Por: Rav Yosef Bitton
O oitavo dos treze princípios da fé judaica diz que a Torá que possuímos hoje é a mesma que foi dada a Moshe Rabeinu (Moisés) no Sinai.
Hoje falaremos sobre qual foi o método meticuloso utilizado pelos Sábios de Israel para transmitir o texto da Torá de forma a evitar erros inadvertidos.
Devemos saber que a presença de erros na transmissão de textos era bastante comum, principalmente antes da invenção da imprensa. Existiam inúmeros «erros de copista», que ocorriam quando os copistas se enganavam ao copiar de um texto para outro.
O Sefer Torá (livro, rolo, rolo da Torá), tal como o temos hoje, contém exatamente as mesmas palavras que HaShem transmitiu a Moisés. O texto foi preservado durante os séculos com muito cuidado, pois os nossos Sábios estavam muito conscientes de que estavam a transmitir um texto único: a palavra de HaShem. E, portanto, não se podiam permitir a possibilidade de erros inadvertidos na transmissão ou cópia de um texto para outro. O que fizeram então os Sábios para evitar erros de copistas?
Os nossos escribas ou copistas, eram chamados de “Soferim” em hebraico. Eles eram os Sábios responsáveis por copiar o texto bíblico de um Sefer Torá para outro, mantendo o texto intacto. A tarefa dos Soferim era muito mais difícil em tempos de guerra, destruição e exílio, por exemplo após a destruição do Primeiro Bet haMiqdash, quando tinham que fugir de um lado para o outro e os recursos eram muito escassos.
Para entender o sistema de transmissão que esses Sábios utilizavam, temos que entender porque eles eram chamados de “Soferim”. A palavra “Sofer”, ou o plural, “Soferim”, é um termo usado em referência a um “escriba”, ou seja, o indivíduo que escreve Tefilin, Mezuzot e rolos da Torá. Mas é curioso que esta palavra “sofer” realmente significa “contador” e não “escritor” ou “escriba”… Porque os rabinos que copiavam e escreviam o Sefer Torá foram chamados de Soferim e não por exemplo “kotebim”, escritores? Os nossos Sábios explicaram que eles eram chamados Soferim porque “eles contavam todas as letras da Torá”. Ou seja, eles sabiam exatamente quantas letras a tinha a Torá, quantas letras tinha cada Parashá e até quantas vezes aparecia na Torá e em cada Parashá cada uma das 22 letras do alfabeto hebraico.
Por exemplo: Eles sabiam há muito tempo, desde o tempo de Moshe rabbenu, que foi o primeiro «Sofer, que a Torá, os 5 Livros de Moshe, contém exatamente 79.847 palavras e um total de 304.805 letras. Os Soferim também sabiam, por exemplo, quantas letras cada um dos 5 livros da Torá contém: Bereshit: 78.064, Shemot: 63.529, Vayqra: 44.790, Bamidbar: 63.530, Debarim: 54.892. Dessa forma, quando escreviam um novo Sefer Torá, eles contavam as letras para ter certeza de que nada estava em falta.
Um exemplo pessoal muito simples para demonstrar como o conhecimento do número de letras garante a precisão da transmissão de uma palavra: O meu e-mail pessoal é ” rabbibitton@yahoo.com “. Quando digo ou dito a alguém a primeira parte do meu e-mail, deixo sempre claro que “rabbibitton” é escrito com 11 letras. Muitas vezes as pessoas dizem-me que conseguiram perceber que meu sobrenome se escreve com dois “Ts” graças ao fato de eu ter dito “11 letras”. Se eu não lhes tivesse dito o número de letras, muitos escreveriam “biton” ou “rabi”, se não soubessem inglês.
O número de letras garante a transmissão fiel de uma palavra ou texto.
Este oitavo princípio de nossa fé, de que a Torá que temos hoje é a mesma que recebemos no Sinai, tem a ver essencialmente com a fé que temos nos nossos antepassados. Confiamos absolutamente em que eles tiveram muito cuidado e nos transmitiram com absoluta fidelidade e precisão cada letra da nossa sagrada Torá. E eles desenvolveram um método de contagem das letras, que garante que a cadeia de transmissão do texto mais importante do mundo era e é absolutamente confiável.
No próximo texto, B’H veremos que este oitavo princípio também inclui a nossa crença de que a Torá Oral que temos hoje é aquela que foi transmitida por HaShem a Moshe Rabbenu .