O Seder de Pesach – Porquê quatro copos de vinho?

Por: Rav Yosef Bitton

AGIR COMO PESSOAS LIVRES

Os Sábios da Mishná dizem que durante o Seder de Pesach «a pessoa deve agir (להראות את עצמו) como se ela própria tivesse saído do Egito». Isto significa que na noite do Seder devemos «agir» e comportarmo-nos como pessoas livres (bené jorín).

Por isso nos sentamos reclinados para a esquerda, que era a forma em que na época os nobres e a aristocracia se costumavam sentar, e também por esse motivo bebemos 4 copos de vinho, o que era habitual para uma família próspera mas não para uma família de meios moderados. Para entender melhor este ponto, lembre-se que na antiguidade NÃO existia a classe média: os pobres eram escravos e as pessoas livres eram ricas. Por isso, para projetar «liberdade», comportamo-nos com opulência: sentamo-nos como ricos, comemos como ricos, e bebemos como ricos… Na Grécia antiga ou Roma, por exemplo, no tempo em que o Seder foi formulado com mais detalhes, era normal, num banquete da aristocracia, servir vinho: 1. Antes do jantar, na recepção, como aperitivo; 2. Durante o jantar, 3. Depois do jantar e: 4. Como sobremesa ou vinho de sobremesa (after-dinner-drinks). Estes hábitos sociais são mencionados várias vezes nos textos talmúdicos, e muito especificamente na Toseftá כיצד סדר סעודה (Berajot 4: 8).

O Seder de Pesach, então, é idêntico a um banquete festivo de cidadãos nobres da época da Mishna ou do Talmud (anos 200-500 da era comum). É preciso ter em mente que na história do povo judeu, a prosperidade não foi a regra, mas a exceção. E que, como sugere a Mishná, para a maioria das pessoas não era fácil adquirir 4 copos de vinho por pessoa, e é por isso que a Mishná especifica que os fundos públicos poderiam ser usados para fornecer aos pobres 4 copos de vinho por pessoa, para que, naquela noite, ricos e pobres celebrassem esta noite participando de um banquete de nobres, e assim poderem visualizar a liberdade e a prosperidade, aquilo a que Maimónides e outros sábios chamaram Cherut.

AS 4 BÊNÇÃOS DO SEDER

Há outra razão prática que explica o motivo dos 4 copos. Num jantar normal, durante a semana, não é habitual beber vinho. Isso não quer dizer que seja proibido beber, quando se bebe com moderação. Mas geralmente o vinho e a carne são reservados para celebrações, especialmente para o Shabbat e festas (Yom Tov). E nestas e outras ocasiões festivas, o vinho costuma acompanhar a recitação das orações e bênçãos que recitamos para celebrar estes momentos felizes. No Shabbat, por exemplo, um copo de vinho acompanha a recitação do Quiddush e também acompanha a recitação de Birkat haMazón (isto é, a bênção depois de comer, embora, nos nossos dias, o costume de beber vinho depois de Bircat haMazon tenha caído em desuso em algumas comunidades). E o mesmo fazemos noutras ocasiões festivas. Na cerimónia de casamento, por exemplo, temos dois copos de vinho. Um copo acompanha a recitação de bircot hairusin e outro copo de vinho acompanha a recitação das sheva berachot (sete bênçãos dos noivos). Da mesma forma, num Berit Milá (circuncisão) recitamos a berachá sobre um copo de vinho.

As bênçãos que dizemos em casa ou numa festa religiosa são geralmente acompanhadas de vinho, já que o vinho é um elemento associado à alegria e celebração.

(…)

Tal como acontece noutras ocasiões, no seder de Pesach os 4 copos também acompanham a recitação das bênçãos celebratórias. Quantas bênçãos comemorativas recitamos durante o Seder de Pessach? – Quatro.

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