Shavuot 5783

Shavuot 5783

Por: Rav Yehoshua Ellis

Shavuot é uma festa estranha. Em Shavuot celebramos que D’us deu a Torá aos Filhos de Israel, mas a Torá escrita foi-nos dada apenas um pouco antes da morte de Moshe; a Torá Oral ainda está a ser revelada. Além disso, a Torá nunca faz realmente uma ligação entre Shavuot e a entrega da Torá. Shavuot tem três nomes na Torá: Festa das Semanas, Festa das Colheitas e Festa dos Primeiros Frutos. Nenhum destes nomes se refere à Torá. Porque estabelecemos então  essa ligação?

A primeira e mais óbvia resposta é que fizemos as contas. A Torá diz que os Filhos de Israel chegaram ao deserto do Sinai no terceiro mês após deixarem o Egito. A nossa tradição diz-nos que sempre a Torá diz «o mês», significa no primeiro dia do mês, o que quer dizer que o povo de Israel chegou ao Sinai no primeiro dia do mês de Sivan e se encontrou com D’us cinco dias depois, no dia 6 de Sivan. O dia 6 de Sivan é o dia a que chegamos quando contamos cinquenta dias a partir do segundo dia de Pesach, conforme a Torá nos instrui sobre a celebração de Shavuot.

Como os nomes de Shavuot conectam a festa à Torá? Chag Shavuot significa Festa das Semanas, porque somos instruídos a contar sete semanas e, no dia seguinte, o quinquagésimo dia, é Shavout. Cinquenta são os cinco livros da Torá multiplicados pelos Dez Mandamentos.

Quanto ao nome Chag Habikkurim, Festa dos Primeiros Frutos, Shavuot inicia o processo dos Filhos de Israel trazerem a sua primeira oferenda de frutas ao Templo em Jerusalém. O Midrash explica que Bikkurim é uma referência à Torá, que também é referida como «a primeira»

O nome final que a Torá dá a Shavuot é Chag Hakatzir, Festa da Colheita. A colheita do trigo é uma etapa importante no processo de produção do pão. Enche-nos de alegria e representa um marco importante no processo de produção anual. No entanto, não produz nada de uso físico real para as pessoas. Ainda vão ter que ser investidos muito esforço e recursos antes de o produto final poder ser apreciado. Do mesmo modo, a aprendizagem da Torá é uma parte importante das nossas vidas que nos produz grande alegria, mas sem a aplicar ao mundo físico falta-nos o produto final para o qual foi planejada, um mundo cheio de bondade, amor, justiça e pureza.

As conexões entre a data e os nomes de Shavuot e a entrega da Torá agora estão claras, mas porque celebramos a entrega da Torá se a Torá não nos foi toda entregue em Shavuot? A Torá nunca é simplesmente entregue; tem sempre que ser adquirida através de muito esforço e amor. A Torá nunca é totalmente transmitida, há sempre mais a aprender.

Finalmente, no Monte Sinai, em Shavuot, toda a Nação de Israel ouviu a voz de D’us e esta é a própria essência da Torá, a sabedoria que permite que toda a Nação de Israel ouça a voz de D’us.

Que todos possamos merecer ouvir a voz suave que sempre nos chama do Sinai!

Chag Sameach e Shabat Shalom,

Yehoshua

Acolher o converso em Shavuot

Acolher o converso em Shavuot

Em Shavuot, é costume ler o livro de Rute. Nesse livro, Rute diz a Naomi (1:16): «Onde fores, eu irei, e onde ficares, eu ficarei. O teu povo será o meu povo e o teu De’s, o meu De’s.» Em Shavuot, quando celebramos o recebimento da Torá, incluímos aqueles que a receberam no Sinai e, especialmente, aqueles que, como Rute, escolheram receber a Torá. Em Shavuot, sentimos que é o momento perfeito para celebrar o feito daqueles que se convertem ao judaísmo. Escolhemos um movimento específico que está em alta em todo o mundo, mas especialmente na América Latina.

Hoje, os descendentes dos Conversos da era da Inquisição, de Espanha, Portugal, América do Sul, e outras regiões, estão a passar por um profundo processo de retorno às suas origens judaicas. Esses «Bnei Anussim» estão a reivindicar o seu direito histórico de retornar às suas raízes e ao seio do povo judeu.

Quando as portas do «Novo Mundo» se abriram para os Bnei Anousim, o novo continente era, desde o século XV, um destino mágico e tentador, como uma terra onde havia grandes oportunidades para melhorar o nível de vida. Além disso, o Novo Mundo era visto como um ambiente relativamente liberal, que aceitaria e permitiria o retorno a uma vida judaica aberta e plena, ao contrário de Espanha e Portugal, onde dominava a Inquisição.

Ao longo de várias gerações, esses refugiados participaram  do assentamento e desenvolvimento do Brasil e de outros países, ocupando cargos importantes em todos os campos. Os longos braços da Inquisição acabaram por chegar também às novas colónias, mas esse facto não impediu que os cristãos novos continuassem a manter secretamente a tradição dos seus antepassados. Muitas famílias mantiveram costumes e tradições judaicas ocultas, juntamente com uma forte identidade judaica. Essa grande herança foi transmitida de geração em geração, até aos nossos dias.

Hoje há uma tendência de comunidades «emergentes» compostas principalmente por conversos, principalmente na América do Sul e Central, designadamente na Colômbia. Um grande número desses conversos é de origem judaica, que remonta aos dias sombrios da Inquisição. Muitos re-descobriram as suas raízes judaicas e tradições ocultas que o seus avós tinham escondido, temendo perseguição, e embarcaram numa jornada de regresso ao judaísmo.

Nessas comunidades, como noutras comunidades judaicas ao redor do mundo, a sinagoga é o centro da vida judaica. É uma casa de oração, muitas vezes tem uma mikve, uma escola e/ou aulas, e às vezes até alojamentos, para permitir que os membros que moram demasiado longe para poderem chegar a pé possam ficar na sinagoga no Shabat.

No entanto, na maioria das vezes, essas comunidades são totalmente separadas das comunidades judaicas já existentes e têm grandes desafios ao criar comunidades literalmente do zero.

Hoje existem centenas dessas comunidades emergentes e a Shavei Israel está em contato com cerca de 50 delas que se alinham com o judaísmo ortodoxo, como a Beit Hillel em Bogotá, Colômbia, Antiochia, em Medellín, Colômbia, Magen Avraham em Cali, Colômbia, Shemaya e Avtalyon em Arménia, El Salvador, Sha’ar Hashamayim na Guatemala, Associação Judaica em Ambato, Equador, Beit Israel em Lima, Peru, Beit Moshe na Cidade do México, e muitas mais.

Que a comunidade judaica mundial continue a merecer ser aumentada por pessoas que abraçam as nossas tradições, os nossos rituais e o nosso povo.

 

PÃO DOS SETE CÉUS: UMA TRADIÇÃO SEFARDITA PARA SHAVUOT

PÃO DOS SETE CÉUS: UMA TRADIÇÃO SEFARDITA PARA SHAVUOT

Por Ronit Treatman

Quando os judeus deixaram a Península Ibérica após a promulgação do Decreto de Alhambra, levaram consigo a sua língua, tradições e cultura. O Pão dos Sete Céus era um tipo especial de chalá simbólica para Tikkun Leil Shavuot, a sessão de estudo de Shavuot durante toda a noite.

Essa tradição quase desapareceu durante o Holocausto, quando 96% da população judaica sefardita de Salónica foi morta. Este ano, preserve a tradição e a memória daquela comunidade fazendo o seu próprio Pão dos Siete Cielos.

Os primeiros sefarditas chegaram a Salónica, cidade do Império Otomano, em 1492, vindos de Maiorca. Eram “arrependidos”, que tinham voltado ao judaísmo após a conversão forçada ao catolicismo. Nos anos seguintes, juntaram-se-lhes judeus de Castela, Sicília, Aragão, Nápoles, Veneza, Provença e Portugal. Em 1613, os judeus compunham 68% da população.

Thessaloniki é o único exemplo conhecido de uma cidade desse tamanho na diáspora judaica que manteve uma maioria judaica durante séculos. Essa comunidade influenciou o mundo sefardita, tanto cultural quanto economicamente, e a cidade foi apelidada de A Mãe de Israel.

Uma das tradições que trouxeram da Península Ibérica foi uma chalá láctea feita especialmente para Shavuot. O Pan de Siete Cielos provavelmente recebeu o nome da antiga expressão “estar nos sete céus”. Este pão festivo foi feito pela primeira vez no início do século VIII, período conhecido como “a coexistência”.

A coexistência foi uma época de ouro para os judeus espanhóis, uma época em que judeus, cristãos e muçulmanos conviviam em paz, tornando a Península Ibérica um centro de inovação e intercâmbio cultural.

Os judeus sefarditas provavelmente foram inspirados pelas Monas de Pascua dos seus vizinhos cristãos. Eles começaram a fazer o pão dos sete céus para Shavuot, um dos poucos feriados em que é costume comer laticínios.

Alguns historiadores especulam que as Monas de Pascua e o Pan de Siete Cielos foram reinventados no Novo Mundo como Pan de Muerto. Quando os conquistadores (muitos deles convertidos) chegaram, encontraram uma cultura de sacrifícios humanos. Ficaram tão horrorizados que substituíram essa tradição pelo cozimento de um tipo de chalá doce, redondo, com símbolos esculpidos.

Para fazer o Pan de Siete Cielos é preparada uma massa de chalá rica e leitosa. São esculpidos na chalá símbolos da entrega da Torá no Monte Sinai. Primeiro, forma-se uma chalá redonda para representar o Monte Sinai.  Enrolam-se e pressionam-se em volta da chalá redonda sete pedaços de massa, formando um anel ao redor dela. Esses pedaços representam os sete céus. São então esculpidos e pressionados contra as nuvens símbolos da história de Shavuot.

Cada família tem as suas próprias tradições, mas alguns símbolos comuns são a Torá, a escada de Jacob, o poço de Miriam, a Estrela de David, a Hamsa ou as tábuas dos Dez Mandamentos. Depois de a chalá estar cozida, espalha-se mel por cima e polvilha-se com sementes de gergelim [sésamo]. Como uma avó explicou: “A Torá é tão doce quanto o maná para aqueles que se alimentam dela”.

Pão dos Sete Céus

Adaptado do livro de receitas Cookbook of the Jews of Greece (Livro de Receitas dos Judeus da Grécia), de Nicholas Starvroulakis
Ingredientes:
• 8 xícaras de farinha• 1⁄2 xícara de leite• 2 xícaras de água morna• 5 ovos• 2 colheres de chá de fermento biológico (fermento de padeiro) seco• 2 xícaras de açúcar• 3/8 xícara de manteiga derretida• 1 colher de chá de extrato de anis ou Arak• Mel e sementes de gergelim [sésamo] torrado
Instruções:
1. Despeje a água morna num recipiente grande.
2. Adicione o açúcar e o fermento.
3. Misture bem e espere até a mistura espumar, cerca de 10 minutos.
4. Numa tigela separada, coloque 3 xícaras de farinha.
5. Faça um buraco no centro da farinha.
6. Despeje a mistura de fermento neste buraco.
7. Comece a misturar a farinha até obter uma massa leve.
8. Cubra a tigela com um pano de prato limpo e deixe a massa descansar durante cerca de 45 minutos.
9. Abra a tigela e adicione os ovos, o leite, a manteiga e o extrato de anis ou o Arak.
10. Amasse e vá acrescentando mais farinha na massa até esta ficar elástica. Pode ser menos de 8 xícaras para atingir a textura desejada.
11. Cubra a tigela com um pano de prato limpo e deixe a massa crescer até dobrar de tamanho, cerca de 2 horas.
12. Quando a massa estiver levedada, pode esculpir seu Pão dos Sete Céus.
13. Primeiro, corte um pedaço de massa e enrole-o formando uma bola. Este será o Monte Sinai e será colocado no centro. Coloque-o numa assadeira grande forrada com papel manteiga [papel vegetal de cozinha].
14. Corte 7 pedaços de massa e abra-os com as mãos para formar cordas.
15. Enrole-os em volta da bola de massa. Estas são as 7 nuvens.
16. Em seguida, esculpa os símbolos de Shavuot à sua escolha e pressione-os contra as nuvens. Faça os símbolos que tiverem mais significado para si.
17. Cubra o pão com um pano de prato limpo e húmido.
18. Deixe a massa dobrar de tamanho.
19. Retire a toalha e pincele o pão com ovo batido (gemas batidas com um pouco de água).
20. Pré-aqueça o forno a 350 graus Fahrenheit (175 graus Celsius).
21. Coloque o pão no forno.
22. Coza durante cerca de 30 minutos, ou até que o pão esteja dourado e o fundo do pão soe oco ao bater.
AS COMUNIDADES DA SHAVEI ISRAEL CELEBRAM SHAVUOT

AS COMUNIDADES DA SHAVEI ISRAEL CELEBRAM SHAVUOT

Esta semana, os judeus de todo o mundo celebraram Shavuot, uma das shalosh regalim (as três festas de peregrinação), que comemora a revelação da Torá ao povo judeu.

As comunidades da Shavei Israel dos locais mais distantes do mundo partilharam as suas fotografias a estudar Torá, a preparar deliciosos pratos lácteos e a decorar as sinagogas e centros comunitários com guirlandas de flores, de acordo com as tradições de Shavuot.

continue lendo