Os 13 Princípios – 8º Princípio (parte 1 de 5) – Como sabemos que a nossa Torá é autêntica?

Os 13 Princípios – 8º Princípio (parte 1 de 5) – Como sabemos que a nossa Torá é autêntica?

Por: Rav Yosef Bitton

O oitavo dos treze princípios da fé judaica diz que a Torá que possuímos hoje é a mesma que foi dada a Moshe Rabeinu (Moisés) no Sinai.

Hoje falaremos sobre qual foi o método meticuloso utilizado pelos Sábios de Israel para transmitir o texto da Torá de forma a evitar erros inadvertidos. 
Devemos saber que a presença de erros na transmissão de textos era bastante comum, principalmente antes da invenção da imprensa.  Existiam inúmeros «erros de copista», que ocorriam quando os copistas se enganavam ao copiar de um texto para outro.
O Sefer Torá (livro, rolo, rolo da Torá), tal como o temos hoje, contém exatamente as mesmas palavras que HaShem transmitiu a Moisés. O texto foi preservado durante os séculos com muito cuidado, pois os nossos Sábios estavam muito conscientes de que estavam a transmitir um texto único: a palavra de HaShem. E, portanto, não se podiam permitir a possibilidade de erros inadvertidos na transmissão ou cópia de um texto para outro. O que fizeram então os Sábios para evitar erros de copistas? 
Os nossos escribas ou copistas, eram chamados de “Soferim” em hebraico. Eles eram os Sábios responsáveis ​​por copiar o texto bíblico de um Sefer Torá para outro, mantendo o texto intacto. A tarefa dos Soferim era muito mais difícil em tempos de guerra, destruição e exílio, por exemplo após a destruição do Primeiro Bet haMiqdash, quando tinham que fugir de um lado para o outro e os recursos eram muito escassos.
Para entender o sistema de transmissão que esses Sábios utilizavam, temos que entender porque eles eram chamados de “Soferim”. A palavra “Sofer”, ou o plural, “Soferim”, é um termo usado em referência a um “escriba”, ou seja, o indivíduo que escreve Tefilin, Mezuzot e rolos da Torá. Mas é curioso que esta palavra “sofer” realmente significa “contador” e não “escritor” ou “escriba”… Porque os rabinos que copiavam e escreviam o Sefer Torá foram chamados de Soferim e não por exemplo “kotebim”, escritores? Os nossos Sábios explicaram que eles eram chamados Soferim porque “eles contavam todas as letras da Torá”. Ou seja, eles sabiam exatamente quantas letras a tinha a Torá, quantas letras tinha cada Parashá e até quantas vezes aparecia na Torá e em cada Parashá cada uma das 22 letras do alfabeto hebraico.
Por exemplo: Eles sabiam há muito tempo, desde o tempo de Moshe rabbenu, que foi o primeiro «Sofer, que a Torá, os 5 Livros de Moshe, contém exatamente 79.847 palavras e um total de 304.805 letras. Os Soferim também sabiam, por exemplo, quantas letras cada um dos 5 livros da Torá contém: Bereshit: 78.064, Shemot: 63.529, Vayqra: 44.790, Bamidbar: 63.530, Debarim: 54.892. Dessa forma, quando escreviam um novo Sefer Torá, eles contavam as letras para ter certeza de que nada estava em falta.
Um exemplo pessoal muito simples para demonstrar como o conhecimento do número de letras garante a precisão da transmissão de uma palavra: O meu e-mail pessoal é ” rabbibitton@yahoo.com “. Quando digo ou dito a alguém a primeira parte do meu e-mail, deixo sempre claro que “rabbibitton” é escrito com 11 letras. Muitas vezes as pessoas dizem-me que conseguiram perceber que meu sobrenome se escreve com dois “Ts” graças ao fato de eu ter dito “11 letras”. Se eu não lhes tivesse dito o número de letras, muitos escreveriam “biton” ou “rabi”, se não soubessem inglês
O número de letras garante a transmissão fiel de uma palavra ou texto. 
Este oitavo princípio de nossa fé, de que a Torá que temos hoje é a mesma que recebemos no Sinai, tem a ver essencialmente com a fé que temos nos nossos antepassados. Confiamos absolutamente em que eles tiveram muito cuidado e nos transmitiram com absoluta fidelidade e precisão cada letra da nossa sagrada Torá. E eles desenvolveram um método de contagem das letras, que garante que a cadeia de transmissão do texto mais importante do mundo era e é absolutamente confiável.
No próximo texto, B’H veremos que este oitavo princípio também inclui a nossa crença de que a Torá Oral que temos hoje é aquela que foi transmitida por HaShem a Moshe Rabbenu . 
Os 13 Princípios – 7º Princípio – Moshe foi o profeta mais importante

Os 13 Princípios – 7º Princípio – Moshe foi o profeta mais importante

Pelo rabino Yosef Bitton

Anteriormente discutimos o sexto princípio da fé judaica, que afirma a nossa crença de que D’us se comunica com os homens por meio de profecia. Explicámos quem pode ser candidato à profecia e a natureza da profecia (veja aqui e aqui ).
O sétimo princípio também se refere à profecia, mas trata especificamente dos detalhes de um único profeta: Moshe Rabbenu (Moisés). O sétimo princípio diz que Moshe foi o maior e mais importante profeta que já viveu, e que nenhum profeta jamais alcançou ou alcançará o seu nível de profecia.
Primeiro, discutiremos em que sentido a profecia de Moisés foi superior à de qualquer outro profeta. E, em segundo lugar, porque é importante para nós, Yehudim, afirmarmos a superioridade de Moshe.
Os nossos rabinos explicam que o nível da profecia de Moshe era mais alto, e deram alguns exemplos. Todos os outros profetas, disseram eles, receberam a sua mensagem profética por meio de uma visão,  numa espécie de transe ou  num sonho. Moshe Rabbenu, no entanto, foi capaz de receber a mensagem de HaShem, estando consciente e acordado, não num transe profético. Isto é o que a Torá chama panim el panim, literalmente «cara a cara», o que significa que Moshé Rabenu podia ouvir as palavras de D’us da mesma maneira que um homem ouve outro homem numa conversa normal, «cara a cara».
A possibilidade de estar consciente permitiu a Moshe Rabenu, em primeiro lugar, ser o recetor perfeito da Torá. Por outras palavras, a Torá não é a interpretação de Moshe de uma visão profética. A Torá também não foi escrita por Moshe através de «inspiração divina». Acreditamos que Moshe foi de facto o escritor da Torá, mas a Torá foi-lhe literalmente ditada por D’us. D’us falou com Moisés sem qualquer intermediação. Esta forma de «comunicação direta», que está acima da profecia de qualquer outro profeta, foi possível porque Moshe estava totalmente consciente enquanto ouvia D’us. Como disse o Rabino Pereira Mendes «… Moshe não recebeu a mensagem de D’us em visões ou parábolas … mas sim estando em plena posse das suas faculdades.»
Estar consciente durante a receção da profecia também permitiu a Moshe «falar» com D’us, iniciar a comunicação com D’us. Algo que nenhum outro profeta alcançou… Embora tenhamos textos que descrevem diálogos entre outros profetas e D’us, a tradição judaica explica que esses diálogos ocorreram na visão profética, não na vida real. Moshe Rabbenu, pelo contrário, podia comunicar-se com Deus à vontade: «sempre que o desejasse, ele podia ser envolvido pela inspiração divina, e a profecia descia sobre ele» (Maimonides, Yesodé haThora 7: 6), o que lhe permitia estar em contato constante com D’us.
Portanto, Moshe foi capaz, por exemplo, de fazer uma pergunta a D’us, algo que nenhum outro profeta poderia fazer. Após o pecado do bezerro de ouro, houve um encontro muito próximo entre D’us e Moshe. Moshe orou a HaShem para perdoar o povo judeu. A certa altura, Moshe Rabbenu disse a HaShem: «Faz-me conhecer a Tua glória.» Os nossos Chachamim explicaram que Moshe estava a fazer uma pergunta muito difícil a D’us : «Porque permites que aconteçam coisas más a pessoas boas?» Talvez em nome de toda a humanidade, Moshe fez a D’us a pergunta que tantas vezes confunde as nossas mentes. A resposta de HaShem a Moshe dá assunto para uma extensa análise. Mas no que diz respeito ao nosso tema, D’us mostrou a Moshe (e a nós) que a resposta para isso, e para outras questões desta natureza, está para além da compreensão de qualquer homem (כי לא יראני האדם וחי), mesmo de Moisés. Isto ensina-nos que mesmo o maior dos profetas, Moshe, era um ser humano com limites; ele não era um homem-deus. Moshe sabia disso e é por isso que a Torá diz que, apesar do seu alto nível de profecia (ou talvez graças a ele) Moshe era o homem mais humilde à face da terra.
Ora, porque é tão importante enfatizar que a profecia de Moshe nunca será substituída por outro profeta no futuro? Porque a Torá foi-nos dada por intermédio de Moshe. E, como vamos aprender no próximo princípio, a Torá é eterna e imutável. Conceber que outro profeta possa atingir o nível de Moshe Rabbenu abriria a possibilidade de que nossa Torá pudesse ser mudada ou substituída por esse outro profeta ח»ו.
Os 13 Princípios – 6º Princípio (parte 2 de 2) – A escola de profetas

Os 13 Princípios – 6º Princípio (parte 2 de 2) – A escola de profetas

Pelo rabino Yosef Bitton

Estamos a explicar o sexto princípio da fé judaica: D’us comunica-Se com os homens através da profecia.
No texto anterior dissemos quais são os três requisitos para uma pessoa ser candidata a receber a profecia (veja  aqui ). Comentámos que além de ser um homem (ou uma mulher, já que houve 7 profetisas em Am Israel) com temor a D’us, e com total controlo sobre os seus impulsos físicos e psicológicos, o profeta deve ajustar a sua mente à realidade de D’us, deixando à parte o habitual e o material. O futuro profeta tinha que se comportar como se fosse «absolutamente rico», isto é, com total desinteresse em acumular mais bens materiais. E obviamente, uma mente que esperava receber uma mensagem de D’us não poderia ser distraída por atividades mundanas.
Parafraseando o rabino Chaim Pereira-Mendes: «Os profetas eram homens dedicados à oração. A sua principal ocupação era a conexão espiritual com D’us e a meditação constante em Suas palavras … tudo isso aliado a uma conduta moral impecável … assim os homens e mulheres da Bíblia foram preparados para receber inspiração ou mensagens divinas (esta preparação é conhecida em hebraico como התנבאות). Assim como a consequência do exercício físico é o desenvolvimento de maiores possibilidades físicas, esses exercícios mentais resultavam em maior desenvolvimento espiritual, e o candidato a Profeta alcançava maiores possibilidades espirituais.»
De acordo com a nossa tradição, havia escolas para a formação de profetas, como a estabelecida pelo profeta Shemuel. Os alunos dessas escolas eram chamados de «bene hanevi’im» (בני הנביאים), ou seja, «aprendizes de profetas». Nesta escola preparavam-se para atingir o nível de comportamento e compreensão que lhes permitisse renunciar à ambição material, adquirir força para controlar os seus impulsos e alcançar a humildade, que é a chave da sabedoria. De acordo com alguns geonim, os aspirantes a Profetas eram também treinados em técnicas que hoje chamaríamos de «meditação», ou seja, controlo mental e concentração para «tolerar» a experiência muito profunda de absorver uma visão que vem diretamente de HaShem; um esforço mental indescritível, que, como diz Maimónides, deixava os profetas exaustos. (Se o leitor está interessado em saber mais acerca do fascinante mundo da profecia, recomendo ler as obras do Rav Aryeh Kaplan, z»l, especialmente o livro Inner Space: Introduction to Kabbalah, Meditation and Prophecy).
Quando uma pessoa conseguia aperfeiçoar o seu caráter, mente e espírito nos níveis mais elevados, estava pronta a receber a profecia. E tentava meditar e «sintonizar» o seu pensamento com a palavra de HaShem (esta atividade é chamada na Torá de מתנבאים, אֶלְדָּד וּמֵידָד מִתְנַבְּאִים בַּמַּחֲנֶה).
Mas ainda assim, não havia garantia de que o profeta aprendiz necessariamente fosse receber a profecia. De alguma forma, receber a mensagem profética pode ser comparado a receber um telefonema de HaShem. E a perfeição de caráter alcançada pelo aspirante a profeta pode ser comparada a ter um telefone celular. Obviamente, se a pessoa não tiver um telefone, não poderá receber essa chamada. Mas, por outro lado, o fato de alguém ter o telefone ativado e sintonizado na frequência Divina não garantia que receberia aquela chamada. Essa pessoa era um potencial recetor da chamada de D’us. Mas a decisão final de ligar ou não ligar é prerrogativa de HaShem.
Os 13 Princípios – 6º Princípio (parte 1 de 2) – A profecia: quem pode ser profeta?

Os 13 Princípios – 6º Princípio (parte 1 de 2) – A profecia: quem pode ser profeta?

Pelo rabino Yosef Bitton
Hoje começaremos a explicar o sexto princípio da fé judaica: D’us se comunica com o Homem através da profecia. 
Como uma introdução a este tópico fascinante, primeiro veremos quais são os requisitos para uma pessoa ser candidata à profecia. 
Os profetas de Israel foram seres humanos excecionais, chamados por D’s para fazer o povo judeu e / ou seus governantes retornarem ao bom caminho (teshuva). Para merecer essa delicada missão, os profetas deveriam ser indivíduos exemplares e possuir um caráter extremamente refinado.
Maimónides explica que o profeta podia ser reconhecido porque tinha 3 características que são a condição sine qua non para uma pessoa ser candidata a receber a visão profética. No entanto, essas 3 características não garantiam que o indivíduo recebesse o chamado de HaShem (= profecia, em hebraico נבואה). HaShem poderia ou não se comunicar com ele, como Ele quisesse. HaShem comunicar-se-ia com o profeta se considerasse que este indivíduo poderia inspirar o povo de Israel a fazer Teshuva.
As 3 características do profeta são: Força, sabedoria e riqueza material (חכם, גיבור, עשיר).
No seu comentário sobre a Mishná, Maimónides explica a que se refere cada uma destas virtudes.
FORÇA: Isto não significa que o candidato a profeta tivesse que ser capaz de derrotar todos os homens contra os quais lutasse. «Força» significa que o candidato a profeta deve ser capaz de se controlar. Que controle e, se necessário, supere, os seus impulsos físicos. Esta força emocional tinha que se manifestar principalmente nas seguintes 3 áreas: a) Os impulsos mais básicos, como a comida e a sexualidade. O profeta, como qualquer outro Yehudi, não precisava de eliminar esses impulsos, mas sim de canalizá-los. Ou seja, dar-lhes o lugar, a hora e as formas adequadas. E resistir a eles quando não for apropriado. b) Depois, há os instintos um pouco mais difíceis de dominar. Esses impulsos são mais psicológicos do que físicos e, ao contrário dos dois primeiros, não os compartilhamos com os animais. Refiro-me em especial à fala. Controlar o que se diz. Por exemplo: lashon hará , fofocas, palavras ofensivas, vaidades, etc. E controlar também o que se vê, pois o que vemos afeta o que pensamos. c) Finalmente, a área mais difícil de dominar é o pensamento. O candidato a profeta deve ser capaz de controlar a sua mente. Ser capaz de atingir uma concentração perfeita. Abstrair-se das distrações. Se um homem não fosse capaz de fixar o seu pensamento e focar-se totalmente em D’us, não poderia receber a Sua profecia.
SABEDORIA: A sabedoria não consiste em saber tudo, mas em tentar aprender com todos. O candidato a profeta é um ser humano que nunca sente que não tem mais o que aprender. Ele nunca para de aprender. Está em constante crescimento intelectual e espiritual. A sua sede de conhecimento está particularmente concentrada na área da Torá. O candidato a profeta quer saber mais sobre HaShem (ידיעת ה ‘). Saber mais sobre as Suas obras, sobre a Sua vontade, sobre a Sua sabedoria. Ele quer descobrir. E à medida que a sua experiência de vida o enriquece, o candidato a profeta atinge novos níveis de compreensão. Supera-se. Evolui. Por exemplo: à medida que a nossa certeza sobre a existência de D’us cresce, a nossa percepção da realidade que nos cerca muda. Quanto mais certos estamos da Sua existência, menos nos importamos com distrações materiais, e vice-versa.
«Sabedoria» é o oposto de «estagnação», intelectual e espiritual.

 

RIQUEZA : Finalmente, o candidato a receber a profecia deve ser um homem materialmente rico. O dinheiro não lhe pode faltar. Ou seja, deve ter todas as suas necessidades e ambições materiais atendidas. «Rico» é aquele que não precisa mais do que já tem. Independentemente de quanto tiver. No judaísmo, a riqueza não é medida pelo que se tem, mas pelo que se necessita. Um candidato a profeta era considerado rico mesmo que tivesse um capital total do equivalente a 100 dólares, se não precisasse de mais do que esses 100 dólares. Enquanto outro candidato seria considerado pobre mesmo se tivesse um milhão, se quisesse ou «precisasse» de ter dois milhões. A fórmula para medir a riqueza material não é: quanto mais você tem, mais rico você é. A fórmula é: quanto menos você precisa, mais rico você é.
Os 13 Princípios – 5º Princípio (parte 2 de 2) – Rezar só a HaShem

Os 13 Princípios – 5º Princípio (parte 2 de 2) – Rezar só a HaShem

Os 13 Princípios – 5º Princípio (parte 2 de 2) – Rezar só a HaShem

Pelo rabino Yossef Bitton

 

Na primeira parte explicámos que um dos 13 princípios da fé judaica é orarmos apenas a HaShem, De’s. Dirigimos-Lhe as nossas orações diretamente, sem intermediários. Isto é, não oramos a “santos”, a “anjos” ou a “espíritos”. Apenas e diretamente a D’us.
Explicámos também que podemos e devemos orar uns pelos outros, e isso não é considerado intermediação.
O que também podemos fazer é orar a HaShem e pedir-lhe que ouça a nossa Tefilá pelo mérito dos nossos antepassados. Geralmente invocamos o mérito de Abraão, Isaac e Ya’aqov. Isto é claramente afirmado na Amidah: “vezocher chasdé Avot”, HaShem, lembra-Te, isto é, “considera a nosso favor”, o mérito dos nossos antepassados.
O que é considerado idolatria é rezar a outro ser, humano ou não humano, vivo ou morto; a qualquer outra coisa ou entidade que não seja HaShem.
Exemplo: HaShem realizou milagres através de Moshe Rabbenu, Eliyahu haNavi, etc. . Ora, orar a Moshe, a Eliyahu haNabi ou ao Rabino Meir é uma transgressão séria. Não posso dizer, por exemplo: “Eiyahu haNavi, ou Rabi Meir, por favor, responde-me, salva-me, faz um milagre”, etc. Isso seria totalmente errado.
Imagino que algumas pessoas podem cair neste e noutros erros semelhantes involuntariamente devido a uma situação de desespero, na qual desejam fervorosamente que as suas orações sejam ouvidas.
E embora, como explicaremos mais adiante, Bz’H, não haja garantia de que as nossas orações sejam sempre atendidas por Boré Olam ao nosso gosto, os nossos Profetas e os nossos Sábios alertaram-nos de que existem fatores que causam que as nossas orações sejam completamente ignoradas por HaShem, mesmo quando estamos a orar diretamente a Ele.
O que pode fazer com que as nossas orações sejam rejeitadas por HaShem é a nossa má conduta. Ninguém descreveu este cenário de hipocrisia religiosa melhor do que o Profeta Yesha’ayahu, quando ele disse em nome de D’us: (1:15) “Quando estenderdes as mãos em oração [para Mim], Eu desviarei o olhar de vós. E mesmo que Me dirijais várias orações, NÃO vos ouvirei. Yesha’ayahu afirma que às vezes HaShem não olha para nós, nem ouve as nossas orações. Mas, em que situações HaShem rejeita as nossas orações? O final deste versículo 1:15 diz isso explicitamente: Não vou ouvir as vossas orações porque “as vossas mãos estão cheias de sangue”. O povo era corrupto. Matavam, roubavam, enganavam, subornavam. Não protegiam a viúva, o órfão ou os pobres. Pelo contrário: abusavam dos mais fracos, daqueles que não eram capazes de se defender. Essas pessoas más vieram para o Bet haMiqdash depois de cometer todas essas imoralidades e ousaram orar a D’us, como se HaShem não visse o que fazemos, ou como se houvesse uma total desconexão entre o que fazemos e o que oramos, ou como se HaShem pudesse ser “subornado” com orações ou sacrifícios… E, por essa razão, HaShem os rejeitou, e NÃO deu ouvidos às suas orações.
Yesha’ayahu haNabi explicou-lhes: Com o nosso D’us, não funciona assim. HaShem rejeita a oração dos ímpios.
Mas, Yesha’yahu disse: essa situação pode ser corrigida. E para que essa situação se inverta, para que D’us esteja disposto a ouvir as suas orações, Yesha’ayahu diz-lhes: (1: 16-17) «Purificai-vos (= arrependendo-se das suas más ações) … parai de fazer o mal. Aprendei a fazer o correto. Procurai justiça. Protegei os oprimidos. Defendei a causa do órfão e da viúva. Então HaShem ouvirá atentamente as suas orações.
Termino com as belas palavras do Rabino Chaim Pereira-Mendes (1852-1937) sobre este mesmo assunto: “A oração sem conduta adequada é pior do que inútil. É um insulto a D’us. Os nossos profetas condenaram a oração e os sacrifícios…. quando nossa conduta é inaceitável para D’us. Orações sem a conduta correta … falham no seu propósito. Não podemos esperar que D’us responda às nossas orações a menos que pratiquemos justiça, e a compaixão e caminhemos humildemente diante dEle.”
Leia os textos anteriores aqui: