digam são muçulmanos convertidos, embora seja legal, conforme os dönme são exteriormente identificados como muçulmanos. Se o Estado de Israel reconhecê-los publicamente como judeus, poderia trazer a eles consequências trágicas. Poderia, seriamente, prejudicá-los. Eles querem viver a sua vida em silêncio.”
Este artigo foi publicado originalmente no Makor Rishon Weekend Magazine – 2 de outubro de 2015.
Até o século passado, Turquia era o lar de uma grande comunidade judaica e o centro vivo da cultura ladina, que tem sua origem na Espanha. 500 anos após o grande apogeu, em Istambul sentem tanto a decadência como o temor.
Existem aqueles que descrevem a história judaica como uma escada que se encontra apoiada na terra e sua parte superior chega até o céu. A escada é a analogia do povo judeu, o qual se encontra sempre em uma escada, as vezes sobe um degrau e as vezes desce dois. A existência judaica não é plana e horizontal, mas sim vertical. Outros descrevem a existência judaica como um péndulo de um relógio que não para nem por um minuto, as vezes está em cima e as vezes está em baixo. Parece que tais descrições caracterizam o judaismo turco até os dias de hoje.
No passado, os judeu foram bem recebidos no Império Turco Otomano; porém agora, os judeus vivem no país turco, um país muçulmano-laico, com determinado temor por sua sugurança. Em minha última visita a Turquia vi a grande preocupação com segurança que existe fora das sinagogas, nos edifícios comunitários e nos escritórios do Rabinato. O tema ficou ainda mais delicado após os vários atentados que ocorreram nas sinagogas, entre eles, as duas vezes ocorridas no Beit Kenesset “Neve Shalom”. A situação de segurança me levou ao passado, a época dos anussim de Espanha – de lá chegaram os judeus à Turquia, lugar onde poderiam viver como judeus com liberdade e sem temor.
Os momentos mais importantes da história judeu-turca são, em particular, a chegada dos expulsos de Espanha no século XV, a conversão ao islamismo do falso messias Shabetai Tzvi no século XVII e os atentados as sinagogas no seculo XX.
Nem a chegada dos judeus de Espanha, nem a grande decepção que causou Shabetai Tzvi aos judeus de Turquia e ao mundo judaico, preocupam aos judeus locais, mas já o terceito problema, a segurança pessoal e física, esse sim. Apesar da comunidade viver com seus vizinhos muçulmanos em relativa paz a cerca de 500 anos, hoje em dia não é fácil viver como uma minoria judaica num grande país muçulmano. A comunidade judaica é certamente uma minoria na Turquia de hoje; a população geral, dos quais 99% são muçulmanos, conta com quase 70 milhões de pessoas; a comunidade judaica de todo o país tem menos de 30 mil pessoas.
De onde provêm os judeus da Turquia
Após a expulsão dos judeus de Espanha e Portugal, o Sultão Biazir II publicou um convite formal aos judeus para que viessem viver em seu território, e eles começaram a chegar ao Império em grande número. O Sultão sonhou em transformar o Império Otomano em uma potência internacional e intercultural, e como parte desta tendência se dirigiu aos centenas de milhares de judeus expulsos e lhes sugeriu viver em seu Império e desfrutar de completa liberdade de culto.
O Império Otomano incluía naqueles tempos não somente a Turquia, mas também a Grécia e parte dos Balcãs, como grande parte do Oriente Médio. A oferta do Sultão Biazir, deu nova esperança aos judeus sefaraditas perseguidos. Em 1492 o Sultão ordenou aos dirigentes das províncias do Império Otomano “não negar a entrada aos judeus ou criar dificuldades, mas sim recebê-los com alegría”. Os judeus vieram e na Turquia se estabeleceram principalmente em Istambul, Esmirna e Edirne.
“Vocês chamam a Fernando o rei sábio”, disse o Sultão, “porém, ao expulsar os judeus, condenou sua terra a pobreza e a nossa a riqueza!” Os judeus de fato de desempenharam em distintas tarefas no Império Otomano: os muçulmanos turcos não estavam interesados em empreendimentos comerciais e deixaram o comércio para as minorias religiosas. Tão pouco confiavam nos súbitos cristãos dos países que haviam conquistado fazia tão pouco tempo atrás, e por isso, naturalmente preferiam aos judeus.
Os expulsos de Espanha e Portugal encontraram em Istambul uma grande comunidade de judeus Romagnotes (judeus que viviam no Império Bizantino e que cuidaram seus costumes após a conquista do Império Otomano; de acordo a vários investigadores, estes judeus partiram da terra de Israel após a destruição do Segundo Templo, para a Ásia Menor e os Balcãs), italianos e asquenazitas. A chegada dos sefaraditas mudou a composição da comunidade. Tiveram cuidado em manter uma política da boa vizinhança entre os distintos grupos, porém as diferenças culturais eram tão grandes que não puderam arbitrar entre elas, tendo ocorrido apenas depois de muitos anos. Finalmente, os judeus Romagnotes foram os que se “assimilaram” dentre os judeus que chegaram de Espanha e adquiriram seus costumes.
Ao longo dos anos, os expulsos de Espanha passaram a ser o grupo dominante e determinante na vida cultural, comercial e medicinal do país. Durante 300 anos depois da expulsão, o êxito e a criatividade dos judeus Otomanos na Turquia e no resto dos países do Império estavam a um nível muito parecido ao da Idade de Ouro na Espanha. Quatro cidades otomanas – Istambul, Esmirna, Safed e Salonica – converteram-se nos centros do judaísmo sefaradita.
Uma das maiores inovações que os judeus trouxeram para o Império Otomano foi a imprensa. Em 1493, apenas um ano depois do exílio de Espanha, David e Shemuel Ibn Najmias estabeleceram a primeira máquina impresora hebraica em Istambul.
A cultura do Ladino
Os expulsos de Espanha, cuja língua era o judeu-espanhol, não só levaram consigo sua rica cultura judaica ao Império Otomano, que chegou ao seu apogeu na época de ouro, senão também, o idioma que os acompanhou durante séculos. Os judeus que chegaram a Turquia seguiram preservando sua língua original, parecia ser como uma tentativa de fixar a sua origem judaico-espanhola em pleno Império Otomano. As centenas de anos de estadia na Turquia não foram suficientes ara que os poetas, os escritores, os exegetas e os rabinos adotassem a língua turca; as obras foram escritas e transmitidas de forma completa em ladino.
El origen del ladino se encuentra en el español antiguo y se encuentran integradas palabras y dialectos del hebreo y el arameo. Hay quienes distinguen entre el idioma original en el que hablaban los judíos de España, el judeo-español o el “j’udaismo”, y el Ladino el cual se desarrolló en especial luego de la expulsión de España y se transformó en el idioma oficial de los judíos expulsados de los Balcanes, del imperio Otomano, del Norte de África y de todos lados a donde fueron llevados los expulsados de España.
O ladino foi escrito com letra Rashi ou com letras hebraicas quadradas. As vezes se escrevia o ladino em letras latinas e as vezes em letras redondas o qual era muito aceito em distintas comunidades espanholas.
Lamentavelmente o ladino começa a desaparecer. Os jovens já não o falam, nem tão pouco é uma língua falada. É certo que se está tentando “renovar” o idioma, porém de fato o principal uso da mesma ocorre em obras, no teatro, nas universidades, na liturgia, no folclore e na música.
Os judeus da Turquia conseguiram preservar o idioma durante 500 anos, porém no século XX ocorreu uma grande e dramática mudança. A identidade dos judeus turcos como exilados de Espanha já não é mais preservada com tanto rigor.
Os jovens da comunidade anseiam unir seu futuro com o futuro do país e tornarem-se turcos em todos os sentidos. Está claro que evitam falar o ladino publicamente. É lógico que os motivos de segurança influenciam. Em minha visita a Istambul adorava falar ladino com os anciãos da comunidade e os adultos; eles ainda desfrutam do ladino e se orgulham de poder falar o idioma que os une a seu passado.
Recentemente, numa pequena sinagoga de New Jersey, uma tragédia judaica de mais de três séculos, chegou a um tão esperado fim.
De pé diante de um tribunal rabínico, um “judeu oculto” da Turquia encerrou um ciclo histórico emergindo das sombras do passado e regressando formalmente ao povo judeu.
O jovem em questão, que agora tem o nome hebraico de Ari, é um membro dos “Donmeh”, uma comunidade de milhares de pessoas que são descendentes dos seguidores do falso messias Shabetai Tzvi.
Pode até soar raro, e inclusive exagerado, porém, depois de tantos anos, ainda existem pessoas que acreditam que ele voltará a redimir a Israel.
No século XVII, Tzvi irrompeu em cena no judaísmo, aumentando as esperanças de redenção e eletrizando os judeus em todo o mundo. Dotado de um enorme carisma, percorria várias comunidades judaicas e prometia que a tão esperada liberação do exílio estava ocorrendo.
Porém sua carreira messiânica chegou a um repentino final quando o Sultão otomano lhe determinou que fizesse uma escolha extrema: converter-se ao islamismo ou morrer pela espada. O futuro reclamante do trono do Rei David deixou de lado o heroísmo e se converteu em um mulçumano, junto com 300 famílias que se encontravam entre seus mais fiéis seguidores.
Apesar de aparentemente praticarem o Islam, os Donmeh (também conhecidos como os Maaminim, palavra hebraica que significa “crentes”), no entanto continuavam, em segredo, observando uma forma mística de judaísmo.
Estudiosos como Gershom Scholem, escreveram extensamente sobre os Donmeh, e Marc David Baer, da Universidade de California, publicou recentemente um novo e importante estudo acerca deles.
Até o dia de hoje, alguns destes “shabtainos” preservam diversos costumes judaicos, como a celebração das festas, o estudo do Zohar e, inclusive, recitam porções do livro de Salmos todos os dias. E seguem os “18 Mandamentos” impostos a eles por Shabtai Tzvi, que inclui uma proibição absoluta de casamentos mistos.
Durante muitos anos, concentraram-se na cidade grega de Salonica, até que foram expulsos para a Turquia em 1923/24, como parte dos intercâmbios populacionais entre os dois países. Este capítulo doloroso de sua história resultou ser uma benção disfarçada, porque os salvou da má sorte que tiveram os judeus da Grécia, onde a maioria deles foram assassinados pelos nazistas.
Porém, apesar da conversão dos Donmeh ao islamismo e o transcurso de mais de 300 anos, ainda são vistos com receio pelos muçulmanos turcos, e são alvos frequentes da imprensa do país, que os acusa de ser parte de uma conspiração sionista internacional.
Assim que não nos surpreende que os Donmeh se encolheram e essencialmente, passaram a clandestinidade, levando, na realidade, uma vida dupla para sobreviver. Mesmo que muitos deles tenham se assimilado na sociedade turca, milhares ainda vivem em cidades importantes como Istambul e Esmirna.
Há cerca de dois anos, em uma visita a Istambul, reuni-me com alguns membros da geração mais jovem dos Donmeh, incluindo Ari. Devido ao atual estado das relações diplomáticas turco-israelenses, não posso divulgar detalhes sobre eles para não identificá-los, apenas dizer que todos expressaram uma profunda vontade de retornar ao judaísmo.
Quando os conheci no lobby de um pequeno hotel, Ari, em particular, parecia especialmenete nervoso. Ficava constantemente observando o lugar, a princípio parecia ter medo de ser visto com um judeu de Israel que usava uma kipá.
Contou-me sobre os maus tratos que suportaram os Donmeh nos meios de comunicação turcos, e disse: “Estou cansado de ocultar-me e estou cansado de fingir. Quer ser um judeu, quero voltar ao meu povo”.
Quando o sondei a respeito de seus conhecimentos judaicos, me surpreendeu ver o quanto era versado sobre vários conceitos cabalísticos. E não me refiro a pseudo Cabala praticada por Madonna e outros em Hollywood, mas sim a real Cabala.
Mais tarde, Ari me levou para dar uma volta na cidade, mostrou-me o cemitério Donmeh e outros lugares fundamentais para a vida oculta da comunidade. Com uma evidente sensação de frustração, explicou que a comunidade judaica da Turquia não se aproximava da questão Donmeh, temerosa da reação que isto poderia provocar.
“Estou prisioneiro entre dois mundos”, disse. “Os turcos me veem como um judeu, porém os judeus não me aceitam”.
Porém, tudo isso mudou há algumas semanas, quando Ari deu o valente passo de viajar ao Estados Unidos para submeter-se ao retorno ao judaísmo. Depois que os rabinos examinaram seu caso, levando em conta o fato de que seus antepassados haviam se casado exclusivamente entre eles, deram as boas vindas a Ari de volta ao seu povo.
Falando comigo pouco depois, Ari não pode conter suas emoções: “É um milagre, agora sou um judeu ‘oficial’, depois de todos estes anos!” No sábado seguinte, foi honrado numa sinagoga em Nova Yorque com a mitzvá de carrager a Torá diante da congregação. Abraçou o Sefer com força e amorosamente em seus braços, carregando-o como a um bebe recém nascido, enquanto lágrimas de alegria e alívio corriam por sua face.
Ari não é o único. Existem muitos outros jovens Donmeh que também tentam encontrar seu caminho de regersso, e o povo judeu tem que ajudá-los. Independentemente dos erros que seus antepassados tenham cometido, os Donmeh de hoje se agarraram a sua herança judaica e a mantiveram viva. Àqueles que desejam recuperar suas raízes temos o dever de possibilitar que o façam.
Bem vindo novamente ao nosso povo, Ari, e que teu retorno abra o caminho para outros Donmeh.