Pesquisa Genealógica e nos Arquivos da Inquisição

Por Genie Milgrom

 

Esta busca não é uma pesquisa genealógica típica ou habitual. Esta, exige que se preste bastante atenção às informações culturais de sua família, assim como, também, aos diferentes costumes que eram praticados, a fim de poder alcançar o objetivo desejado.

Em nenhum momento podemos esquecer que estamos tentando desvendar uma trama complicada. Trama esta da qual as famílias cripto-judaicas ligeiramente teceram ao seu redor, a fim de não serem pegos pela Inquisição. É preciso peneirar informações atuais para descobrir, inclusive, pistas que podem parecer pequenas ou não tão relevantes.

Este é um trabalho único, mas posso assegurar-lhe que é possível, pois eu o realizei e conheço outros que também o fizeram. Retornamos para, pelo menos, 500 anos atrás, para encontrar uma linhagem judaica. Possivelmente, esta linhagem não estará clara e visível, até o momento em que a pessoa se aproximará mais do período da Inquisição. Sendo assim, é importante ir trabalhando de uma maneira lenta e constante, até conseguir, enfim, atingir o objetivo.

Da mesma maneira, é crucial saber como trabalhar com os registros da Igreja Católica, assim como também com os processos da Inquisição. Para poder começar neste sentido, é necessário ter uma noção do lugar da Espanha ou de Portugal, de onde provêm a família, mesmo que seja do período no qual viviam como católicos. Vamos comentar aqui sobre como a pessoa pode começar a descobrir informações culturais e factuais. Tais informações podem ser sutis e, por vezes, chegarão a estas, de maneira indireta.

 

Qual é o objetivo da pesquisa?

O interessado nesta pesquisa deve ser muito honesto consigo mesmo e saber exatamente por que gostaria, ou precisa, realizá-la, pois isso influencia o modo com o qual este avalia as informações. Ao contrário de outros trabalhos genealógicos, podem haver vários objetivos numa busca por raízes judaicas através de registros católicos. Algumas das razões podem ser:

  • O interesse na história cultural da família, mas sem qualquer intenção de seguir praticando a fé judaica.
  • Querer descobrir suas raízes pois um exame de DNA revelou que você possui ascendência judaica.
  • Motivos religiosos: querer provar a linhagem judaica de uma pessoa que, aparentemente, não é judia para que esta possa se casar com um membro da família.
  • Na maioria das vezes, a busca será de uma pessoa que não é reconhecida como judia, e gostaria de encontrar sua verdadeira linhagem para, assim, poder, oficialmente, retornar a religião judaica. Se este for o caso, deve-se conversar abertamente com a sinagoga ou ao rabino que lhe orienta, para, então, entender quais serão as exigências para ser aceito nesta comunidade. No judaísmo ortodoxo, o mais tradicional, é apenas a linhagem materna que conta para uma pessoa poder ser considerado judia. O interessado deve buscar todas as informações na comunidade judaica que frequenta, antes de realizar esta pesquisa, uma vez que se trata de um trabalho longo e detalhado e, portanto, é melhor ter certeza que está caminhando no sentido correto. No meu caso investiguei, somente, minha linhagem materna.

 

Começando

Como acontece com qualquer pesquisa genealógica, as primeiras informações são resultados de perguntas feitas a membros da família e especialmente aos mais idosos. Esta será uma das peças mais importantes na investigação. Devemos começar com informações básicas e com perguntas das quais os familiares se sintam confortáveis em responder. É bom tentar captar o máximo possível de informação sobre a região da Espanha ou de Portugal, da qual a família poderia ter procedido. Às vezes leva um tempo até que as portas da memória dos entrevistados, se abram.

É aconselhável começar com o parente mais velho da família e depois prosseguir para os mais jovens. Pode ser que em 45 minutos de conversa, se consiga extrair apenas um pequeno grão de informação. Não posso deixar de enfatizar o quão importante é este passo. É preciso também fazer perguntas sobre os costumes e tradições judaicas ou, sobre costumes incomuns que pratiquem. É mais fácil perguntar sobre isso no final da conversa, quando o familiar já se sinta mais confortável. Você deve tentar perguntar, ao final de todo, se alguém da família, em algum momento, comentou slgo sobre serem de origem judaica. Não é aconselhável perguntar isto no início, pois existem famílias muito fechadas  neste sentido, que são capazes de não querer compartilhar mais nenhuma informação, depois de uma pergunta destas. Para não esquecer de nada, é necessário anotar tudo, a medida que novas informações vão surgindo, e, se possível, certifique-se de gravá-las. Algumas perguntas poderiam ser:

  • Houve muitos casamentos entre primos na família?
  • Você se lembra se a família tinha algum ritual, costume ou hábito específico ou mesmo diferente daqueles praticados pelas outras famílias e vizinhos?
  • Lhe foi mencionado alguma vez que para cozinhar ou trabalhar na cozinha deveriam ser adotadas práticas específicas, das quais outros não praticavam?
  • Você sabe me dizer qual tipo de trabalho era mais popular entre os membros da família? (Através da respsota, caso exista, deve-se fazer um relatório de todos os tipos de trabalho que os familiares exerciam)
  • Pode-ser que eram donos de lojas? Se sim, como se chamavam estas lojas?
  • A família era religiosa? Iam à igreja nos domingos?
  • Você sabe se alguma mulher da família acendia velas na noite de sexta-feira ou, até mesmo, uma vez por ano em algum dia específico?
  • Você lembra se a família preparava alguma refeição especial nas noites de sextas-feiras ou nos sábados no almoço?
  • Em algum dia específico do ano se vestiam somente de branco?
  • Jejuavam em algum dia específico, que não estava relacionado a nenhuma festa católica?
  • Foi mencionado, alguma vez, que a família poderia ter sido judia?
  • Será que alguém na família viu – ou ouviu – sobre o costume de colocar um xale sobre os ombros em um casamento?
  • Havia alguém na família que tinha o hábito de lavar as mãos com freqüência?
  • Você se lembra de alguém tocar, ou beijar, o lado direito da porta?
  • Você reconhece algum destes símbolos em qualquer objeto da família? (Mostre fotografias como, por exemplo, uma estrela de David, uma menorá, o alfabeto hebraico e um mão de “hamsa”)
  • Pode ser que alguém na família tenha comentado sobre algumas das crianças que não tinham sido batizadas?
  • Qual é o nome do povoado de origem da família na Espanha ou em Portugal? Qual a região? Sabe algo sobre a região?
  • Existe alguma caixa com cartas e/ou papéis, ou mesmo, objetos antigos, do qual podemos buscar algo?

É importante prestar uma atenção especial a informações como: “Minha avó sempre usava um lenço na cabeça na noite de sexta-feira e, fechava os olhos por um minuto ou dois” ou “Meu pai nunca comeu carne de porco”.

Quanto mais informações obter de sua família, melhor. Deve-se registar todas as informações recebidas e guardá-las para uma data posterior. Você nunca sabe quando pode ser útil tê-las a mão. É necessário pedir informações sobre a árvore genealógica da família e se possível, anotar tudo que é dito sobre esta. E é muito importante, ter tudo anotado de maneira concisa: quem disse, o quê e quando. Considere que talvez você só tenha uma chance de entrevistar os idosos. Você pode começar a fazer pequenos diagramas da árvore genealógica com cada pessoa entrevistada e, assim, ir juntando um ao outro. Estas informações adquiridas, ainda não são suficientes para provar suas raízes judaicas, mas ainda assim, são muito importante para saber se havia alguma prática judaica na família. Não há necessidade de ficar desanimado caso não encontre nada significativo, lembre-se que 500 anos se passaram.

Ao entrevistar membros mais velhos da família, é importante anotar tudo o que dizem. Não deixar nada de fora, até mesmo o que pode soar como divagações ou coisas sem sentido. Se, por exemplo, sua tia-avó disser que seus tios Luis e Carlos tiveram filhas chamadas Mariana, ou talvez, Mariela ou talvez, Maria, mas, em seguida, afirmar: “Sempre houve muitas Marielas em nossa família!”, esta pode ser a informação mais importante de toda a conversa! Informações como estas são importantes, pois existia muita repetição nos nomes dos convertidos de família judaica, e portanto, tal informaçao pode nos dar uma pista valiosa. Neste caso, por exemplo, de agora em diante a pessoa terá que prestar mais atenção quando ver o nome “Mariela” nos registros antigos de informação.

Certifique-se de entrevistar todos. Se alguns membros da família não estão na mesma cidade ou no mesmo país, você deve ligar ou escrever. Você pode enviar e-mails e cartas, mas sempre tentando alcançar o máximo possível de familiares. Toda vez que você escutar algo novo, você deve registar todas estas informações e, também, construir uma árvore genealógica. É útil contar à seus familiares que você está à procura de informações para reconstruir a árvore genealógica da família e sua história, tentando, também, alcançar o mais longe possível no passado, para poder investigar séculos atrás. Quando os parentes começam a escutar desta sua busca, pode ser que contribuam com conselhos e dicas, ou pode inclusive ser que algum outro primo, ou parente, já tenha iniciado uma busca semelhante e assim lhe poupe todo um trabalho. A pessoa deve estar sempre em contato com sua família e assim obter, tanto quanto possível, de informações.

Deve-se concentrar em apenas um ramo da família. Se você olhar em muitas direções diferentes, em uma família cripto-judaica, a tarefa será imensurável. Este é um trabalho fascinante, mas temos de nos concentrar no objetivo, que é encontrar a linhagem judaica, da família. Eu tenho trabalhado exclusivamente com a minha linhagem materna e buscado avó atrás de avó, do meu lado materno. Depois de selecionar o ramo que você quer estudar, a primeira coisa que você deve fazer é tentar começar a pesquisar os nomes, profissões e locais de nascimento de cada um. No meu caso, eu organizei pastas para cada avó que encontrava e, com isso, tentava obter, para cada uma, a maior quantidade dos seguintes documentos:

  • Certidão de Nascimento
  • Certificado de Batismo (Se não houver, o documento que afirme o contrário, que o “bebê não foi batizado”)
  • Certidão de Casamento
  • Certidão de Óbito
  • Todos os registos notariais encontrados relacionados ao nome e a pessoa
  • Todas as referências encontradas na internet, e em sites de genealogia sefaradita, quanto à origem judaica do nome
  • Informações “populares”, como: ocupação, habilidades especiais, talentos musicais ou artísticos, recortes de jornais, etc.
  • Foto da pessoa
  • Referências ao nome da pessoa em documentos da Inquisição

Naturalmente, você não poderá encontrar todos estes documentos mencionados, mas, pouco a pouco, estes vão sendo descobertos.

 

Procurando por referências judaicas aos nomes da família

Pode-se começar a pesquisar todas as referências judaicas aos nomes da família. Existem muitos sites na internet aonde você pode pesquisar este assunto, e quanto mais referências juntar sobre cada nome, pode-se ter maior certeza de que o nome buscado é originário de judeus convertidos. Certifique-se de gravar cuidadosamente toda informação encontrada sobre cada nome, e, ir imprimindo, quando possível.

Lembre-se que estamos percorrendo uma jornada pelos últimos 500 anos, passando por um emaranhado de nomes. É emocionante saber que em 1935 o nome de uma de nossas avós, era, também,  usado por judeus convertidos, mas isso ainda não prova nada e é necessário continuar percorrendo todo este longo caminho de antepassados para realmente verificar se este nome já estava na família nos tempos da Inquisição. Lembre-se que as informações culturais (moradia, trabalho, nomes, etc) devem ser compatíveis com as informações obtidas nos arquivos. Existem vários sites na internet que oferecem informações de qualidade, garantidas, sobre sobrenomes. São estes, os seguintes:

http://www.sephardim.com

http://www.sephardicgen.com

http://www.nameyourroots.com

Sephardim.com é o maior site de busca de sobrenomes sefaraditas. Esta página de pesquisa é realmente a melhor, não apenas porque possuem, em seu banco de dados, uma grande quantidade de nomes historicamente sefaraditas, mas também porque, cada nome que está listado no site, é documentado em alguma fonte primária e/ou aparece na literatura da época. A informação pode vir de livros de casamentos, registros de circuncisões e, também. pode incluir informações provenientes de países como Inglaterra, Holanda, Portugal, Ilhas do Caribe e muitos outros. Deve-se registrar cada nome encontrado no site e anotar, cuidadosamente, a lista de toda a literatura onde este nome aparece. Muitas vezes, esta informação vai servir como um claro indicador de caminho a seguir, pois poderá ajudar a relacionar o nome com a região da Península Ibérica da qual este nome está mais associado.

Por isso é necessário organizar os arquivos com as informações claras sobre cada nome, dedicando um arquivo, ou uma pasta, para cada nome buscado. Se você encontrar um sobrenome composto, com referências históricas, este dado pode ser uma evidência muito mais forte do que quando se busca por um único nome. Isto é, quanto mais específica seja a informação (como, por exemplo, o sobrenome composto Fonseca-Castro) maior o peso das informações que ela oferece.

Lembre-se que você não está apenas pesquisando a árvore genealógica da família, mas, sim, neste caso, tentando encontrar as raízes judaicas na família.

 

A melhor maneira de pesquisar na Internet

É importante tentar documentar cada nome encontrado, a medida que a pesquisa vai avançando pelo passado, através de sua árvore genealógica, e, tentar descobrir se cada um dos nomes encontrados está conectado com algum passado judaico. Você pode começar com os sites mencionados acima e, em seguida, realizar uma busca aplciada na Internet, utilizando as palavras-chave encontradas, em diferentes idiomas. Para ajudar com os sites da Internet que estão em outro idioma, a ferramenta de tradução do Google, pode ser suficiente. Se, por exemplo, o nome “RAMOS” é aquele que está sendo investigado, mostramos abaixo algumas diferentes maneiras nas quais você pode se inspirar para obter o máximo possível de informações:

Ramos judío converso

Ramos nombre judío

Ramos converso Jew

Ramos Jewish name

Ramos Spanish Inquisition

Ramos Inquisición

Ramos nombre marrano

Ramos Marrano name

Ramos nom Juif

Nome judaico Ramos

Ramos Heráldica

Ramos Heraldry

Ramos famosos

Famous Ramos Family

Orígenes de la familia Ramos

Origins of the Ramos Family

Origens Da Familia Ramos

Quanto mais idiomas são implementados na busca, melhores são os resultados, permitindo a coleta de uma maior quantidade de informação. Uma vez alcançado os resultados de cada uma das categorias mencionadas, não é suficiente ler apenas as primeiras três ou quatro sugestões que aparecem, no resultado da pesquisa, mas sim, é necessário, entrar em cada página e não parar de investigar todos os resultados obtidos. Os resultados mais difícies de entender são, normalmente, os resultados com as informações mais “nutridas”.

 

Rastrear uma linhagem de conversos não é uma tarefa simples e apresenta muitos desafios

A mudança de nome, durante a Inquisição na Península Ibérica, foi uma das maneiras que as famílias judias da época encontraram para tentar escapar dos perigos apresentados pelo tribunal católico.

Uma família pode ter “pegado emprestado” ou, mesmo comprado, um nome de algum “Cristão Velho” espanhol.

Podia ser que o sacerdote católico escolhia, aleatoriamente, os “novos” nomes dos convertidos, contudo, por vezes, os nomes foram escolhidos pelas próprias pessoas que se convertiam.

Neste sentido, muitos sobrenomes criados neste período foram relacionados a nomes topográficos, de flores, árvores, animais ou mesmo de pontes ou de povos.

Ter um nome típico de dos judeus conversos normalmente não se trata de uma prova suficiente para afirmar que a pessoa é descendente de uma linhagem judaica. Embora seja um bom ponto de partida, sabemos que muito coisa pode ter acontecido nos últimos 500 anos.

O ponto mais importante a destacar é que os nomes que as famílias têm hoje, muitas vezes, são muito diferentes daqueles que estas tinham em 1492. Se um sobrenome se manteve intacto por 500 anos, isso significa que ele foi certamente transmitido por uma linhagem paterna e não pela linhagem materna.

Curiosamente, na minha pesquisa, me deparei com nomes que, raramente, sofreram alterações.

Naquela época, o nome poderia ter sido tirado da mãe ou do pai. E era feito todo o possível para esconder a identidade da família, frente as ameaças da Inquisição. Por vezes, inclusive os nomes dos avós foram usados como sobrenomes.

É necessário tomar bastante cuidado para assegurar-se que o nome não tenha sido alterado, falsificado ou modificado nos registros, e, acima de tudo, que a pessoa não está investigando a árvore genealógica errada.

Estou enfocando apenas nos sobrenomes neste momento. No momento em que a pesquisa é realizada, existem grandes chances de descobrir o lugar específico do qual a família é proveniente, e, assim, encontrar o local de nascimento de seus antepassados. Isso é útil caso não se saiba da onde a família provém. Os resultados devem apontar para alguma região da Península Ibérica.

É bom imprimir e ter sempre à mão um mapa da Espanha e de Portugal que mostre, claramente marcadas, todas as diferentes províncias como Aragão, Castilla, e etc. Isto é muito útil para quando se tenta encontrar o lugar de origem da família. Note que, ao contrário do que muitos pensam, no final dos anos 1400 e no início dos anos 1500, as pessoas tiveram que viajar muito e, portanto, mudaram-se, constantemente, de um lugar para outro. Eles não ficaram parados no mesmo lugar. Minha própria família, de Portugal, viajou por alguns lugares no país e também na Espanha, voltando, mais tarde, para Portugal, aonde por fim se estabeleceram na mesma cidade onde meu avô nasceu, há apenas 100 anos atrás.

 

Para praticar

  • Faça uma pesquisa do nome RAMOS em http://www.sephardim.com. Você verá que o nome aparece acompanhado de uma série de números e bibliografias, dos quais se pode constatar claramente de que região este nome provém.
  • Faça o mesmo com todos os nomes da sua árvore genealógica.
  • É aconselhável buscar informações sobre os nomes em fóruns de genealogia. Você pode fazer uma busca, indicando as palavras “fórum” e “seu nome”, como palavras-chave
  • Por mais óbvio que possa parecer, hoje em dia, cabe lembrar que o Facebook, assim como outras mídias sociais são uma excelente maneira de participar de fóruns e blogs relacionados com qualquer um destes assuntos que lhe possa interessar.
  • O site familysearch.org é um dos sites com os maiores acervos arquivísticos da Igreja Católica na América Latina. Eles têm, por exemplo, os registros de igrejas da Costa Rica que remontam a 1590, e, se tratam de coleções especializadas em documentos. Possuem, também, muitos registros das igrejas da Espanha, Portugal e outros países da América Latina. É importante dedicar tempo para explorar todos estes arquivos com cuidado.

Eu, por exemplo, fui capaz de rastrear completamente a linhagem de minha avó paterna, que nasceu na Costa Rica, precisamente através deste website. Eles também possuem cópias de livros encadernados originais que mostram registros de casamentos, obituários, etc. Havia informações suficientes para rastrear toda a linhagem da minha avó paterna até o início de 1700. Guardei toda esta informação, mas não segui com a investigação, pois não queria desviar-me da minha pesquisa primária, que sempre foi minha linha materna.

  • http://www.tarbutsefarad.com Nesta altura, você já deve ter alguma noção da região ou província original de sua família, isto só pode ser possível através da pesquisa com os sobrenomes. Para lhe ajudar a buscar mais informações sobre a região de sua família, existe uma organização chamada Tarbut Sefarad, que possui um especialista em quase todas as cidades, grandes ou pequenas, na Espanha. Eu sou uma especialista de algumas destas cidades e posso responder a perguntas sobre a vida judaica e costumes destas aldeias.

É muito provável que você tenha que viajar para a Espanha ou Portugal e verificar fisicamente os documentos arquivados pela Igreja. Em cada caso deve-se buscar o local físico onde os arquivos estão guardados. Hoje, é mais comum encontrá-los na Arquidiocese da região determinada. Por exemplo, os registros da pequena aldeia que minha família viveu, são mantidos junto com os arquivos municipais da cidade mais próxima, que é Zamora. É fácil de localizá-los uma vez que é possível perguntar ao pastor local, aonde estão. Isto pode ser feito, sem nenhum problema, através de uma ligação telefônica ou por e-mail.

À medida que a pessoa vai investigando os arquivos da Inquisição, é necessário ter uma idéia de qual era o tribunal responsável por fiscalizar os processos inquisitórios da aldeia de sua família.

  • http://pares.mcu.es/ Esta é uma organização que abriga a maior parte dos arquivos digitalizados que estão disponíveis na Espanha, incluindo alguns documentos da Inquisição. Você deve dedicar o tempo necessário para se familiarizar com esta ferramenta, pois, nesta, você poderá encontrar registros notariais de aquisições de terras, assim como, informações da Igreja e da Inquisição.
  • Nos Arquivos Nacionais Torre do Tombo, em Portugal, http://antt.dgarq.gov.pt/ estão disponíveis muitos mais arquivos digitalizados da Inquisição do que aqueles que existem na Espanha, atualmente. Muitos espanhóis fugiram para Portugal, assim, existe uma boa chance de encontrar informações também sobre família espanholas, em Portugal. Torre do Tombo está localizado, fisicamente, em Lisboa e diversos arquivos estão disponíveis gratuitamente na Internet. Todos estes, escritos em Português. Deve-se buscar por um nome escrito de maneiras diferentes e usar a imaginação para produzir diferentes variações deste mesmo nome, para poder alcançar melhores resultados. Por exemplo, se você procura o nome Martinez, mas não sabe se este foi escrito com S ou Z, pode optar por colocar na ferramente de busca, apenas “Martin” e a partir daí, verificar os nomes que aparecem.

Para finalizar, é importante destacar que todos estes registros da Igreja possuem a mesma aparência, não importando a cidade ou aldeia da qual você está investigando. Isto porque, em 1545, o Concílio de Trento se reuniu e ordenou que todas as igrejas registrassem od batismos, casamentos e óbitos da mesma maneira. A boa notícia é que através destes registros é possível descobrir mais não somente do familiar em questão, mas também sobre seus pais, avós, as testemunhas e os dados do escriba que preencheu todas estas informação no documento jurídico. Pois, naqueles dias, era necessário um escriba que pudesse elaborar todos estes documentos oficiais. Desta maneira é importante reparar, não somente na geração anterior da família, mas também nos nomes das testemunhas e do escriba. Esta informação também poderá ser útil em um estágio mais avançado da pesquisa, uma vez que muitos desses escribas e das testemunhas também foram julgados pela Inquisição, acusados de esconder casamentos judaicos fazendo-se passar por católicos.

Falando da Igreja Católica, você vai notar que por volta de 1700, é possível encontrar padres e freiras em sua árvore genealógica. Esta é uma notícia muito boa que pode servir como evidência circunstancial junto com todas as outras evidências que a pessoa começará a coletar para provar que sua linhagem é verdadeiramente de uma família de judeus convertidos. Muitas vezes encontramos um sacerdote por geração, ou a cada duas gerações. As famílias dos conversos precisavam de alguém para estar presente em todos os rituais católicos para que pudesse garantir, na medida do possível, que alguns rituais judaicos poderiam continuar sendo praticados em segredo e os rituais católico não cumpridos totalmente.

Por exemplo, eventualmente alguém pode descobrir que algumas das crianças da família não foram batizadas. Esta é também uma boa notícia que indica que a pessoa está na direção certa. Os pais poderiam ter dito ao sacerdote que a criança estava muito doente para ir à igreja e portanto deveriam evitar o batismo. Quando algo assim ocorria, geralmente esta pessoa estaria descrita como “Batizado na casa, por necessidade”.

Para continuar com a investigação a pessoa deve se colocar em contato com a Câmara Municipal da cidade aonde seus ancestrais viveram. Eu diria que a primeira abordagem pode ser por telefone e, uma vez que o contato seja estabelecido, é possível continuar por e-mail. É possível que eles ainda tenham os registros que você procura, e caso possuam, devem cobram uma taxa para xerocá-los e mandá-los pelo correio. A maioria destes documentos nunca são enviados por e-mail e é provável que não aceitem cartões de crédito. É um processo longo, mas geralmente será possível obter um ou dois registros de uma só vez. Na maioria das vezes, os arquivos permanecem armazenados por cerca de 100 anos nestas Câmaras Municipais e, em seguida, são enviados aos Arquivos Municipais da maior cidade na redondeza. Neste caso, é necessário ir pessoalmente para checá-los, ou contratar um genealogista profissional que está acostumado a trabalhar com estes arquivos, para, desta maneira, poder obter os registros que estão sendo buscados. Eu não faço esse tipo de trabalho.

Quanto mais antigo é o documento, mais difícil será entender a linguagem com a qual foi escrito. É importante possuir um conhecimento do espanhol [assim como do português] antigo, antes de entrar neste campo de pesquisa. Caso contrário, a pessoa poderá perder muito tempo tentando decifrar estes documentos, tempo este muito precioso, especialmente caso a pessoa tenha viajado ao exterior especialmente para isso e ainda mais, estando com um tempo limitado.

Em cidades grandes como Madrid, é possível obter registros do censo que são bastante detalhados. Os registros do censo mostram, em detalhes, algumas informações importantes, como: quem vivia na casa com a pessoa que estamos buscando, aonde cada pessoa nasceu e, com o que trabalhavam.

Não se esqueçam que estamos querendo encontrar uma linhagem ininterrupta. Isso significa que passamos de uma avó para a outra, sem interrupção. Qualquer ruptura na árvore poderá ocasionar que todo o trabalho, que, embora seja muito interessante, não seja válido para as instituições oficiais judaicas ortodoxas. Levei muitos anos para chegar ao meu objetivo. Este é um processo lento, mas importante. Se a pesquisa for bem-sucedida, você saberá que fez uma contribuição importante para a História do Povo Judeu.

 

 

Genie Milgrom é presidente da Sociedade de Genealogia Judaica de Miami, presidente da Tarbut Sefarad – Fermoselle e Vice-Presidente da Sociedade de Estudos de Criptojudaísmo, em Colorado. Seu livro “Mis 15 Abuelas” está em Espanhol ou em Inglês (“My 15 Grandmothers”), disponível para comprar no site http: //www.amazon.com. Seu site pessoal é http://www.geniemilgrom.com.