Por: Rav Reuven Tradburks
1a aliá (Bamidbar25:10-26:4) Pinchas, filho de Elazar, filho de Aharon, parou a praga. Merecerá o pacto de paz, o sacerdócio. Os que foram mortos por ele foram Zimri, o príncipe de uma família de Shimon, e Kozbi, filha de um príncipe de uma família de Midian. Afligireis os Midianitas devido a este aliciamento. De’s instrui Moshe e Elazar a fazer um recenseamento dos homens com mais de 20 anos.
A nossa parsha é a parsha da transição. Aharon morreu. Elazar toma o seu lugar. Diz-se que Moshe também morrerá antes da entrada na terra. Nomeará o seu sucessor. É neste contexto que encontramos Pinchas a matar um casal misto: um homem judeu e uma mulher midianita. E não apenas qualquer homem e qualquer mulher: eles eram dignitários, líderes das respetivas famílias. Pinchas insurge-se contra a transgressão e mata-os.
Esta história recorda-vos alguma coisa? Já houve outra história na Torá de um casal misto, dignitários, um deles judeu e outro não judeu? Onde alguém não pôde tolerar isto e insurgiu-se contra a transgressão, matando os envolvidos? Nessa outra história era uma mulher judia, Dina, e um homem não judeu, Shechem. E quem se insurgiu contra a transgressão foram Shimon e Levi, matando os homens da cidade. Yaakov não ficou contente, pois não era o seu modo de proceder. Aqui também. Quem é Pinchas? O neto de Aharon, descendente de Levi. Só que Aharon é o epítome da paz. Vejam como são os meandros da liderança: Yaakov era a favor da paz, enquanto os seus filhos, Shimon e Levi, eram a favor da ação violenta (baseada em princípios, mas violenta). O bisneto de Levi, Aharon, era a favor da paz, enquanto o seu neto era a favor da ação violenta (também baseada em princípios, mas violenta). A vida é assim. Às vezes, os netos fazem as coisas à sua própria maneira. Contrária ao legado dos avós. E esta é a importância crucial desta história e desta parsha. A transição. A nova liderança. Às vezes é como a antiga. E às vezes não. Mas é a liderança.
2a aliá (26:5-51) É feito o recenseamento de cada tribo, enumerando as famílias e a contagem de recenseamento de cada tribo. O recenseamento total é de 601.730 homens com mais de 10 anos.
Embora o resumo desta aliá seja bastante conciso, é na verdade uma longa aliá de 47 versículos. O objetivo desta contagem é preparar-se para a divisão da terra, cujas instruções estão na próxima aliá. Mas, além disso, faz parte da transição de poder. Esta história é a repetição da história do recenseamento feito por Moshe e Aharon. A repetição de histórias no Tanach serve muitas vezes para indicar que a nova geração está a fazer um bom trabalho ao seguir os passos da anterior. Ou que não estão a fazer um bom trabalho. Ou que estão a fazer um trabalho diferente, mas igualmente bom. Aqui, o que foi feito antigamente é idêntico ao que está a ser feito agora. A diferença reside em quem faz o censo. Antigamente foram Moshe e Aharon, agora são Moshe e Elazar. O papel de Elazar como líder cohen está a criar raízes.
3a Aliá (26:52-27:5) A terra deve ser dividida de acordo com este recenseamento; os que têm mais, recebem mais, embora os lotes sejam atribuídos por sorteio. A tribo de Levi está enumerada, embora não recebam terras. Nenhum dos recenseados por Moshe e Aharon está vivo para este recenseamento, exceto Yehoshua e Calev. As 5 filhas de Zelophchad questionam Moshe e Elazar: embora o nosso pai tenha deixado o Egito, ele não tem herdeiros masculinos para entrarem na terra. Porque o nome dele deve ser esquecido? Queremos reclamar a sua parte. Moshe levou esta questão perante De’s.
A reivindicação destas filhas é uma reivindicação legítima. Na narrativa da transição da liderança, Elazar está a receber a sua primeira lição de Moshe: não sabemos tudo. Não há nada de errado em um líder dizer «não sei», até mesmo Moshe.
4a aliá (27:6-23) De’s diz a Moshe que as filhas de Tzelophchad estão certas; a parte de seu pai ser-lhes-á atribuída. De’s diz também a Moshe que suba a montanha e olhe para terra de Israel, pois ele não entrará nela. Moshe pede um sucessor. De’s instrui-o a transferir a sua liderança para Yehoshua na frente de todo o povo. Fê-lo na frente de Elazar e de todo o povo.
Este é um momento devastador para Moshe. Toda a sua missão como líder é levar o povo à Terra Prometida. Foi isso que lhe foi dito na sarça ardente; leva o Meu povo à terra. Sim, neste momento de profunda desilusão pessoal, ele pensa em transição. A missão é maior que o homem. Se não sou eu que os vou liderar, então encontremos outra pessoa.
Esta transferência de liderança, de Aharon para Elazar e de Moshe para Yehoshua ensina-nos duas coisas: sobre os líderes e sobre o povo judeu. Se um líder é motivado pelo seu legado, pelas suas realizações, então, quando lhe dizem que não alcançará o seu objetivo, ele vai fazer debater-se para preservar os seus objetivos. Quando o líder é motivado por servir o seu povo, é totalmente diferente: o povo podem ser bem servido, seja por mim ou por outra pessoa. Moshe não pode permitir que a notícia do seu fim o preocupe. O seu papel é liderar o povo. E, se ele não o fizer, quer garantir que alguém o faça.
E esta é uma lição poderosa sobre o povo judeu. Por melhores que sejam Moshe, Aharon e Miriam, o povo judeu ficará bem sem eles. A transição ensina-nos que o povo judeu é muito maior que os seus líderes. A promessa ao povo judeu continuará viva, com novos líderes.
5a aliá (28:1-15) As Oferendas Comunitárias. Há oferendas específicas para ocasiões específicas que são o Meu pão, o Meu aroma agradável. Diariamente: 2 cordeiros, um de manhã e um à noite, acompanhados de farinha com azeite e vinho. Como era feito no Sinai. Mussaf de Shabbat: 2 cordeiros adicionais com a sua farinha, azeite e vinho. Mussaf de Rosh Chodesh: 2 touros, 1 carneiro, 7 cordeiros, com a sua farinha, azeite e vinho, e uma oferenda de pecado de 1 cabrito.
Todos os dias há uma oferenda feita no Templo, a oferenda diária de um cordeiro, de manhã e de tarde. Muito simples. Em ocasiões especiais há uma oferenda adicional, o Mussaf. As ocasiões especiais incluem Shabbat, o Rosh Chodesh e, na próxima aliá, todas as festas do ano. Esta descrição das oferendas de Mussaf é lida na sinagoga mais vezes do que qualquer outra leitura da Torá ao longo do ano. Lê-se para cada Rosh Chodesh e como Maftir em cada Yom Tov – 35 vezes por ano em Israel, 38 em Chutz Laaretz [fora de Israel]. Adicionei uma tabela no final deste artigo – emprestada com uma pequena adaptação ao Artscroll Chumash. Notarão que o Mussaf de Shabbat é diferente de todos os outros. É simplesmente uma oferenda diária dupla: dois cordeiros. Nada de touros, carneiros ou cabritos. Faz-nos pensar se a afirmação talmúdica de que temos uma neshama dupla em Shabbat e a halacha de termos 2 challot são afirmações «agádicas», um toque «midráshico», ou se estão apenas a estender o que a própria Torá diz. O Mussaf é duplo. Então, a nossa alma é dupla. Assim como o nosso regozijo, a nossa challa, tudo é em dobro.
6a aliá (28:16-29:11) Pesach é no dia 14 do 1º mês. No dia 15 começa a festa de 7 dias de Matza. O primeiro dia é feriado. O Mussaf para cada dia de Pesach: 2 touros, 1 carneiro, 7 cordeiros, com a sua farinha, azeite e vinho, e 1 oferenda de pecado de 1 cabrito. O 7º dia é feriado. Shavuot: é trazida a nova oferenda de cereais. Mussaf: o mesmo que Pesach. Rosh Hashana: é um feriado, um dia de Teruah. Mussaf: o mesmo que os outros exceto apenas 1 touro, não 2. Yom Kippur: é um feriado, um dia de aflição. Mussaf: o mesmo que Rosh Hashana.
As oferendas diárias de tamid e mussaf são comunitárias; trazidas em nome de toda a nação de Israel. Nunca haveria um anúncio no Mikdash de que o Mussaf de hoje é patrocinado por Sarah Cohen em homenagem ao bat mitzvah da sua neta. Não se pode fazer isso. A noção de uma abordagem comum a De’s pode explicar a anomalia da colocação desta secção. Não tivemos já uma descrição exaustiva dos sacrifícios em Sefer Vayikra? Porque é que esta secção sobre sacrifícios aparece fora do lugar, adiada até aqui? Porque se enquadra no fluxo temático do fim de Bamidbar. Bamidbar é a marcha nacional para a Terra. Mas a vida judaica e a sociedade judaica são tanto pessoais como comunitárias. Tentamos alcançar De’s individualmente. Cumprimos as nossas mitzvoth. E ocuparemos um lugar particular na terra de Israel; no nosso pequeno lote de terra que acabámos de descrever nas aliot anteriores. Mas, além disso, somos parte deste povo. Como povo, temos uma relação única com De’s, e Ele connosco. Parte da terrível desilusão do crescente afastamento de judeus de Israel que estamos a testemunhar no nosso tempo é a completa dissipação do sentimento de fazermos parte de um povo, de termos uma ligação ao destino do nosso povo. É isso que é simbolizado pelas oferendas comunitárias.
Nesta tabela vêem-se logo os agrupamentos: Pesach e Shavuot, a singularidade das oferendas extra de Sukkot, e o emparelhamento de Rosh Hashana e Yom Kippur e, curiosamente, Shmini Atseret.
Oferenda Olah | Chatat Oferenda de Pecado | |||
Dia | Touros | Carneiros | Cordeiros | Cabrito |
Dia da semana Diariamente não Mussaf | 0 | 0 | 1 manhã 1 noite | 0 |
Shabbat | 0 | 0 | 2 | 0 |
Rosh Chodesh | 2 | 1 | 7 | 1 |
Pesach (todos os dias) | 2 | 1 | 7 | 1 |
Shavuot | 2 | 1 | 7 | 1 |
Rosh Hashana | 1 | 1 | 7 | 1 |
Yom Kippur | 1 | 1 | 7 | 1 |
Sukkot – dia 1 | 13 | 2 | 7 | 1 |
Sukkot – 2 | 12 | 2 | 7 | 1 |
Sukkot – 3 | 11 | 2 | 7 | 1 |
Sukkot – 4 | 10 | 2 | 7 | 1 |
Sukkot – 5 | 9 | 2 | 7 | 1 |
Sukkot – 6 | 8 | 2 | 7 | 1 |
Sukkot – 7 | 7 | 2 | 7 | 1 |
Shmini Atzeret | 1 | 1 | 7 | 1 |