Brasil: a comunidade judaica mais antiga das Américas

Brasil: a comunidade judaica mais antiga das Américas

Por: Rav Menachem Levine

Link para o artigo original em inglês: https://aish.com/brazil-the-oldest-jewish-community-in-the-americas/

A fascinante história dos judeus do Brasil.

Não é em Nova York, em Cincinnati ou na Filadélfia. A mais antiga e primeira comunidade judaica das Américas foi estabelecida no Brasil, onde judeus sefarditas fundaram a primeira sinagoga em Recife em 1636. Esta é a fascinante história dos judeus do Brasil.

Descobrimento Português 1492 – 1624

Após um século de descobertas e colonizações bem-sucedidas, a monarquia portuguesa disse a Pedro Álvares Cabral, no ano de 1500, que levasse seus navios o mais longe possível para oeste para ver se encontrava uma rota alternativa para a Índia. Acompanhando Cabral nesta viagem como intérprete estava um judeu, Gaspar da Gama.

Gaspar foi “descoberto” pelo famoso explorador Vasco da Gama, na Índia, onde Vasco da Gama ficou chocado ao encontrar um homem branco servindo como conselheiro de um dos governantes locais. Vasco Da Gama decidiu que lhe seria útil ter alguém que falasse as línguas orientais, então decidiu levar esse homem de volta para Lisboa. Fez o judeu se converter ao catolicismo e adotar o nome de Gaspar da Gama, em honra do explorador.

Quando Cabral viajou para o Oeste, achou que seria útil ter Gaspar com ele para conversar com os nativos. Depois de cruzar o Oceano Atlântico, chegaram à terra que viria a ser conhecida como Brasil. O primeiro homem a pisar nesta nova terra foi Gaspar. Infelizmente, o seu conhecimento dos dialetos da Índia não serviu de nada para tentar conversar com os brasileiros, e foi então que começou a colonização portuguesa no Brasil.

Depois de descobrir o Brasil, os colonos portugueses foram para o oeste, na esperança de descobrir ouro e prata e estender seu território. Eles eram conhecidos como os Bandeirantes porque carregavam uma bandeira com eles. Com base em seus nomes, os registros sugerem que muitos deles eram conversos, judeus ocultos. Um dos bandeirantes mais importantes foi Fernando de Noronha, um converso português com muitos contatos na corte lisboeta. Ele convenceu a Coroa a arrendar-lhe a terra e que lhe daria em troca uma madeira chamada Pau Brasil que fornecia um corante e outros itens preciosos que encontrasse. A madeira que ele enviou deu à terra o nome de Brasil.

Os historiadores sugerem que seu esquema de arrendamento foi um esforço para ajudar os judeus portugueses, criando um lugar para eles viverem longe das crescentes ameaças da Igreja Católica e da Inquisição. Isso era crucial, porque depois de serem expulsos da Espanha em 1492 pelo infame Decreto de Alhambra, muitos judeus espanhóis se mudaram para Portugal, onde havia muito mais tolerância para com os judeus.

Mas este refúgio chegou ao fim em 1497, quando Portugal expulsou os seus judeus. Nesse ponto, alguns judeus se mudaram para a Holanda e outros tentaram se mudar para as colônias distantes, esperando chegar o mais longe possível do governo centralizado e de sua Inquisição. Assim, muitos cristãos-novos ou conversos se estabeleceram no Brasil, onde se beneficiariam com a colonização de Fernando de Noronha.

Brasil holandês 1624-1654

Em 1600, a Companhia Holandesa das Índias Orientais, que importava especiarias e produtos exóticos do Extremo Oriente, tinha grande sucesso. Assim, os holandeses decidiram criar uma Companhia das Índias Ocidentais, que importaria recursos naturais de Nova York, das ilhas do Caribe e do Brasil, grande produtor de açúcar.

Os holandeses derrotaram os portugueses no nordeste do Brasil e começaram a estabelecer ali um assentamento holandês, chamado Nova Holanda. Os holandeses permitiram a liberdade religiosa na Nova Holanda. Como resultado, muitos convertidos portugueses que viviam nas áreas do Brasil controladas pelos portugueses se mudaram para lá, para se tornarem novamente judeus de pleno direito. Duzentos judeus holandeses também faziam parte do assentamento holandês original. Os judeus estabeleceram uma variedade de negócios na Nova Holanda e estiveram particularmente envolvidos no desenvolvimento da indústria açucareira do Brasil.

A maioria desses mercadores judeus morava na Rua dos Judeus. Foi nesta rua que foi construída a primeira sinagoga do Hemisfério Ocidental, em 1636. Chamava-se Kahal Tzur Israel, a Rocha de Israel.

Os registros da sinagoga mostram uma comunidade judaica bem organizada, com alta participação, incluindo uma escola Talmud Torá, um fundo de tzedakah e um comitê executivo de supervisão. Em 1642, Rabi Isaac Aboab da Fonseca, um conhecido rabino de Amsterdã, e Moses Raphael d’Aguilar vieram ao Brasil como líderes espirituais para auxiliar as congregações de Kahal Zur em Recife e Magen Abraham em Mauricia.

Conquista portuguesa da Nova Holanda

Durante anos, o assentamento holandês prosperou, mas depois a Companhia das Índias Ocidentais começou a perder o interesse na colônia, pois os lucros eram menores do que noutras áreas sob seu controle. Os portugueses expulsaram os holandeses do Brasil em 1654, após uma guerra de nove anos.

No Tratado dos Guararapes, os portugueses prometeram respeitar a liberdade religiosa daqueles que optaram por permanecer no Brasil sob controle português. No entanto, nos anos seguintes, os portugueses voltaram atrás em sua palavra, acusaram os judeus de heresia e os perseguiram.

Nesse ponto, 150 famílias judias optaram por retornar a Amsterdã, mas outras se mudaram para áreas controladas pelos holandeses no Hemisfério Ocidental. Vinte e três desses judeus holandeses viajaram para Nova Amsterdã, a atual Nova York. Peter Stuyvesant era o governador de Nova Amsterdã e não gostava de judeus. Ele pediu permissão à Companhia das Índias Ocidentais para expulsá-los, sem perceber que uma porcentagem dos acionistas eram de fato judeus. Ele recebeu uma resposta de Amsterdã dizendo-lhe para «tratar nossos acionistas com consideração».

A Inquisição no Brasil

Apesar da esperança dos judeus de que a distância os protegesse do longo braço da Inquisição, a perseguição portuguesa os seguiu até o Novo Mundo. Em 1647, Isaac de Castro foi preso por ensinar judaísmo numa parte do Brasil controlada pelos portugueses. Ele foi deportado para Portugal, onde a Inquisição o condenou à morte e o queimou na fogueira. Reconhecendo o perigo, os judeus esconderam suas identidades judaicas, emigraram para áreas controladas pelos holandeses ou se mudaram para o interior do Brasil, onde havia menos supervisão.

Os historiadores encontraram recentemente populações no interior do Brasil que têm práticas aparentemente judaicas. Esses grupos não sabem explicar porquê, mas acendem velas na sexta-feira, lêem apenas o “Antigo Testamento”, não comem carne de porco ou marisco e evitam comer pão durante a Páscoa.

Um dos casos mais famosos sobre a Inquisição no Brasil foi o de Antonio José da Silva. Da Silva era um estudante de direito que morava no Rio de Janeiro, e também escreveu várias peças de teatro de sucesso. Foi denunciado à Inquisição, preso e enviado para Portugal. Ele se recusou a se retratar e foi queimado na fogueira em 19 de outubro de 1739. Sua coragem inspirou brasileiros judeus e não judeus, e, em 1996, sua história foi transformada em um filme brasileiro chamado O Judeu.

O fim da perseguição oficial e a comunidade marroquina

Em 1773, um decreto real português aboliu a perseguição aos judeus. Como resultado,  foram-se estabelecendo gradualmente judeus no Brasil, embora quase todos os conversos brasileiros originais já tivessem sido assimilados.

Em 1822, depois que o Brasil conquistou sua independência oficial de Portugal, começaram a se mudar para o Brasil judeus marroquinos. Em 1824, eles fundaram uma sinagoga em Belém (norte do Brasil) chamada Porta do Céu. Na Primeira Guerra Mundial, a comunidade sefardita de Belém, composta principalmente por marroquinos, tinha aproximadamente 800 membros. Na década de 1950, uma onda adicional de imigração judaica trouxe mais de 3.500 judeus marroquinos para o Brasil.

Os judeus europeus Ashkenazi começaram a chegar ao Brasil por volta de 1850. O Brasil não era o destino preferido de judeus europeus à procura de uma nova vida na América do Sul. Os europeus, judeus e não judeus, tendiam a preferir a Argentina, mais cosmopolita. No início do século 20, a Argentina tinha um dos mais altos padrões de vida do mundo. É possível que os imigrantes que escolheram o Brasil o tenham feito porque a o preço do bilhete de barco era muito menor do que para Buenos Aires, que ficava 1500 milhas ao sul.

Quase 30.000 judeus da Europa Ocidental, principalmente da Alemanha, vieram para o Brasil na década de 1920, para escapar do antissemitismo europeu. Em 1929, eles haviam estabelecido tantas comunidades que havia 27 escolas judaicas.

Ascensão do antissemitismo no Brasil

Na década de 1930, os intelectuais brasileiros começaram a caluniar os judeus, retratando-os como não-europeus, comunistas empobrecidos, capitalistas gananciosos e prejudiciais ao progresso. O Partido Nazista também encorajou o anti-semitismo entre a diáspora alemã, embora tenha tido muito mais sucesso na vizinha Argentina.

Em 1938, o Brasil iniciou um esforço ativo de assimilação e fechou os jornais iídiche e as organizações judaicas, tanto seculares quanto religiosas. Seguiu-se uma onda de antissemitismo, incluindo várias impressões dos Protocolos dos Sábios de Sião. Com a eclosão da Segunda Guerra Mundial, o Brasil adotou uma política de imigração que proibia a entrada de mais refugiados judeus no país.

No entanto, o embaixador brasileiro na França, embaixador Luis Martins de Souza Dantas, via as coisas de forma diferente e heroicamente escolheu ignorar a proibição do Brasil à imigração judaica. Vendo o que aconteceria com os judeus caso permanecessem na França, ele concedeu vistos de imigração a centenas de judeus franceses, salvando suas vidas do Holocausto.

Após o Holocausto, o Brasil adotou uma nova constituição, mais democrática, e o antissemitismo diminuiu. A imigração judaica fortaleceu a comunidade com números cada vez maiores e, na década de 1960, o judaísmo brasileiro estava prosperando. Nas eleições parlamentares de 1966, seis judeus representando vários partidos foram eleitos para a legislatura federal. Além disso, políticos judeus serviram em legislaturas estaduais e conselhos municipais.

Horacio Lafer, judeu, foi Ministro da Fazenda nas décadas de 1950 e 1960. Ele foi fundamental para que milhares de judeus deslocados da Síria, Líbano e outros países do Oriente Médio pudessem se estabelecer no Brasil.

Comunidade Judaica Brasileira Moderna

Hoje o Brasil tem a nona maior comunidade judaica do mundo e a segunda maior população judaica da América Latina, depois da Argentina. A população judaica totaliza cerca de 130.000. Cerca de 70.000 judeus vivem em São Paulo, que é o coração comercial e industrial do Brasil, e outros 30.000 vivem no Rio.

Os restantes 30.000 judeus estão distribuídos pelas outras cidades do país. Aliás, há um ditado no Brasil que diz que «se uma cidade não tem um comerciante judeu, não merece ser chamada de cidade».

Os judeus paulistas estão particularmente orgulhosos de seu apoio ao Hospital Israelita Albert Einstein, considerado por muitos o melhor hospital de toda a América do Sul. Foi o primeiro hospital fora dos Estados Unidos a ser credenciado pela Joint Commission.

No Brasil atual, a comunidade judaica vive em paz e estabilidade e pode praticar sua religião livremente. Em contraste com o anti-semitismo que marcou sua história, hoje a maior ameaça ao judaísmo brasileiro é o casamento misto e a assimilação.

Ao mesmo tempo, devido aos esforços de muitos indivíduos, começaram a florescer escolas judaicas, aulas de educação de adultos e estabelecimentos kosher.

Incrivelmente, a sinagoga Kahal Zur em Recife, a primeira sinagoga construída nas Américas, foi reaberta em 2002, 347 anos depois de ter sido fechada pelo domínio colonial português. A sinagoga não era usada desde meados do século XVII, quando os portugueses derrotaram os holandeses em Recife, expulsaram seus cerca de 1.500 judeus e baniram o judaísmo. A sinagoga está novamente aberta graças à generosidade da família de banqueiros Safra.

Após a Segunda Guerra Mundial, Binyomin Citron era um construtor e líder comunitário em São Paulo. No início da década de 1950, ele se encontrou com o principal sábio americano, o rabino Aharon Kotler, e orgulhosamente lhe contou sobre um belo edifício que ele havia construído para ser usado como yeshiva, descrevendo como ele iria produzir judeus fortes e educados, tal como uma grande yeshiva americana.

Com grande discernimento, o rabino Kotler respondeu a ele: «Prédios não criam judeus fortes e educados, as pessoas sim. Se você tiver os rabinos certos como professores, você pode produzir judeus instruídos e fortes. Enviaremos o melhor rabino do sistema para ajudar a construir a Torá no Brasil.» O rabino Kotler enviou Reb Zelig Privalsky ao Brasil, onde ele e muitos outros ajudaram a criar um futuro judaico para milhares de judeus brasileiros – um futuro para a comunidade judaica mais antiga do Hemisfério Ocidental.

 

PORQUE ESCOLHEMOS O JUDAÍSMO – CONTINUAÇÃO

PORQUE ESCOLHEMOS O JUDAÍSMO – CONTINUAÇÃO

Continuação do artigo sobre a família Bissato (Yehoshua de 45 anos, Chana de 36, e a filha Leah, de 10), que chegaram a Israel vindos de Caxias do Sul, Brasil. O caminho incomum destes ex-pastores na verdade afastou-os dos ensinamentos com que cresceram, na direção de um caminho que os levou ao judaísmo. Procuraram por um processo de conversão durante oito anos e estão animados por estarem finalmente em Israel e por começarem esta etapa final da sua jornada ao judaísmo.

“Estamos morando em Israel agora, mas não tomamos isso como garantido.”
“Um pouco da nossa história: Enfrentámos muitos desafios na nossa jornada. Então, finalmente recebemos a oportunidade das nossas vidas por parte da Shavei Israel e começámos a planear a nossa viagem. Depois veio o coronavírus e os ataques a Israel. Tive que fazer vários exames, na verdade tive Corona e minha esposa teve que fazer uma cirurgia. Esperámos mais de um ano até podermos finalmente embarcar num avião e tudo correu bem. Tanta espera e angústia…  Rezámos muito, chorámos muito… mas nunca perdemos a fé!”
“Tínhamos certeza de que chegaria o dia de nossa viagem a Israel. Depois de termos tido que cancelar a viagem três vezes, tudo correu bem. Cada etapa da jornada foi acompanhada de muita emoção e lágrimas, mas desta vez foram lágrimas de alegria e gratidão por vermos nosso sonho realizado!
Quando chegámos ao aeroporto de Ben Gurion, parecia que finalmente estávamos indo para casa. À chegada, fomos calorosamente recebidos por pessoas maravilhosas; temos muito a agradecer.
Logo após a nossa chegada, começámos as aulas no Machon Miriam, o curso de conversão em língua espanhola da Shavei Israel. Os professores são incríveis e têm uma compreensão profunda dos conceitos judaicos. Eles fazem-nos refletir sobre os temas apresentados, e a cada aula aprendemos e crescemos mais. Além disso, fomos recebidos como se fôssemos todos parte de uma grande família, onde todos se preocupam uns com os outros, e tentam ajudar em tudo o que precisarmos.”
“Estamos muito gratos por esta oportunidade, embora ainda tenhamos muitos desafios pela frente. A questão económica é algo que pesa muito sobre nós, claro, enquanto esperamos o privilégio de poder trabalhar em Israel. Embora tenhamos recebido muita ajuda até agora, todas as necessidades básicas como alimentação, aluguer, água, eletricidade e saúde exigem recursos consideráveis. Mas confiamos em De’s, e Ele certamente enviará muitas pessoas boas para nos ajudar.
Só podemos agradecer a todos por tudo o que já vivemos aqui em Israel. Agora vamos continuar lutando até alcançarmos nosso objetivo final, que é nos converter ao judaísmo e fazer aliá.” ~Yehoshua, Hanna e Leah
Para ajudar a família Bissato e outros como eles que trabalham duro para completar sua conversão, pode fazer o seu donativo aqui neste link, e pode indicar num comentário qual a finalidade do seu donativo. Muito obrigado!
PORQUE ESCOLHEMOS O JUDAÍSMO

PORQUE ESCOLHEMOS O JUDAÍSMO

A família Bissato (Yehoshua, de 45 anos, Chana, de 36 e a filha Leah, de 7) vieram de Caxias do Sul [Brasil] para Israel, mas a viagem foi muito mais do que uma viagem de avião. Como ex-pastores, os seus estudos bíblicos na realidade afastaram-nos dos ensinamentos com que cresceram, na direção de um caminho que os levou ao judaísmo. Eles estão a procura de um processo de conversão há oito anos e estão animados por estarem finalmente em Israel e por começarem esta etapa final da sua jornada ao judaísmo. Aqui está a história deles:

“Desde o momento em que conhecemos o judaísmo, há sete anos, começámos a admirar o povo judeu, o seu modo de vida, as festividades e a sua reverência, temor e respeito por D’us e pela Torá. Uma vez que conhecemos um pouco mais sobre a Torá, decidimos que o D’us de Israel também seria nosso D’us.

“Com o passar do tempo, aprofundámo-nos nos nossos estudos e descobrimos que o povo judeu é diferente. Houve uma aliança, feita através de Abraão, passando por Isaque e Jacob. Depois de passar por muitas provas e demonstrar uma grande submissão para cumprir a vontade do Criador, Jacob recebeu o título de “Israel” [que pode ser traduzido como] “ yashar El ” ou “direto com D’us”, e, juntamente com o nome, a função de estudar e transmitir a Torá para a humanidade.

“Consequentemente, os Filhos de Israel receberam uma responsabilidade maior, uma nova situação espiritual e o jugo de todo o cumprimento da Torá. Percebemos que, apesar de sermos de outro povo, queríamos fazer parte desse povo, o Povo de Israel. Decidimos que deixaríamos o nosso povo, as nossas raízes, mesmo sabendo quanto esforço teríamos que fazer, e também que enfrentaríamos muitas dificuldades e até poderíamos enfrentar perseguições, antissemitismo e ódio gratuito, como o povo judeu sofre.

“Mesmo sabendo de tudo isso, continuámos firmes na nossa decisão, no nosso objetivo, e queríamos fazer parte deste povo, sermos “Israel”, convertermo-nos e tornarmo-nos judeus, assumindo a responsabilidade de manter todos os mandamentos, leis e costumes, honrar a aliança de Abraão, receber o jugo da Torá e servir a D’us.

“A partir de então começámos a estudar e a cumprir as mitzvot (mandamentos): comer kosher, guardar o Shabat, manter a pureza familiar, cumprir as exigências das festas, fazer orações e bênçãos diárias, aperfeiçoarmo-nos todos os dias na halachá (lei judaica) e ter consciência da importância que esta tem nas nossas vidas, desde o momento em que acordamos e em tudo o que fazemos.”

“De facto, sentimos que agora é como se estivéssemos “a voltar para casa”, a retornar às nossas verdadeiras raízes. Amamos Hashem, a Torá e o povo judeu. Não nos imaginamos a viver de outra maneira, exceto como judeus.

Decidimos realizar o nosso processo de conversão no Machon Miriam da Shavei Israel, pois é uma organização séria e comprometida em ajudar aqueles que desejam converter-se, tornando-se parte do povo judeu. Se D’us quiser, seremos capazes de atingir o nosso objetivo. Hashem é o nosso D’us, Israel é a nossa terra e o povo judeu é o nosso povo”.

À chegada a Israel, com Chaya Castillo da Shavei.

18.03 – Dia Nacional da Imigração Judaica

PROJETO DE LEI de 2008. (Do Sr. Dr. Marcelo Itagiba)
Dispõe sobre a instituição do dia 18 de março como data comemorativa
do “Dia Nacional da Imigração Judaica” e dá outras providências.

O Congresso Nacional decreta:

Art. 1º Esta lei tem por objetivo instituir data para a comemoração
da contribuição do povo judeu na formação da cultura brasileira.
Art. 2° Fica instituído o dia 18 de março como o “D ia Nacional da
Imigração Judaica”.
Art. 3º Esta lei entra em vigor na data de sua publicação.

JUSTIFICAÇÃO

É inegável a importância, em todos os setores da vida nacional,
da contribuição dos imigrantes judeus para a formação social, política,
econômica e cultural do Brasil.
Aliás, os imigrantes judeus escreveram, desde o descobrimento,
importante parte da nossa história, a começar com Gaspar da Gama, intérprete oficial da frota de Cabral, dentre tantos outros que supervenientemente ajudaram a formar a nossa nação. Também, nos tempos atuais, permanece viva e forte a influência judaica no nosso dia-a-dia. Citam-se, aqui, por exemplo, alguns nomes em brevíssima lista de pessoas que representam essa marcante influência em todas as áreas da vida brasileira.

Na política, o Senador Aarão Steinbruch, que quando Deputado
ficou célebre por aprovar diversas leis trabalhistas, e coube-lhe a autoria da lei que instituiu o 13º salário; os Deputados Horácio Lafer, Rubem Medina, de oito mandatos, Celso Lafer, ex-ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio e ministro das Relações Exteriores em duas ocasiões, em 1992 e de 2001 a 2002, além de embaixador do Brasil junto à OMC, e embaixador do Brasil junto à Organização das Nações Unidas (ONU) de 1995 a 1998, e mais
recentemente, Alberto Goldman e Fábio Feldman.

Na indústria, por exemplo, são da comunidade judaica as famílias
Klabin, Lafer, Feffer e Steinbruch. Nas finanças, as famílias Safra e Safdié.

No comércio, os fundadores das Casas Bahia, do Ponto Frio, das Lojas Marisa, da Renascença Móveis, H. Stern, Samuel Klein, Monteverde, Bernardo Goldfarb, Jacob Voloch e Hans Stern.

Na construção civil, Rogério Schor, Rogério Jonas Zylbersztajn, Elie Horn e Jacob Steinberg.

No setor de mídia, Nelson Sirotsky, Victor e Roberto Civita, Adolfo Bloch e Sílvio Santos. Na televisão, Cláudio Besserman Vianna, mais
conhecido pelo nome artístico Bussunda, e Maurício Sherman Nizenbaum. No esporte, o Presidente do Comitê Olímpico Brasileiro (COB), Carlos Arthur
Nuzman e Bernard Rajzman, o Bernard do Jornadas nas Estrelas.

No cinema, Leon Hirszman, cineasta expoente do cinema novo,
Silvio Tendler, renomado documentarista brasileiro, Sura Berditchevsky, Eva Todor, Débora Block, Dina Sfat e Ida Szafran, conhecida como Ida Gomes, atrizes. Nas artes plásticas, Lasar Segall e Carlos Scliar, e, na música, Jacob Pick Bittencourt, o nosso Jacob do Bandolim, Jacqes Klein, virtuose do piano e o maestro Isaac Karabtchevsky.

Na ciência, Mário Schenberg e Otto Richard Gottlieb. Na
educação, Samuel Malamud. Nas profissões liberais, Jacob Kligerman, médico; na arquitetura, Rino Levi; e Bernard Dain, advogado. Na literatura, José Mindlin, Clarisse Lispector e Arnaldo Niskier, ex-Presidente da Academia Brasileira de Letras, dentre tantos outros que não deixam esgotar a lista, como o líder comunitário Osias Wurman.

Essa forte força cultural não pode, portanto, deixar de ser
festejada e difundida, principalmente entre a parcela mais jovem de nossa
população. Foi com este espírito, aliás, que, no dia 13 de dezembro de 2007, a Câmara dos Deputados teve a feliz e justa iniciativa de comemorar o 60º
aniversário da criação do Estado de Israel, momento em que, representando o meu Partido, o PMDB, registrei que a paz para os judeus vem sendo escrita à custa de toda sorte de provações, mas que, apesar disso, a comunidade
judaica mantém viva a tradição de celebrar seus heróis, homens e mulheres
que deixaram registrados para a eternidade.

Não foi fácil, pois, escolher uma data que representasse tão
importante contribuição, mas elegemos o dia 18 de março, dia da
reinauguração, em 2002, do Templo fundado na rua dos Judeus, em Recife, à época do domínio holandês, no Século XVII, a Sinagoga Kahal Kadosh Zur
Israel (Santa Comunidade Rochedo de Israel), a primeira das Américas, não só porque é testemunha da presença dos imigrantes judeus no Brasil, mas,
também, porque sobre suas ruínas restauradas surgiu um museu que visa a
preservar a memória da vida judaica na história colonial brasileira.

O museu, de atividades exclusivamente culturais, é resultado de
um trabalho conjunto da Associação para a Restauração da Memória Judaica
nas Américas, Federação Israelita de Pernambuco, Prefeitura de Recife,
Universidade Federal de Pernambuco, Instituto do Patrimônio Histórico e
Nacional e Ministério da Cultura, patrocinado pela Fundação Safra.

Para esta empreitada intelectual, vale registrar, foram consultados
mais de 60 mil documentos relativos ao período em que se construiu referido Templo, marco da imigração judaica no novo mundo, guardados no Arquivo Municipal da Prefeitura de Amsterdã, e que agora fazem parte do acervo da Sinagoga Kahal Kadosh Zur Israel, aberta à visitação pública.

Assim, por todo o exposto, tomamos a iniciativa de propor a instituição do dia 18 de março como o “Dia Nacional da Imigração Judaica”, em efetivo reconhecimento nacional da contribuição dos imigrantes judeus na formação histórica, sócio-econômica, política e cultural brasileira, para o quê se espera total apoio dos ilustres pares.
Sala das Sessões, de de 2008.

Artículo escrito por Marcelo Itagiba, Diputado Federal – PMDB/RJ.

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