Liberdade

Comentário sobre a Festa de Pessach

Pelo Rabino Nissan ben Avraham

 
Será que entendemos?

Nossos sábios nos garantem que a Torá é a nossa verdadeira liberdade.cego-surdo-mudo

É estranho dizer algo assim, quando sabemos que a Torá está repleta de mandamentos – 613, de acordo com a computação tradicional. Praticamente não nos permite nenhum tempo “livre”. Como podemos dizer que, precisamente a Torá, é a nossa liberdade?

A resposta clássica é q “você não entende o que realmente significa ser livre”. E isso pode irritar ainda mais…

Mas talvez seja verdade …
Sem desenvolvimento

O que significa “ser livre”? Poder fazer o que bem quisermos?

Eu, por exemplo, não sou livre para tocar guitarra ou piano… Já que não estudei música e não desenvolvi as qualidades que provavelmente não me faltaram, as desperdicei. Se eu tivesse estudado música, e tivesse passado horas e horas me esforçando, através de práticas e repetições intermináveis ​​para dominar as técnicas, seria agora livre para desenhar belas melodias de piano ou guitarra.

Os verdadeiros guitarristas e pianistas, e ainda mais os violinistas, devem passar muitas horas estudando e praticando para poderem alcançar essa liberdade de tocar belas melodias.

E quantas outras qualidades e habilidades eu possuo? Quantas destas foram devidamente desenvolvidas? É possível dizer que um homem cego não é livre para não ver a paisagem? É possível dizer que um mudo não é livre para falar? Não faz qualquer sentido! Quem não pode ou não sabe usar suas habilidades, não pode ser considerado livre ao usá-la, ou deixar de fazê-lo. A conclusão é simples:

Eu não sou livre!

Somente quando desenvolver minhas habilidades, poderei dizer propriamente que sou livre para usá-las ou deixar de usá-las.

Mesmo em questões que acreditamos não haver nenhum problema como, pensar, por exemplo, certamente estamos longe do certo. Existe uma técnica chamada “lógica”, que é a de pensar corretamente e a qual, muitos, não sabem usá-la corretamente.

Mesmo memorizar nossos estudos não somos completamente capazes: “estudamos para esquecer”, disse o Maharal de Praga, há 400 anos atrás. E isso não é nada bom.
Liberdade para ser bom

E agora, devemos considerar que estes são apenas “instrumentos” para desenvolver aquilo que realmente nos interessa: as virtudes e a nossa conexão com o Criador.

Não têmos o conhecimento necessário para desenvolver nossas virtudes. Não é suficiente “querer ser bom”, mas devemos querer aprender o que significa exatamente ser bom em tal situação e como ser em quaisquer outra. Quando todos são amigáveis, não é difícil ser bom com eles. O problema é quando são pessoas estúpidas ou mesmo não amigáveis, que desprezam sua bondade. O que você faz nessas situações? Você tem o conhecimento necessário para seguir sendo bom nestas condições?

No livro de Provérbios, lemos que a Torá nos ensina todas estas técnicas, e também as virtudes; no estudo da Torá – a Escrita, juntamente com a Oral – aprendemos o verdadeiro significado de ser bom. E como esta “bondade” é subdividida em muitas outras virtudes, cada qual para um caso diferente: para pobres e para ricos, vivos e mortos, doentes e o casal que se casar em algumas semanas, e etc.

Bondade, é claro, é apenas uma das muitas virtudes. Qual destas podemos esquecer ou menosprezar? Quando podemos dizer que “somos livres” para usar-las, ou não usar-las?
A Escravidão

Agora temos de tentar entender o que a “escravidão” significa. Existem diferentes tipos de escravidão, mesmo hoje.

Em primeiro lugar, está a ignorância. Um ignorante é um escravo trancado em um calabouço escuro, acorrentado à parede incapaz de se mover, apoiado de quatro sobre seus “cotovelos”. Não sabe a diferença entre o bem e o mal, a luz e a escuridão. Aqueles que “escolhem” viver na ignorância enganam a si mesmos, como se em seus anos de vida, não tivessem tido nenhuma meta que o Criador não tenha imposto.

Depois, há a família ou as pressões sociais. Nós coagem através de uma série de imposições com as quais não nos sentimos conectados. Embora sejam coisas boas, realmente. Mas nós não as escolhemos, seja porque não as entendemos ainda, ou porque nos incomoda que as imponham sobre nós.

A rotina é uma escravidão cruel. Não ser capaz de decidir a qualquer dado momento se devemos ir em frente ou se devemos voltar. Tornamo-nos escravos de alguns tipos de comportamento, sem nem mesmo sentir que se tratam de problemas sérios. Somente quando a rotina é sujeita a testes de validade podemos dizer que se trata de um instrumento positivo e necessário.

Quando a rotina chega a um extremo de “vício”, já está doente e vai precisar da ajuda de especialistas, medicação e tratamento especial para se livrar desta.
Os Tempos

Sem querer dizer que os tempos nos limitam ou nos escravizam, podemos dizer que existem momentos ideais para determinadas atividades. No período em que digerimos a comida após uma boa refeição, não é o melhor memento para se exercitar. O clima seco e quente não é o mais adequado para o plantio de uma árvore. Tudo tem seu tempo adequado, aque com as melhores condições, com melhores chances de sucesso.

A Torá nos ensina a santificar o tempo. Quando entendemos que este é o melhor momento para uma determinada atividade, e que, dentro de alguns poucos minutos, já não poderemos mais obtê-lo, o tempo se torna ouro puro.

Conhecem isso, muito bem, todos aqueles que estiveram frentes às portas da morte, percebendo que, de repente, lhes havia terminado o tempo. Nesta vida temos a oportunidade de agir, de fazer as coisas. Aquilo que o Criador nos impõe. Quando terminar este tempo, já não poderemos mais fazê-lo.

E em algumas épocas do ano, estão os momentos ideais para obter algum conhecimento ou capacidade que, em outro momentos, pode ser muito mais difícil, ou mesmo, impossível, de alcançar. Temos um tempo de alegria, na festa de Sucot. E temos, também, um tempo de liberdade.
A Época da Liberdade

Há 3328 anos atrás, as tribos dos filhos de Israel sairam da escravidão do Egito para se tornar um povo livre. Sua liberdade começou no próprio desejo de ser livre e querer aprender a desenvolver suas qualidades, assim como o fazemos nas sete semanas do Omer, que acontecem de Pessach à Shavuot. Estas são semanas mágicas nas quais podemos alcançar os melhores resultados com menores esforços, seguindo instruções milenares que já se mostraram eficazes.

A Festa de Pessach é chamada de “época da nossa liberdade”. E agora entendemos que não se trata, somente, de uma liberdade física, mas também, intelectual e espiritual. Nestes dias nos é mais fácil se livrar de todas essas amarras que tem nos impedido de progredir ou nos estancado no mesmo lugar.

A época propícia para se livrar dos grilhões da rotina, da opressão da coerção social ou da ignorância. Um tempo precioso que não deve ser desperdiçado e sim utilizado para iniciar o processo de liberação de nossa escravidão pessoal.

E nacional. O povo de Israel está sujeito a uma série de pressões internacionais, além de seus próprios problemas de ‘escravidão’ para as rotinas, preconceitos, falsas “tradições” medievais que, como dizem nossos sábios, temos a obrigação de erradicar de dentro de nós.

Precisamos urgentemente de um processo de libertação da ignorância nacional em assuntos espirituais. O estudo da Torá deve atingir o nível nacional. Não somente que mais pessoas, indivíduos, estudem a sagrada Torá, mas que seja feito a nível nacional. Que as questões políticas sejam analisadas de acordo com os critérios da Torá, através de uma visão divina.

Não têmos tempo a perder!

Iom Kipur

 

E falou o Senhor a Moisés, dizendo: “Mas aos dez dias desse sétimo mês será o dia da expiação, tereis santa convocação, e afligireis as vossas almas; e oferecereis oferta queimada ao Senhor.E naquele mesmo dia nenhum trabalho fareis, porque é o dia da expiação, para fazer expiação por vós perante o Senhor vosso D’us. Porque toda a alma, que naquele mesmo dia não se afligir, será extirpada do seu povo. Também toda a alma, que naquele mesmo dia fizer algum trabalho, eu a destruirei do meio do seu povo. Nenhum trabalho fareis, estatuto perpétuo é pelas vossas gerações em todas as vossas habitações. Sábado de descanso para vos será, então afligireis as vossas almas, ao nono dia do mês à tarde, de uma tarde a outra tarde, celebrareis o vosso sábado”. (Levítico 23:26-32)

O dia anterior ao Yom Kipur é um dia de preparação para o jejum:

• deve-se separar o dinheiro para a caridade e levá-lo para a sinagoga aonde distribuirão entre várias instituições, seja de caráter religioso ou social.
• Uma vez que o Yom Kipur não expia os pecados cometidos uns contra os outros, a menos que a parte lesada tenha concordado em perdoar o autor do delito, este dia deve ser considerado “a data limite” para a reconciliação entre duas pessoas e para expressar arrependimento e pedir perdão. Não há diferença se o ato foi cometido através de coisas materiais ou por um insulto verbal. D’us não perdoa a não ser que a parte prejudicada tenha perdoado. De qualquer maneira, a pessoa que foi prejudicada deve sentir que é a sua obrigação conceder o perdão de todo o coração. Se teimosamente persistir na recusa, este é considerado cruel, por não ter se comportado como um filho digno do povo de Israel.
• A comida à noite, antes do jejum deve ser festiva. No entanto, não deve-se comer demais ou comer qualquer coisa que possa causar sede, pois isso tornaria o jejum ainda mais difícil.
• Antes de sair de casa para ir à sinagoga é costume que os pais abençoem seus filhos.

§ A Torá especifica que o jejum deve começar no nono dia do mês, ou seja que o Yom Kippur, na verdade, começa antes do pôr do sol, quando ainda há luz. E somente termina no anoitecer do dia seguinte. Esta “noite” não é o pôr do sol, e sim um pouco mais tarde, quando aparecem estrelas no céu. O tempo de espera depende da latitude geográfica (na parte sul da América do Sul estrelas geralmente aparecem no céu, em torno de 40 minutos após o pôr do sol).

§ O preceito bíblico “afligireis as vossas almas” é observado com um jejum total e completo, abstendo-se de toda a comida e bebida durante todo o período (aproximadamente 25 horas).

§ No que diz respeito a trabalhar, o Dia da Expiação segue as mesmas regras que o Shabat de todas as semanas, com as mesmas exceções do Shabat para caso a vida de uma pessoa esteja em perigo. O que é proibido no Shabat é proibido no Yom Kipur! Como está proibido jejuar no Shabat, uma vez que diminui a alegria deste dia especial, todos os outros jejuns que coincidirem com o Shabat são adiados ou antecipados para o domingo, ou para a quinta-feira; mas se o Yom Kippur coincide com o Shabat, deve-se jejuar neste dia e “afligir a alma”. Alguns explicam que jejuar com o próposito de expiação não contradiz as exigências do Shabat. Outros simplesmente acreditam que o Yom Kipur tem prioridade e baseam a sua opinião no fato de que Yom Kipur é chamado de “Shabat Shabaton”, o Shabat dos Shabat!

§ A Lei Oral nos ensina que, além da proibição de comer e beber, o preceito de “afligireis as vossas almas” significa também, sanções menos severas, como se lavar e banhar, ungir o corpo, usar sapatos (aplica-se apenas a sapato de couro) e ter relações sexuais.

§ Usar o vaso sanitário é proibido se o faz por prazer (shel ta’anug). Se for para limpar o corpo ou ao se levantar pela manhã, é permitido (kedarcó).

§ Uma pessoa que está doente ou cujos pés lhe doem, pode usar sapatos normalmente.

§ Crianças menores de nove anos de idade não têm permissão para jejuar, pois pode lhes ser prejudicial à saúde. A partir dos nove anos devem ser gradualmente acostumados a jejuar, cada vez mais por mais tempo, até conseguirem jejuar completamente. Meninas maiores de doze anos de idade e garotos maiores de treze, jejuam normalmente, como qualquer adulto.

§ O Yom Kipur pode ser profanado apenas por algum motivo de doença grave. O desejo expresso pela pessoa doente ou a opinião do médico devem ser os fatores determinantes para a concessão de tal dispensa. Em tais casos, a decisão deve ser tomada uma rabino.

§ Uma mulher que está dando à luz (desde o momento que começa a sentir as dores do parto) e durante os três primeiros días depois do nascimento, não está permitida jejuar, mesmo se insiste em fazê-lo. Do terceiro ao sétimo dia após o nascimento pode jejuar se quiser, mas pode, também, quebrar o jejum, caso sinta necessidade.

§ A reza que abre o Yom Kipur, é chamada de Kol Nidrei (todas as promessas) e possui um grande significado histórico e emocional. Assim como a reza que encerra o jejum, que é chamada de Neilá, que significa “fechamento”. Fora quando a pessoa volta para casa para descansar ou dormir, todo o período é dedicado a orações e preces.

§ O uso de roupa branca em Yom Kippur – roupas, vestido branco (kittel), chapéu branco – é para lembrar as mortalhas brancas (tachrichim) com as quais são enterrados os mortos, de acordo com o costume judaico, e assim despertar o coração do povo. O branco representa também a pureza e simboliza a promessa profética: “ainda que os vossos pecados sejam como a escarlata, eles se clarearão como a neve” (Isaías 1:18).

§ A conclusão do Yom Kipur é marcada por um toque único e prolongado do Shofar, que simboliza a “Quando soar prolongadamente o som do shofar…” (Êxodo 19:13), que marca a conclusão da Revelação no Sinai. Também para recordar a comemoração que se fazia com o shofar em Yom Kipur no início do ano Jubileo.

§ Depois de Yom Kipur, deve-se começar a se preparar para a festa de Sucot, quatro dias depois, construindo uma sucá e adquirindo as quatro espécies: lulav, etrog, hadas e arava.

Texto extraído do livro “El Ser Judío” por David Hayim Halevi Donin

Não Perder a Cabeça em Purim

file_0Os conselheiros, e a mulher, de Haman, lhe disseram: “Se Mordechai é a semente dos Yehudim… você vai cair diante dele” (Ester 6:13). Este verso é, superficialmente, incompreensível: os conselheiros dizem “caso ele seja da semente dos Yehudim…”, parece que existe uma dúvida se Mordechai é mesmo um Yehudi, embora conheçamos a história de que o decreto para matar todos os judeus, se materializou, precisamente, pois este próprio Mordechai recusou-se a se curvar perante Haman (ibid. 3: 6). Sendo assim, como se explica que tanto sua esposa quanto seus conselheiros, falavam com Haman, como se não tivessem certeza da linhagem de Mordechai?

Para responder esta questão, devemos voltar para a história do primeiro pai desta nação, Avraham Avinu. D´us ordena a Avraham a circuncidar-se, mas ao invés de fazê-lo imediatamente, Avraham foi se aconselhar com três de seus amigos mais próximos. Dois deles sugeriram que ele não o fizesse e, apenas o terceiro disse-lhe para não se preocupar e cumprir com a ordem do Criador, sem medo (Bereshit Rabá 42:8). Isso é muito intrigante! Em primeiro lugar, por que Avraham resolve se aconselhar quando recebe esta ordem, algo que não o faz em nenhuma dos demais comandos que recebe de Dús?! E uma vez já pedido o conselho, por que Avraham não escuta a maioria de seus amigos e não circuncida-se?

Consideremos, antes, a situação que precede a este Comando Divino: o Criador havia realizado um pacto com Avraham, o famoso, “Brit Ben HaBetarim”. Este mesmo criador de todo o Universo o “convidou” a uma aliança, aonde Deu Sua palavra, lhe prometeu proteção, e lhe garantiu uma porção no Mundo Vindouro (Rashi, Bereishis 15: 1). O sentimento mais natural naquele momento seria de orgulho e presunção! Ele havia acabado de assinar um acordo com, nada mais e nada menos, que o Todo-Poderoso! Lhe foi garantido tudo o que é mais importante, tanto no âmbito físico como no espiritual. O que mais ele poderia querer? Como podia sair desta embriaguez que, certamente, lhe abateu após sentir tamanho êxito? Avraham não “perdeu a cabeça”, manteve a cabeça baixa e foi pedir um conselho, como dizendo: “Eu não sou importante”, pois o menor necessita conselhos. Ou seja, a Avraham não foi permitido se tornar arrogante. A prova é que Avraham não foi se aconselhar, por necessidade, e sim para humilhar-se, uma vez que ignorou a opinião da maioria. Isto mostra, que seu único interesse era diminuir-se em seus próprios olhos e não sentir-se importante. Portanto, o “conselho” de seus amigos é completamente irrelevante (pois de qualquer maneira ele tinha a intenção de realizar a vontade do Todo-Poderoso, como o fez toda a sua vida), o importante para ele, era, na verdade, o ato de pedir um conselho.

Voltando a Haman, assim lhe disseram, sua esposa e seus conselheiros: “Caso Mordechai seja um verdadeiro descendente de Avraham, que se rebaixou, de modo a não ficar convencido, então você não poderá ir contra ele… no entanto, se ele é como qualquer outro homem, que depois de ser exaltado e elevado, por ter usado o cavalo e as roupas do rei, se enche de orgulho, com certeza você poderá ir contra ele, que, você prevalecerá”. A realidade era que Mordechai sabia que o segredo era não deixar o sucesso subir à cabeça, assim como nossos Sábios que, após desfilar pela cidade como um herói, ele voltou a vestir seu saco (uma roupa que desperta a Teshuva – despertar espiritual) e voltou a jejuar (16a – Tratado de Megilá). Em outras palavras, Mordechai não se vangloriou de sua nova posição.

Uma boa semana e um Feliz Purim!!

Extraído da Drashá do Rabino Michael Perets

Um Mar de Pessoas

Comentários sobre a festa de Pessach

 

As três festas de peregrinação (Shloshet Haregalim)Shloshethreglim2-300x211

A festa de Pessach é uma das três festas chamadas de “festas de peregrinação”, juntamente com Shavuot e Sucot. O significado desta expressão é que, nestas três datas, o povo de Israel deveria deixar suas casas e campos para chegar a Jerusalém e participar das festividades do Templo.

Para poder chegar a tempo, tinham que deixar suas casas uma ou duas semanas antes do início da festa, em grandes caravanas de peregrinos, juntamente com toda a família e, alguns animais para os sacrifícios do Templo.

Se fosse em Pessach, deveriam pensar não somente em um cordeiro para a noite do Seder, mas também em algum outro animal para o abate de “Chagiga” – isto é, o sacrifício de ‘festa’ sacrificado pela manhã e que podia ser consumido nos dois primeiros dias e durante a primeira noite. Certamente trariam muitos outros animais para comer durante a semana que durava Pessach ou Sucot, uma vez que neste feriado, a alegria é ‘obrigatória’ e o dito talmúdico diz que “não há alegria sem carne (de gado) e vinho”.

Nem todos possuíam animais suficientes para trazer ou mesmo como trazê-los ao Templo, então vinham os pastores a Jerusalém, com grandes rebanhos de gado, maiores e menores, proporcionando aos peregrinos, mais esta opção.
Um mar de pessoas

Definitivamente um dos primeiros efeitos destas peregrinações é o contato direto, durante todo o período da festa, com milhares de outras pessoas, até então desconhecidas e das quais, muito provavelmente, nunca os verá novamente. Um mar de pessoas subindo as escadas em direção ao Templo, desde a cidade de David, no período do Primeiro Templo, ou a partir da colina ocidental, durante o Segundo Templo. Todos já se haviam banhado nas vários ‘mikva’ot’ que haviam nas redondezas, antes de poderem entrar nos recintos sagrados do Monte do Templo.

Esse contato, esse sentir-se parte de um enorme grupo de pessoas com o mesmo objetivo, no mesmo sentido, fora de todos os efeitos espirituais que ocorrem graças aos sacrifícios e à presença no templo, muda completamente a perspectiva das pessoas que participam do evento.

Em um estudo publicado na National Geographic, em Israel, a Sra. Laura Spini explica sobre a festa hindu que acontece na cidade de Allahabad, a cada primavera. Chegam dezenas de milhões de pessoas a localidade para, por uma semana, banhar-se no rio Ganges, transformando o evento na, provavelmente, maior festa religiosa do mundo. Uma equipe de psicólogos liderados pelo Dr. Steven Fitting, da Universidade britânica de St. Andrews, buscaram examinar os efeitos de viver em duras condições de peregrinação nos participantes do chamado, Maha Kumbh Mela.
Identidade Coletiva

Se poderia pensar que o indivíduo perde a sua personalidade particular neste momento, podendo levar à perder sua capacidade de pensar com sabedoria e agir com moralidade, características estas, tão básicas, que nos tornam humanos. Mas o estudo mostra que esses encontros são importantes e até mesmo, essenciais para a sociedade. Realmente nos ajudam a consolidar um sentimento de identidade coletiva, ajudando a criar novas relações com os outros e inclusive, melhorar a nossa sensação física.

É verdade que existe diferença entre a multidão física e a psicológica. Ou seja, não é o mesmo quando muitas pessoas se juntam no metro ou até mesmo em um festival de musica, de quando têm um objetivo em comum a realizar. Neste último caso, aprendemos a usar a palavra “nós” em vez da palavra “eu”, mas, sem perder a identidade particular.

Ao participar de um grupo grande, a pessoa pode mudar sua maneira de ver o mundo, diz o psicólogo Mark Levine, colega do Dr. Racor. Reações à superlotação, música alta e local de acampamento, quando realizadas em um mesmo objetivo, principalmente quando se trata de um grande evento religioso, se distinguem das que, no passado, poderiam ser consideradas “normais”.
Contato com a Shechiná

É claro que esta é apenas uma das grandes vantagens da peregrinação ao Templo de Jerusalém, já que o principal é o contato direto com a Presença Divina, muito evidente no Templo. Este contato que gerava o bom humor necessário para que, as pessoas muito qualificadas, chegassem ao nível da profecia.

Mas mesmo quando não se alcançava a profecia, se podia chegar a um estado de espírito próximo da santidade que permitia uma melhor conexão com o Criador, através das orações ou da melhor compreensão das mensagens da Torá e de outros livros do ‘Tanakh’.

O simples contato físico com pessoas santas que frequentavam a peregrinação e se misturavam com o resto dos fiéis, já causava uma grande impressão na alma e condicionava o comportamento de todos os presentes que voltavam, em seguida, fortificados à rotina em suas respectivas casas.

Por tudo isso, esperamos impacientes o momento em que possamos retomar a verdadeira peregrinação. É verdade que, hoje, grandes multidões chegam ao ‘Kotel’, o muro de contenção do Monte do Templo, o lugar mais próximo do Santuário que se pode chegar. Mas, ainda, estamos muito longe do que foi nos dias dos Templos, da peregrinação com um verdadeiro contato com a ‘Shechiná’.

“Que o Templo seja reconstruído em breve, nos nossos dias… “

Orgulho Nacional – Comentários sobre a festa de Purim

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Críticas sobre o comportamento de Mordechai

Muitos autores, seguindo o comportamento dos judeus da época de Mordechai ‘o judeu’, criticam duramente o comportamento deste último durante a “crise de Haman”.

Como sabemos, Haman foi promovido ao posto de primeiro-ministro no governo do Rei Achashverosh (Xerxes), recebendo a honra de que todos os cidadãos do reino deveriam ajoelhar-se para ele, quando passasse. Contudo, pode ser, que esta honra ocultava uma medida preventiva que evitava uma tentativa de assassinato contra sua pessoa.

Mordechai recusou a prostrar-se diante do ministro, e ao ficar sabendo que tal “transgressor” era judeu, Haman decidiu exterminar todo o povo de Israel!

Os companheiros de Mordechai o haviam avisado que seu comportamento traria grandes desgraças, como, de fato, aconteceu e, portanto, o acusavam do desastre que se aproximava.

Como Mordechai pôde fazer tal coisa, colocando em risco não só a si mesmo, mas toda a sua geração e as que viriam depois?
Mordechai ‘o judeu’

Mordechai era um homem velho, que já era membro da Grande Corte de Israel (o Sinédrio) antes da destruição do Primeiro Templo, e foi um dos primeiros a voltar para sua terra natal e começar a reconstrução do Templo após o Exílio babilônico, como consta no segundo capítulo do livro de Ezra (Ezra 2:2).

Este livro nos mostra como, em seguida, os judeus são forçados a parar a construção do Templo e da cidade de Jerusalém por ordem do rei, que tinha sido enganado por alguns emissários amalequitas que haviam chegada da Terra Santa (Ezra 4:5, 4: 24).

Para contrabalancear este “lobby” dos amalequitas, os novos imigrantes judeus enviaram Mordechai ao palácio real aonde se tornou um membro do Tribunal Persa.
O pecado do povo

Na verdade, devemos nos perguntar como foi possível que o Criador impediu a reconstrução de Seu templo em Jerusalém? É claro que algo muito mais grave aconteceu que despertou a ira do Criador para com o Seu povo.

A resposta é simples. O povo, exilado por mau comportamento, havia chegado a Babilônia. Mas, apos 70 anos de exílio, chegava ao trono o rei Ciro que permitiu a eles retornar à sua pátria e reconstruir o Templo. Esperava-se que todos os exilados se levantassem, agarrassem seus pertences e retornassem à sua pátria ancestral. Em contrapartida, o número de judeus que retornaram foi de 42.360 cidadãos, 7.337 escravos e 200 cantores.

Não apenas desprezavam o grande presente do Criador, que devolvia a terra tão bonita para seu amado povo, mas também desmentiam a profecia de Yermyahu (Jeremias) que havia anunciado que, após 70 anos de exílio, os judeus poderiam voltar a reconstruir o país ancestral e o Templo do Criador (Yermyahu 29:10). Nem levaram em consideração que o número de participantes influencia no numero dos mandamentos a cumprir, e que enquanto a maioria dos Filhos de Israel não estão na Terra de Israel, a força dos mandamentos é drasticamente diminuída para um valor simbólico carente da santidade que existiria se todos estivessem presentes.
A “vitória”

E para piorar a situação, quando o Rei Achashverosh realizou uma festa deslumbrante comemorando sua “vitória” sobre o profeta Yermyahu (e o Criador, que havia sido anunciado), os habitantes judeus de Shushan, a capital, não encontram ‘desculpas’ para não participar do banquete. Como podiam celebrar que o Rei Achashverosh tinha “ganhado” do Criador?!

Neste momento, dizem os sábios, os judeus haviam assinado sua sentença de morte, seu extermínio. Faltava apenas uma desculpa para implementá-lo.

O pecado havia sido múltiplo: a falta de iniciativa em deixar o seu ser particular no exílio para reconstituir o lar nacional do povo em ruínas e a falta de orgulho nacional que lhes permitiu participar da festa de Achashverosh.
O antídoto

O antídoto deveria ser a restauração deste orgulho nacional, o sentimento de pertencer ao mesmo povo, um povo santo, com uma missão universal.

Por não se curvar a Haman o amalequita, Mordechai estava tentando inspirar o resto de seus irmãos, que o olhavam com inveja. É verdade que ao obter a resposta cruel de Haman muitos ficam confusos e não sabem se admiram ou criticam a Mordechai, mas quando este juiz toma as rédeas da liderança e ordena a todos um período de três dias de jejum, para apoiar espiritualmente a rainha, infiltrada no castelo, todos respondem de forma positiva. Este esforço conjunto que dá forças a Esther para anular a influência sinistra de Haman sobre o Rei.
Organizando uma nova Aliá

Além disso, muitos deles, pela situação que passavam, decidem naquele momento recolher seus pertences e se preparar para Aliá, a imigração para Israel, embora demoraram para se organizar e de facto realizá-la, como vêmos na continuação do livro de Ezra.

A isso devemos acrescentar o valor que tinha aqueles que já haviam retornado à Terra Santa e que se atreveram, incentivados pelos três profetas Chagai, Zechariá e Malachí (Ageu, Zacarias e Malaquias), a transgredir as ordens do rei e continuar construindo o Templo, como podemos ver nos capítulos 5 e 6 do livro de Ezra.

Em Purim celebramos, então, não apenas o milagre divino que salvou as pessoas de extermínio planejado pelos amalequitas, mas a restauração, ainda que muito parcial e efêmera, do, perdido, sentimento nacional e do orgulho de pertencer a um povo tão especial!