A Teshuvá, o arrependimento–
retirado do livro Ideas de Debarim, dos rabinos Isaac Sakkal e Natan Menashe
Analizaremos o capítulo 30, versículos 1 a 10.
Aparentemente, o texto é muito repetitivo.
No versículo 1-2 D’us diz-nos: Então porás no teu coração (recapacitarás) e retornarás ao
Eterno teu D’us, mas o que é que devemos pôr
nosso coração? Se prestarmos atenção, esta mesma frase (veHashevota
el levavecha) volta repetir-se outra vez na
Torá, em Deuteronómio 6:39, que nos diz que devemos recordar o que aconteceu no
Egito e no monte Sinai, onde aprendemos que D’us é único e não há nada fora
deEle, e “porás isso no teu coração”. Quer dizer, o que é que devemos pôr no
nosso coração? Que D’us é único e não há nada fora dEle. Abandonar a idolatria.
Como vão atingir esta ideia, quer dizer, saber que não há outro
fora de D’us? Isto atinge-se ao verem o que lhes vai acontecer quando
abandonarem D’us; ao se cumprirem todas as maldições acerca das quais a Torá já
tinha advertido, entenderão que não aconteceram por acaso, e então vão reconhecer
D’us e assumir que não há nada fora dEle e que serviram deuses pagãos em vão.
Logo no versículo 2 diz-nos que devemos voltar ao Eterno nosso
D’us escutar a Sua voz. O primeiro ponto, o de voltar a D’us, refere-se a
abandonar o paganismo ou o ateísmo e voltar a reconhecer que existe um D’us
único, e logo ouvir o que é que D’us nos ordena fazer. Ainda não estamos na
parte prática, nas ações; trata-se de determinação, de vontade, apesar de ainda
não se ter feito nada. E assim deve ser: primeiro é a vontade, a fidelidade e
determinação, e depois as ações.
Os versículos 3, 4 e 5 dizem-nos que D’us vai tornar a nós, vai
apiedar-se de nós, vai amar-nos e vai reunir-nos de entre as terras dos demais
povos, vai levar-nos à terra de Israel e vai abençoar-nos.
Como o povo volta a D’us, então D’us vai recompensá-los da mesma
maneira. Ele torna a eles. Temos que reconhecer que o facto de D’us se voltar a
nós, depois do povo de Israel ter violado o Seu pacto, não é um dado adquirido
mas sim um ato de bondade e misericórdia por parte de D’us. Mas também devemos
notar, através do versículo, que não se trata meramente de voltar a D’us, mas
sim de o devermos fazer com todo o coração e com toda a alma.
O versículo 6 diz-nos que D’us vai circuncidar o nosso coração e
o dos nossos filhos para que possamos amar D’us com todo o nosso ser. Este é um
nível superior aos anteriores, é o de servir a D’us com amor, com todo o
coração e com todo o ser, e essa é a verdadeira vida. Aqui não só nos fala de
nós, mas também dos nossos filhos, quer dizer que é algo mais firme, não é um
arrebato impulsivo de arrependimento, mas sim algo constante, que continuará,
não só nas nossas vidas mas também na dos nossos filhos.
No versículo 7, D’us responde igualmente num nível superior.
Agora não só nos abençoa mas também diz que todas as maldições se vão virar
contra os nossos inimigos. Porque eles nos odeiam enquanto que nós estamos com
D’us, amamos D’us e o que queremos é fazer a Sua vontade e apegar-nos a Ele,
então todo aquele que seja nosso inimigo, na realidade está a ser inimigo de
D’us, pois nós só queremos andar no Seu caminho, e se isso os incomodar ou nos
odiarem, então D’us ocupar-se-á deles, porque, na realidade, não se estão a
revoltar contra nós mas sim contra Ele.
No versículo 8, para além de voltarmos a D’us e ouvirmos a Sua
voz, a Torá fala-nos pela primeira vez de que vamos cumprir todos os
preceitos. Isto vem sublinhar que, apesar de na diáspora se poderem cumprir os
preceitos, é só na terra de Israel que se podem cumprir todos os
preceitos, porque muitos deles dependem da terra de Israel.
No versículo 9, depois de chegarmos a esse nível de cumprir
todos os preceitos com amor, se, além disso, buscarmos a D’us com todo nosso
ser, D’us responder-nos-á, tal como respondeu aos patriarcas, pois agora nós
estamos a agir como eles agiram, então D’us trata-nos tal como os tratou
e cuidou deles.
O versículo 10 é um resumo do nível superior mencionado no
versículo nove. E então, quando estivermos nesse nível, vamos entender toda a
Torá de uma forma mais profunda e superior.
Desta maneira, chegamos ao nível mais alto:
- Perfeição intelectual (com o pensamento)
- Um sentimento profundo e sincero para com D’us (vontade e
sentimento) e
- Perfeição nos nossos atos (ações)