FINALMENTE CHEGOU O SIDUR CATALUNYA

Após quase três anos de pesquisa, o Dr. Idan Pérez editou e publicou o Sidur Catalunya. Este livro de orações é baseado em seis manuscritos dos séculos XIV a XVI e constitui a recuperação do antigo Nussach Catalunya, a prática específica das orações judaicas usadas pelos judeus da Catalunha, Valência e Maiorca durante a Idade Média (na época conhecida como o período dos Rishonim). O sidur também inclui comentários, leis e tradições que foram compilados por um discípulo de Rabbenu Yona Girondi no século XIV no Bet Midrash (sala de estudos) de Barcelona.

O autor fala-nos sobre a origem do livro de orações e a evolução dos diferentes nussachim conhecidos hoje. O autor também detalha a pesquisa realizada, incluindo a descrição dos manuscritos usados ​​como base do livro de orações, bem como uma lista de características que definem o Nussach Catalunya, e uma lista dos poemas litúrgicos incluídos no Sidur .

Um dos capítulos da introdução trata da representação gráfica do Nome de De’s, que é representado no Sidur Catalunya por um símbolo especial, conforme representado nos manuscritos medievais. Também inclui uma lista de estudiosos da Torá que são mencionados no comentário, de Sura, Pumbedita, Qairouan, chachmei Catalunya, França, Provença e Sefarad. O autor conclui a introdução com um estudo histórico dos judeus da Catalunha, que vai desde a sua chegada à Península Ibérica, passando pelo florescimento dos centros de Torá de Barcelona e Girona, e seguindo depois as pegadas das diferentes diásporas das comunidades judaicas que fugiram da Catalunha após os motins de 1391 e a expulsão de 1492.

O estudo concentra-se principalmente nas comunidades judaicas catalãs da Itália, Império Otomano e Norte da África (Argélia). Estão incluídas fotografias dos manuscritos e diferentes edições do Machzor le-Yamim Noraim que foram publicadas em Salônica sob o nome de Machzor le-nussach Barcelona minhag Catalunya, e um mapa da Catalunha.

Descrição do Sidur:

siddur inclui as orações para os dias da semana, Shabat, festas, Hagadá de PessachAzharot para ShavuotHoshanot para Sucot e Yom Aravah (Hoshanah Rabbah), jejuns, Yamim Noraimtefillot e berachot para diferentes eventos da vida, pedidos e halachot para as festas, etc.

Há uma série de baqashot (pedidos) de grande importância, compostos por chachmei Catalunya, publicados pela primeira vez, incluindo um pelo Rabino Moshe ben Nachman (Ramban), um pelo Rabino Shlomo ben Adret (Rashba) e um pelo Rabbenu Zerachya ha-Levi.

Número de páginas: 850

Data da Publicação: 2019

Título da Pubicação: סידור קטלוניא: כמנהג ק”ק קטלוניא

ISBN: 978-965-572-685-5

Para comprar o Sidur:

Sobre o autor:

Idan Perez nasceu em Barcelona, ​​Espanha. Fez aliá em 2004 e ele fez seu doutorado em manuscritos hebraicos medievais, especificamente da comunidade judaica de Maiorca no século XIV.

Entre em contato com Idan Perez: sidurcatalunya@gmail.com

Shavei Israel manda livros para o Brasil!

O Museu Judaico do Rio de Janeiro é conhecido por sua coleção de 69 Menorot e objetos rituais judaicos desenhados pelo artista, nascido na Rússia e residente do Rio Janeiro, Joseph Feldman. O pequeno museu – o único no Brasil até o novo museu em São Paulo ter sido inaugurado este ano – tem sido uma parada obrigatória para turistas judeus e moradores locais (o Rio tem uma população judaica de 30.000 residentes, de um total de 95.000 em todo o país).

Mas a equipe do museu não soube como reagir quando perguntamos sobre a comunidade de Bnei Anussim do Brasil.

Os Bnei Anousim (ou marranos) chegaram ao Brasil provenientes de Portugal há cerca de 500 anos atrás, fugindo do longo braço da Inquisição. Eles se estabeleceram na cidade do Recife, participando do Kahal Zur, a sinagoga mais antiga das Américas, em 1636.

Hoje existem pelo menos 30 diferentes comunidades Bnei Anussim espalhadas por todo o Brasil, umas com apenas algumas dezenas de membros, outras com várias centenas. Existem sinagogas improvisadas ​​e Mikvês (banhos rituais). O número de brasileiros com raízes judaicas escondidas poderia chegar a cerca de 40 por cento da população brasileira.

Mas o Museu Judaico no Rio documenta, principalmente, a história judaica mais recente, a partir do início do século 20. Os visitantes que querem saber mais sobre o passado dos Bnei Anussim do Brasil – ou mesmo Bnei Anussim brasileiros que questionam sua própria herança judaica – deixavam o museu sem uma resposta satisfatória.

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“Você tem raízes judaicas?” – em português

Os funcionários do museu contataram a Shavei Israel no início deste ano. Haviam escutado sobre o livro da Shavei Israel “Você tem raízes judaicas?”, agora disponível em Português, assim como o original em espanhol. Pediram então algumas cópias para o museu.

Enviamos 6 livros para que tenham em mão e possam compartilhar com os visitantes.

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Sidur de Shabat em Português

“Você tem raízes judaicas?” não foi o único material impresso que viajou de Israel para o Brasil este ano. Os membros da comunidade Bnei Anussim Beit Shorashim em Natal, a capital litorânea do estado brasileiro Rio Grande do Norte, no nordeste do país, pediram algumas cópias do Sidur (livro de orações) em português da Shavei Israel.

Verificamos e descobrimos que estávamos quase sem estoque –
possuíamos somente dois dos nossos Sidurim de Shabat, dos quais devidamente despachamos. Mas isso não é suficiente para os 150 Bnei Anussim de Natal.

Gostaríamos de enviar mais Sidurim para Natal e outras comunidades de Bnei Anussim no Brasil. Por favor, ajude-nos a produzir uma nova leva de Sidurim. Caso tenha interesse em ajudar, mande um e-mail para spanish@shavei.org.

Uma versão eBook do livro Você tem raízes judaicas?” pode ser baixada gratuitamente neste link.

Em breve: uma nova livraria interativa no site da Shavei Israel, onde será possível encontrar todas as nossas publicações.

O Sidur Catalão dos Judeus Convertidos

Podemos dizer, sem medo de errar, que todas as orações feitas nas sinagogas catalãs durante o século XV, à época da expulsão, foram apenas em hebraico, assim como o estudo da Torá e do Talmud.

Igualmente claro que os judeus que viviam nessas terras falavam catalão em suas casas e com os seus parceiros, bem como com os gentios das cidades que viviam (assim como aqueles que viviam em Castilla falavam o castelhano). Este não falavam um “catalojudaico” ou um “judaicolhano”, simplesmente falavam ‘catalão’ e ‘castelhano’. Claro que haviam palavras e expressões hebraicas intercaladas, mas não acho que estas possam ser suficientes para considerar a língua praticada pelos judeus nestes tempos, uma língua em separado.

Também podemos garantir que, as mulheres que queriam rezar, e eu não tenho certeza que o faziam regularmente, que o faziam em uma língua vernácula, ou seja, em Catalão.

Sidur Catalão por fora
Sidur Catalão por fora

Assim também, como resultado dos massacres anti-semitas de 1391, milhares de judeus foram forçados a se converter ao cristianismo, e proibidos de frequentas as sinagogas sem correr grave risco de vida, este continuaram a orar na privacidade de suas próprias casas. Portanto, não é de se estranhar que estes, sozinhos, já não eram capazes de fazê-lo numa língua que desconheciam e não tiveram escolha a não ser, traduzir os trechos para catalão, assim como os judeus de Castela o fizeram para o castelhano.

Como prova disso, vemos o chamado, ‘sidur catalão’. E cito aqui a notícia do “Diário de Barcelona” do dia 20 de abril de 1848, citado na “Apresentação da edição do sidur mencionado na Academia Real de Belas Artes de Sant Jordi”. Segue a notícia (deixei alguns erros de ortografia, especialmente em razão da mudança do ‘x’ pelo ‘s’):

Na casa dos senhores Soler e Freginals, que seguem pelo Call, houve uma descoberta notável, que recorda o antigo destino desta parte da cidade. Dentro de um muro encontrou-se três livros manuscritos em tal condição que parecem recém-saídos das mãos daqueles que os utilizaram, mas todos pertencem ao século XV.

Este que, pelo caráter da letra, parece mais antigo é um pequeno códice em 16.º de um precioso e fino pergaminho, escrito com grande regularidade e limpeza. Contém vários salmos de David e algumas orações judaicas, tudo em Catalão, muito cuidado e gerenciado, para rezar em dias diferentes da semana dos hebreus.

Outra códice de tamanho 8º, menor, embora escrito em papel, compete com o primeiro em limpeza e vence todos na boa conservação. Vendo a limpeza de suas folhas grossas, a pele reluzente de suas capas usadas em partes por fricção, e a cor amarela da extremidade de suas folhas em intervalos sem brilho, diria que se sabe onde o hebreu colocou seus dedos. É composto por 247 páginas: Da segundo a quinta contém uma lista de todos os meses do ano judaico, com a explicação das principais festas; da 6º a 10º, o índice, 17-226 orações para as festas e para diferentes momentos e atos diários; 226-235 bênçãos de antes e após as refeições e de antes de dormir, e para a Páscoa e para os sábados; 235-238 uma oração chamada “Pittum aquettoret, el qual dientlo ab gran devocio val contra pestilencia e qui no pronuncia els mots distintament pecca mortalment”. A esta acima fornece uma explicação dos aromas e outros materiais usados para o incenso. Da 238 a 242 há uma bela tradução do Salmo 103, 242-243 contém uma oração ‘per aquant se veu la luna nova’ . Do 243-245 os treze artigos da ‘Ley de escriptura els cuals els hebreus tenen en orde dirlos cascuna nit en lo llit’ (são a sua profissão de fé), e termina com o codex com os sete preceitos da lei natural e os dez da lei escrita e uma oração para rezar quando entrar em qualquer cidade ou aldeia. O catalão deste belo codex contêm frases bastante antigas e conserva restos de Provence, pelo menos alguns de seus ditongos e terminações verbais são encontrados somente na idade mais antiga desta linguagem. Na parte de trás da tampa traseira lê-se: ‘Penyora dabramet jueu de Caller per nolit per… fflori dor’.

O terceiro códice, menos notável pela sua parte material, em 4º maior, pertencia a um comerciante cristão chamado Bartolomé Rodríguez, sem dúvida, situado em Valência, já que nesta data a cidade se encontra a maioria dos itens nele listados. É provável que tenha sido um judeu Converso pois, com excessão das folhas que contêm suas notas e dados de carga, todas as outras são de estudos do Antigo Testamento, consulta a frades e médicos, especialmente em relação ao povo judeu e a vinda do Messias e da divindade de Jesus Cristo. Mesmo no meio destas anotações religiosas Rodriguez intercala uma lista de itens insignificantes para empréstimo comparando com as qualidades características destas pessoas infelizes. O livro foi iniciado em julho 1468 e concluído em 1470. O pobre dono teve o cuidado de anotar quem de villadiego recebeu cada montante, uma prova de nossa suposição anterior. Pelos diferentes itens anotados, vê-se que ele possuía uma caravela e tinha parte em outro navio (balener), que viajou por Mallorca, Sardenha e Nápoles além de ter tido relações com pessoas de diferentes países e classes. O resto do manuscrito, exceto a notícia de um filho nascido e batizado em 1478, apenas contém os extratos das Escrituras por meio de notas de estudo ou lembretes.

Não é explanação dizer algumas coisas sobre a conjetura tocante a origem desses códices. Sabemos que a Call se reunia na Sinagoga dos judeus de Barcelona, e que, em 5 de agosto de 1391 esta sinagoga virou palco de saco e faca, ao mesmo tempo que outras da Coroa de Aragão, entre elas a de Valência, foi a que menos sofreu, já que seus hebreus receberam o santo batismo. Os resultados das conferências e debates realizados em Tortosa do 7 de fevereiro de 1413 a 12 novembro de 1414 frente ao Papa Bento XIII, resultou na derrota dos rabinos, a partir do decreto que proibia ler e escutar o Talmud e assim, mandou recolher todas suas cópias. Quanto a expulsão dos judeus pelos reis católicos, Valencia foi uma das cidades que viu mais deles partir, enquanto que o decreto apenas deixou uma impressão em Barcelona, praça frequentada por todos os tipos de pessoas e classes. Será que o proprietário desses códices veio se estabelecer em Barcelona e buscar uma segurança aqui, segurança esta que o seu reino não podia oferecer? Foi o medo da Inquisição e a necessidade de deixar também Barcelona o que o forçou a deixar seus livros na parede e ir embora, mesmo que já convertido?

Eu poderia acrescentar, depois de acompanhar as orações da sidur, que, quem o traduziu sabia perfeitamente tanto o idioma hebreu, que são as orações originais, assim como o idioma para que foi traduzido, o catalão.

Certamente eles deveriam ter um sidur em hebraico diante de seus olhos, para evitar erros, ou conheciam as orações de cor. Mas isso não impede que vários erros, trocas de palavras ou expressões apareçam em seu magnífico trabalho. Instruções sobre o uso do sidur: “no sábado vá a ‘E se Alegrou Moshé’, em tal em tal # na página 125”. Ou mesmo anotações e gráficos fora da página, para assim, mais facilmente, encontrar a referência.

As orações não podem ser consideradas Ashkenazitas, poderia chamá-las de Sefaraditas, mas não se trata do rito Sefaradita que conhecemos hoje, com muitas mudanças, além dos textos adicionados, muito mais tarde ao sidur convencional.

Em suma, é uma verdadeira pérola cultural, quer no estudo das orações no século XV, como no estudo da língua catalã, destes dias, como também as traduções de algumas passagens que eu vejo com um enorme interesse. Eu acho apropriado dedicar a devida atenção ao seu estudo e até mesmo ‘re-traduzir ” para o hebraico para assim, encontrar mais facilmente as discrepâncias, as mudanças no ‘núsach’ (costume) e tudo o que foi adicionado ou suprimido durante os últimos 600 anos da história judaica!

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