Trazer para casa uma das tribus perdidas? Uma entrevista com Michael Freund, fundador da Shavei Israel

Tradução do artigo publicado a 10 de Setembro de 2020 no website Jewish Press

A ministra israelita da Aliá e Integração, Penina Tamanu-Shata, disse a Michael Freund numa reunião recente que está a avançar com os planos para que outros 722 membros da comunidade Bnei Menashe do nordeste da Índia se mudem para Israel.

Nas últimas duas décadas, Freund – fundador e presidente da Shavei Israel – tem estado na vanguarda dos esforços para ajudar os Bnei Menashe, que afirmam ser descendentes de uma das Dez Tribos Perdidas, a retornar ao povo judeu. Na verdade, graças em grande parte aos esforços da Shavei Israel, mais de 4.000 Bnei Menashe estão agora vivendo em Israel.

Freund, que cresceu em Nova York, é formado pela Princeton University, tem um MBA da Columbia University e é coautor de dois livros.

The Jewish Press: Quem são exatamente os Bnei Menashe?

Michael Freund: Os Bnei Menashe são descendentes da tribo de Menashe, uma das Dez Tribos Perdidas que foram exiladas da Terra de Israel há mais de 27 séculos pelo Império Assírio. Residem atualmente na parte nordeste da Índia, principalmente no estado de Mizoram e Manipur, ao longo das fronteiras com a Birmânia e o Bangladesh.

Apesar de terem vagado no exílio durante tanto tempo, nunca se esqueceram de quem eram ou de onde vieram, e nunca se esqueceram de para onde um dia esperavam voltar: Sião. Incrivelmente, apesar de estarem separados do resto do povo de Israel durante tantas gerações, eles apegaram-se à sua identidade, continuaram a praticar o judaísmo e nunca perderam a fé de que acabariam por se reunir com o resto do povo judeu.

Quantos Bnei Menashe existem e que tipo de judaísmo praticam?

Até agora, fomos abençoados em ter traziso mais de 4.000 Bnei Menashe em aliá para Israel, e ainda há outros 6.500 na Índia à espera para vir. Os Bnei Menashe estão espalhados por mais de 50 comunidades em todo o nordeste da Índia, cada uma com a sua própria sinagoga.

Durante séculos, eles praticaram uma forma bíblica de judaísmo, guardando o Shabat, comendo casher, celebrando os festivais e seguindo as leis de pureza familiar. Quando foram descobertos pelos britânicos, há mais de um século, ainda realizavam os rituais dos sacrifícios.

Curiosamente, não conheciam Purim ou Chanucá, festas que comemoram eventos ocorridos séculos depois de os seus antepassados terem sido exilados. Na década de 1980, quando pela primeira vez estabeleceram contato com o falecido Rabino Eliyahu Avichail, de Jerusalém, adotaram o Judaísmo Ortodoxo contemporâneo, que praticam fielmente até hoje.

Visitei as suas comunidades na Índia inúmeras vezes e é realmente uma visão extraordinária. Todos os homens usam yarmulkes e muitos têm tsitsit pendurados por baixo das camisas, e as mulheres vestem-se com recato.

Como é que você se envolveu com os Bnei Menashe?

Fiz aliá de Nova York em 1995, e, quando Benjamin Netanyahu foi eleito primeiro-ministro em 1996, fui nomeado vice-diretor de comunicações do Gabinete do Primeiro-Ministro, sob a direção de David Bar-Illan, de abençoada memória.

Um dia, na primavera de 1997, chegou um pequeno envelope cor de laranja dos líderes da comunidade Bnei Menashe, dirigido ao primeiro-ministro. Passou pela minha secretária, por isso eu abri o envelope e li a carta. Era um apelo muito emotivo, pedindo que os Bnei Menashe pudessem voltar a Israel após 2.700 anos.

Para ser sincero, ao princípio pensei que era uma loucura. Mas havia algo muito sincero e sentido na carta, por isso decidi respondê-la. Então, quando me encontrei com membros da comunidade e aprendi mais sobre a sua história, tradições e costumes, fiquei convencido – por mais fantasioso que possa parecer – de que eles são de fato os nossos irmãos perdidos e que tínhamos que os ajudar.

Então comecei a lutar contra as barreiras da burocracia e providenciei para que grandes grupos de Bnei Menashe fizessem aliá.

Todos os aceitam como judeus?

Em 2004 abordei o Rabino Chefe Sefardita de Israel, Shlomo Amar, e pedi-lhe que estudasse o assunto. Depois de o estudar, o Rabino Amar declarou, numa reunião em março de 2005, que os Bnei Menashe são «Zera Yisrael» – descendentes de Israel como grupo coletivo – mas que, por terem estado separados do resto do povo de Israel por por tanto tempo, cada indivíduo teria que passar por um processo formal de conversão, que é exatamente o procedimento que é seguido até hoje.

Todos os 4.000 Bnei Menashe em Israel foram convertidos pelo Rabinato Chefe de Israel, por isso são tão judeus quanto você ou eu.

É fascinante que um grupo que esteve isolado durante tanto tempo esteja agora voltando para Israel.

Basta abrir qualquer um dos livros dos Profetas e verá que todos falam da reunião dos exilados, incluindo Judá e Israel – ou seja, as Dez Tribos Perdidas de Israel. Isaías diz: «E acontecerá naquele dia que se tocará um grande shofar e virão aqueles que tinham sido espalhados na terra da Assíria» (27:13). Esta é uma referência explícita às tribos que foram exiladas pelos assírios.

E em Jeremias (3:18), Hashem promete que «Naqueles tempos, a casa de Judá caminhará com a casa de Israel e virão juntas de uma terra do norte para a terra que dei a vossos antepassados ​​por herança.»

O retorno dos Bnei Menashe, que são descendentes da casa de Israel, é o início do cumprimento dessas promessas milenares. Portanto, acredito que é um passo significativo no processo da redenção.

Como descreve a sua integração na sociedade israelita?

Graças a D’us, no geral, tem sido um sucesso. A maioria dos imigrantes Bnei Menashe tem pelo menos o ensino médio [também chamado ensino secundário], alguns têm diplomas de universidades indianas e muitos falam inglês. Todos eles têm smartphones na Índia, por isso estão familiarizados com os costumes ocidentais e acompanham de perto as notícias de Israel.

Todos os rapazes da comunidade servem nas FDI, muitos deles apresentando-se como voluntários em unidades de combate de elite. Um número crescente de jovens da comunidade formou-se em faculdades israelitas, em cursos que variam de serviço social a engenharia, e alguns jovens receberam ordenação rabínica.

Obviamente, como novos imigrantes, eles enfrentam muitos desafios, mas os Bnei Menashe são sionistas e judeus praticantes e estão determinados a que as coisas resultem.

Quando fará aliá o próximo grupo de Bnei Menashe?

No meu recente encontro com a ministra da Aliá e Integração, Penina Tamanu-Shata, ela deixou claro que deveríamos começar os preparativos para trazer em novembro o primeiro grupo de 250 imigrantes de um total de 722 que foram aprovados. O restante virá em 2021. Mas depende, é claro, do financiamento.

Pelo acordo com o governo, a Shavei Israel deve cobrir diversos custos, como a passagem aérea e todo o transporte dos Bnei Menashe da Índia para Israel, que ascendem a USD $ 1.000 por imigrante. Portanto, precisamos de angariar os fundos necessários.

Para além dos Bnei Menashe, você trabalha também com outras comunidades «perdidas». Pode contar-nos um pouco sobre essas outras comunidades?

Eu fundei a Shavei Israel com o objetivo de estabelecer contacto com tribos perdidas e comunidades judaicas ocultas e ajudá-las a se reconectarem com as suas raízes. Além dos Bnei Menashe da Índia, trabalhamos há muitos anos com os judeus chineses de Kaifeng, na China; os Bnei Anussim (ou «Marranos») de Espanha, Portugal e América do Sul; os judeus ocultos da Polónia, do Holocausto; os judeus Subbotnik da Rússia, e outros.

Fazemos isto porque sinto que temos a responsabilidade histórica, moral e religiosa de ajudar a retornar aqueles que antes fizeram parte do nosso povo. Como sabemos, o povo judeu, nos últimos 2.000 anos, foi perseguido e torturado, massacrado e expulso mais do que qualquer outra nação da Terra. Ao longo do caminho, muitas pessoas foram arrancadas de nós, mas de alguma forma conseguiram preservar um sentido de consciência ou conexão judaica.

E nas últimas décadas, um número crescente de descendentes de judeus tem batido às nossas portas, procurando se reconectar com o povo judeu. Depois de tudo o que os seus antepassados sofreram – seja às mãos da Inquisição, dos comunistas ou dos nazis – como lhes podemos virar as costas?

Artigo de Tzvi Fishman, do Jewish Press

A Shavei Israel publica o primeiro birkon em chinês

Os judeus Kaifeng são uma antiga comunidade judaica com uma história rica e dramática.  Hoje, cada vez mais dos seus descendentes estão interessados ​​em aprender sobre a sua herança cultural e espiritual.  Como parte dos seus esforços para preservar essa comunidade e fortalecer os seus laços com o judaísmo e o Estado Judaico, a Shavei Israel publicou o primeiro birkon (livro de bênçãos) em chinês mandarim.  O birkon inclui kiddush de Shabat, bênçãos e canções, e ajudará as comunidades judaicas de língua chinesa a manter a sua ligação com a tradição judaica.

A introdução do birkon foi preparada pelo presidente e fundador da Shavei Israel, Michael Freund, e pelo rabino Chanoch Avitzedek, e concentra-se no significado e na importância de guardar o Shabat.  A tradução para o chinês foi efetuada pelo coordenador da Shavei Israel para os judeus Kaifeng, Eran Barzilay, com a ajuda dos representantes da comunidade que passaram pelo processo de conversão formal e fizeram Aliyah para Israel.

Se fala chinês e deseja adquirir um exemplar, pode fazer o seu pedido na livraria da Shavei.

O DIREITO DE RETORNO (PARTE 3)

Na semana passada, publicámos uma nova parte da entrevista concedida pelo presidente e fundador da Shavei Israel, Michael Freund, à revista פנימה עלמה sobre os descendentes dos convertidos à força pela Inquisição. Aqui está a continuação deste artigo.

Um novo mundo

O México tornou-se o lar de muitos anussim que iam parar às costas do Novo Mundo na esperança de ficarem longe da Inquisição. Miriam, ou, como era conhecida anteriormente, Cindy Montiel Tepoz, é membro de uma destas famílias. Há apenas dois anos, aos 42 de idade, Miriam imigrou para Israel com o seu marido, um antigo pastor, e a sua filha de sete anos, Leah. Concluíram o processo de conversão recentemente, retornando oficialmente ao judaísmo. — Vimos de uma família muito coesa e muitos deles já se converteram. Alguns deles estão há muito tempo em Israel — diz Miriam. A sua avó materna chamava-se Salomé, uma forma do nome Shlomit, e o seu sobrenome era Del Toro Valencia. Linhagens de séculos anteriores mostram que esses nomes são característicos de Anussim. — A minha avó veio para o México, de Espanha, com os pais, em 1912, quando era bebé. Casou com o meu avô, chamado Roberto Tapuz Mani. Mani também é um nome associado a anussim. Juntos, criaram os seus 11 filhos. A casa da minha avó não tinha estátuas nem imagens, o que é muito raro no México, onde todas as casas têm estátuas e imagens de variadíssimos santos cristãos. Ela criou todos os filhos na fé em um D’us único. Quando eu tinha sete anos, a avó Salomé ensinou-nos a rezar, enfatizando que havia apenas um D’us em quem deveríamos acreditar. Todas essas práticas não tinham explicação.

Que outras práticas estranhas despertaram a sua curiosidade?

– A casa da minha avó tinha uma panela especial para o leite, que era para ser usada só para cozinhar os produtos lácteos. Todos os outros utensílios da cozinha eram destinados à carne. Nós não tínhamos ouvido nada nem sabíamos nada sobre o mundo kosher judaico. Sabíamos que o dia de descanso não era o domingo, mas que começava na sexta-feira ao pôr do sol. A avó também evitava celebrar os feriados locais e religiosos.

O pai de Miriam veio de uma família católica, mas a sua mãe, que depois de um tempo também se converteu ao judaísmo, educou os filhos no monoteísmo e não nos valores cristãos. – O meu pai não interferiu na educação que a minha mãe nos dava, apesar de a sua família nunca nos ter aceite ou entendido. Quando criança, eu também não entendia o cristianismo: Por que devo procurar o filho quando posso falar diretamente com o Pai? Sempre senti que não havia ali nada que satisfizesse a minha necessidade espiritual. Só encontrei significado mais tarde, na Torá.

Quando a sua avó faleceu, surgiu um vazio emocional e espiritual que levou a um processo de busca para grande parte da família. – Sempre houve uma busca espiritual na família, e sempre houve a questão do porquê  de não nos comportamos como cristãos, como todos os que nos rodeavam. Sabíamos que isso vinha da avó, mas não sabíamos porquê nem qual a fonte de todas essas práticas. De onde viemos, quase não existe um discurso assim. O cristianismo no México é muito dominante e não havia respostas para as perguntas que fazíamos. Não nos identificávamos com a atmosfera e a cultura local e, por outro lado, não tínhamos bases para os princípios em que fomos educados.

Quando Miriam tinha 12 anos, aconteceu a primeira mudança na vida da família: – A minha tia e o seu marido começaram a estudar judaísmo. Converteram-se há 35 anos e imigraram imediatamente para Israel. Através deles, fui exposta ao judaísmo, e a minha fé começou a tornar-se cada vez mais clara. Sempre quis entender por que temos práticas familiares diferentes e, de repente, eles vieram com um conhecimento claro e ensinaram-nos exatamente o que é o sábado e os 13 princípios de fé de Maimonides. Durante esse período, tudo começou a tornar-se mais claro e mais lógico para mim.

Da igreja ao Beit Midrash

Miriam conheceu o seu marido, Daniel Fuentes, de 45 anos, no seu trabalho. Daniel, então conhecido como Federico Fernando, era um cristão devoto, e foi até pastor. Casaram há cerca de nove anos, enquanto Miriam continuava a estudar judaísmo. Quatro anos após o casamento, em 2015, o seu marido também começou a estudar Torá, por sua própria vontade. – Ele já sabia o que era o sábado e conhecia o judaísmo, mas de longe.

Com o passar do tempo, os dois aprenderam a rezar e a guardar o Shabat e a alimentação kosher. – Poderíamos ter ficado no México. Eu trabalhava como advogada num local conhecido e estávamos em boa situação financeira. Mas quanto mais aprendemos, mais percebemos que não poderíamos realizar todo o nosso potencial lá. A nossa vida no México era boa, mas morar em Israel, e, especialmente, em Jerusalém, está a preencher-me e a fazer-me sentir como se tivesse voltado para casa. O judaísmo deu-me significado. Embora eu já conhecesse o meu marido antes e houvesse amor entre nós, o nosso relacionamento se tornou muito mais significativo depois de termos começado a estudar. A consciência da necessidade de manter a paz no lar muda a sua vida. Você vê a mudança na atmosfera em casa: Há mais santidade e calma. Também viemos para Israel por causa da educação judaica para a nossa filha, admite Miriam. – Já há 20 anos percebi que o judaísmo era a verdade, mas não avancei.

Apenas há dois meses, Miriam, Daniel e a sua filha Leah concluíram finalmente o processo de conversão. Eles agora vivem em Jerusalém e estão a aguardar receber o status oficial de imigração, para poderem estabelecer-se permanentemente no país. A organização Shavei Israel ajudou-os ao longo do caminho. – Tenho muita gratidão pelas pessoas da organização que nos apoiaram, – diz Miriam animadamente.

Saber que é Bnei Anussim influenciou-a?

– Saber que tenho raízes judaicas fortalece ainda mais a minha conexão com o judaísmo. Fortalece-me na adoração a D’us e no conhecimento de que Moisés é verdadeiro e de que os seus ensinamentos são verdadeiros. O facto de a nossa família ter de alguma forma conseguido transmitir tantos costumes antigos, originários do sofrimento da Inquisição, sublinha o poder do espírito judaico: A sarça ardente e a falta de comida, e a dedicação dos judeus nas condições mais difíceis.

Quais os principais desafios que enfrenta hoje?

– O idioma. Embora desejemos muito aprender hebraico, não é simples. Obviamente, há também a situação económica, que não pode ser ignorada. Israel é um país muito mais caro que o México, e ainda não temos ingressos. A minha principal preocupação é a nossa Leah, que ela se adapte facilmente à nova situação.

– Muitas vezes sinto-me perdida, – admite Miriam, – mas, ao mesmo tempo, sei que todos os desafios são temporários e que a terra de Israel é comprada com sofrimento, e com a ajuda de D’us tempos mais fáceis virão. Saber que a minha família e eu estamos na Terra Santa, que fazemos parte de uma comunidade, que tenho um lugar para rezar, que tudo ao meu redor é kosher e que há aqui pessoas boas, isso é uma bênção para mim. Agradeço a D’us que me deu a oportunidade de dar este passo.

UMA SIMCHA PARA A SHAVEI ISRAEL NA COLÔMBIA

Um grande mazal tov para o rabino Shimon Yehoshua, o nosso emissário na Colômbia, pelo seu casamento com Helen, de Bogotá, Colômbia!

O casamento, que teve lugar esta semana em Bogotá, Colômbia, contou com a presença de dignitários, amigos e familiares de várias partes do mundo, incluindo o rabino máximo de Bogotá, Alfredo Goldschmidt, o rabino Elad Villegas, diretor da ACIC (Associação de Comunidades Israelitas na Colômbia), o rabino Asher Abrabanel, rabino da comunidade Maguen Abraham em Cali, Colômbia, o pai e irmão do rabino Shimon, a família do seu irmão, que veio de Israel, e a sua mãe e tia, que vieram da Argentina.

Continuar lendo