Com a Parshat Nitzavim começamos 4 parshiot muito curtas que são a conclusão da Torá. Embora a parashá tenha apenas 40 versículos, o seu impacto emocional é difícil de igualar.
O Talmud diz que as maldições da Parshat Ki Tavo devem ser lidas antes de Rosh Hashaná. Nós não fazemos isso. Nós lemos Ki Tavo duas semanas antes de Rosh Hashaná e Nitzavim no Shabat antes de Rosh Hashana. Parece que a dureza das calamidades que cairiam sobre nós, conforme descritas em Ki Tavo, embora verdadeiras, são difíceis. Com que humor queremos enfrentar Rosh Hashaná? Com a dureza e seriedade da condenação que resultará da falta de lealdade à Torá? Ou com o otimismo e o incentivo da previsão de retorno da nossa parashá? O medo de Ki Tavo é temperado pela esperança e pelas garantias de Nitzavim.
1ª aliá (Devarim 29: 9-11) O Brit de Arvot Moav. O povo inteiro está reunido para entrar no pacto: homens, mulheres, crianças, carregadores de água e cortadores de lenha. Já tivemos outros pactos na Torá: Uma das alianças foi feita com Avraham; a outra no Sinai. O que é impressionante nesta aliança são 2 coisas: pessoas específicas e a palavra Hayom, que aparece 4 vezes em 6 versículos. Um acordo, ou uma aliança, feita com uma nação, pode permitir que nos ocultemos: «Isto não se aplica a mim pessoalmente, mas sim à nação. Cuidem vocês disso.» Moshe evita isso: vocês estão todos incluídos: homens, mulheres, gente comum. E isto não é uma informação antiga. É de hoje. Como se Moshe estivesse a dizer: «Eu não estou a fazer esta aliança no “meu” hoje – mas para vocês, leitores, esta aliança está a ser feita no “vosso” hoje.» Todos vocês estão dentro: gerações presentes e futuras. Sem ninguém se ocultar.
2ª aliá (29: 12-14). Para entrar na aliança; que D’us será o nosso D’us e nós seremos o Seu povo. Como foi dito aos Avot. Esta aliança é feita contigo aqui hoje e com aqueles que não estão aqui hoje.
O Talmud entende esta aliança como aquela que une todos os judeus com a noção de que «todos os judeus são responsáveis uns pelos outros – kol Yisrael areivim zeh b’zeh». Parece que há aqui uma extensão da aliança, não apenas às pessoas presentes, mas a todas as gerações futuras, que gera a ideia de responsabilidade mútua. Todos nós estamos vinculados por esta aliança que abrange gerações.
3ª aliá (29: 15-28) Se existir entre vós alguém que siga um ídolo, racionalizando que é livre para seguir o seu coração, a consequência do vínculo especial desta aliança é que a sua deslealdade, a sua adoração de ídolos, será recebida com a ira divina. A destruição desta Terra por causa de sua infidelidade será tão profunda que as pessoas olharão para ela e ficarão chocadas com a sua total desolação. Reconhecerão que a sua deslealdade resultou nesta desolação e na sua expulsão desta Terra.
A descrição da terra de Israel como uma terra que mana leite e mel é difícil para nós, ocidentais: nós sabemos como é uma paisagem rica e verdejante, e a atual terra de Israel não é assim. A topografia rochosa de Israel, sem grama [relva] e sem árvores é chocante para os nossos olhos – estamos habituados a grama [relva] e árvores. Especialmente porque é a terra que mana leite e mel. Algo mau aconteceu com ela. O Ramban afirma que a terra não está permanentemente condenada a ser estéril e desolada. Enquanto permaneceu em mãos não-judias, a topografia permaneceu árida. Uma vez devolvida às mãos dos judeus, o verde retorna. Privilegiados são os olhos que viram o retorno do verde.
4ª aliá (30: 1-6) Quando fores expulso da terra para os 4 cantos do mundo, levarás a sério o teu destino no teu coração – e retornarás a D’us. Ele retornará a ti, retornando a ti para te reunir dos lugares distantes. Mesmo que estejas nos confins da terra, Ele vai reunir-te e tirar-te de lá, para te trazer de volta a esta terra.
Este é o parágrafo mais bonito de toda a Torá. É tão bom que fica partido ao meio, para o saborearmos melhor. É chamado de Parshat HaTeshuva, a seção do Retorno. A palavra retorno aparece 7 vezes. Nós para ele. Ele para nós. Nós damos um passo, Ele dá um passo na nossa direção. Mas o nosso primeiro retorno é descrito como «levarmos o assunto a sério no nosso coração». O início da teshuvá é ouvir os murmúrios do coração. E Ele é o nosso cardiologista. Ele conhece os murmúrios do nosso coração, por mais fracos que sejam. E dá-nos a força, a vontade de construir algo a partir dos nossos desejos mais profundos. Ele dança connosco, mas espera que nós demos o primeiro passo. Então dá-nos mais e mais força. Basta darmos esse passo.
5ª aliá (30: 7-10) E Ele implantará em ti o amor por Ele. E voltarás para Ele. E Ele ficará emocionado contigo porque o teu retorno é com sinceridade, de coração cheio.
Moisés escolhe palavras no Sefer Devarim que são palavras de afeto. Há muito amor e muito coração: amor a Hashem, todo o teu coração. Palavras e expressões como vida, bom, apegar-se a Hashem, hoje. Moshe não quer ser apenas professor de halachá. Ele também deseja ser o professor da nossa vida interior. Precisamos de orientação, não apenas sobre o que fazer, mas também sobre o quê e como sentir. Os nossos sentimentos: deixa-O entrar, com amor, com os sentimentos mais profundos do teu coração, todos os dias. A linguagem é notavelmente mais emotiva do que no resto da Torá. Moshe, mesmo antes da sua partida, tanto do seu papel de líder como deste mundo, deseja desesperadamente transmitir os seus sentimentos mais profundos e alcançar as nossas mais profundas emoções.
6ª aliá (30: 11-14) Pois esta Mitzvah não é demasiado sublime, como se precisasses de alguém para ascender os céus ou cruzar o oceano para a ir buscar. Pelo contrário, está muito próxima; nos teus lábios e no teu coração.
Este pequeno parágrafo é o mais bonito da Torá (ok, é um empate). Pode ser entendido como se referindo a toda a Torá. Como se dissesse: «Eu sei que a Torá parece assustadora; mas não é, é o verdadeiro “tu”» Ou pode estar a referir-se à Teshuva. Como se dissesse: «A mudança parece assustadora; mas não é uma mudança, é o verdadeiro “tu”» Temos essa expressão, o pintele yid. No fundo, todos têm uma conexão com D’us e com o povo judeu. Isso é exatamente o que este versículo diz: não precisamos de nos ajustar, para nos adaptarmos a uma crença em D’us. Precisamos de ser sensíveis, para sondar o nosso verdadeiro “eu”, para escavar fundo e descobrirmo-nos a nós mesmos. Está muito perto: nos nossos lábios e no nosso coração.
7ª aliá (30: 15-20) A vida e o Bem, a morte e o Mal estão diante de ti. A vida é consequência da lealdade às mitzvot. A destruição aguarda a falta de lealdade. O céu e a terra são testemunhas: a vida e a morte, a bênção e a maldição, estão diante de ti. Escolhe a vida.
Essas palavras são as últimas do longo discurso de Moshe. Ele continuará a falar sobre a transição da liderança. Mas essas últimas palavras são como uma esbatimento, uma diluição. Depois de tudo dito e feito, o que está em jogo nesta grande aventura das mitsvot é, nada mais, nada menos do que a vida ou a morte. E, com estas palavras, Moshe prepara-se para se despedir do povo. Nada mais há a dizer. Escolhe a vida.