Reflexão sobre Isaac

Reflexão sobre Isaac

Isaac

Por: Rav Elisha Salas

O nascimento de Isaac, depois de uma longa espera pela sua chegada, foi a concretização das profecias anunciadas a Abraham de que teria uma descendência numerosa.

Por isso ficamos tão surpreendidos com o episódio da Akedá, quando Hashem ordena a Abraham que Lhe ofereça o seu filho em sacrifício. Estamos muito habituados a focar-nos quase exclusivamente em Abraham ao estudar este episódio, atribuindo a Isaac um papel secundário, mas a verdade é que Isaac teve nele um papel primordial.

No começo da jornada de três dias até ao Monte Moriá, Isaac estava provavelmente entusiasmado pela perspetiva da viagem, desconhecendo o seu verdadeiro objetivo. Abraham, pelo contrário, tinha necessariamente emoções muito fortes em relação à viagem. Isaac e Abraham devem ter conversado pelo caminho, e podemos imaginar a profundidade dessas conversas, naquelas circunstâncias, e o profundo efeito que tiveram em Isaac.

A Bíblia deixa-nos entrever um desses momentos de diálogo, num ponto em que Isaac tinha já alguma intuição sobre o que se iria passar − Eis o fogo e a lenha, e onde está o cordeiro para a oferenda? (Gén. 22:7)

O tempo decorrido desde a resposta de Abraham à pergunta de Isaac – De’s proverá – até à concretização material dessa provisão (o aparecimento do carneiro para a oferenda) é um tempo curto, mas pleno de significado e de ensinamento espiritual, que nos dá a conhecer a grandeza de Isaac, particularmente a sua obediência, o seu respeito pelo pai, a sua coragem e a sua absoluta fé em De’s.

Não há, por parte de Isaac, em nenhum momento, mesmo estando já iminente a sua morte, o mais mínimo movimento para se libertar ou escapar do sacrifício. Pelo contrário: segundo os nossos sábios, Isaac pediu mesmo a Abraham que se certificasse de o amarrar bem: Amarra-me de mãos e pés, pois o instinto de vida é forte. É provável que antes que a faca chegue, eu trema e seja desconsiderado como oferenda. Amarra-me, para que eu não tenha mancha. (Midrash Tanchuma Buber)

Eu sou shochet (abatedor ritual de animais). Sei bem a concentração que acontece nesses poucos segundos entre o erguer da faca e o abater do animal. São talvez só dois segundos, mas são dois segundos onde o tempo para; onde o único pensamento é o de cumprir a vontade de De’s, abatendo o animal de forma rápida e humana, num só corte preciso, pois qualquer hesitação, desvio da faca ou movimento do animal podem torná-lo não kosher, fazendo com que morra em vão. O animal tem que ser abatido com um só corte, limpo e preciso, e o shochet, para além da preocupação técnica, sente também o peso espiritual e afetivo de saber que está a matar um ser vivo.

É esmagador sequer pensar no que esses dois segundos devem ter representado para Abraham e Isaac. Aqueles últimos segundos antes de se ouvir a voz redentora – Não lances a mão ao jovem!

Abraham e Isaac estavam completamente submetidos à vontade de De’s. Estavam total e completamente entregues e concentrados, com todas as suas forças, num só objetivo: cumprir a vontade de De’s. É isso que Ele quer. E por isso foram merecedores da redenção. Porque Eu não tenho prazer na morte de quem morre, disse o Senhor, Hashem. Regressai e vivei. (Ez. 18:32)

Rav Elisha Salas

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Rav Elisha Salas foi shaliach da Shavei Israel como rabino comunitário em Portugal, Espanha e América Central entre os anos 2003-2019.

Atualmente vive em Ashkelon, Israel, dedicando-se à supervisão de kashrut em Israel e Portugal.

Parashá da Semana

Bo

Pelo rabino Reuven Tradburks.

Ocorrem as pragas 8 e 9. Antes do dia 10, a morte do primogénito, são dadas as mitzvot de Korban Pesach e de Matza. O primogénito morre.  Os judeus são enviados para fora do Egito. São dadas Mitzvot para comemorar a importância do êxodo do Egito.

1a aliá (10:1-11): A oitava praga: gafanhotos. Moshe e Aharon vão ao Faraó: Haverá uma invasão de gafanhotos, que comerão toda a vegetação que ficou depois do granizo.  Vão-se embora. Os conselheiros do Faraó avisam-no de que o Egito está a caminho da destruição.  Moshe e Aharon são trazidos de volta. O Faraó diz: Vai e serve o teu De’s. Quem vai? Moshe responde: Jovens, velhos, homens, mulheres, animais. O Faraó recusa: Só homens. E os expulsa.

As pragas têm padrões. Um padrão nestas últimas pragas parece ser uma inversão da Criação. De volta à história da Criação: a luz é criada no dia 1. Os céus no dia 2. A terra e a vegetação no dia 3. Ao contrário, os gafanhotos comem toda a vegetação da terra. Chegam em enxames vindos do céu. Na escuridão, Moshe ergue a sua vara para o céu. E depois, não há luz. Como se o mundo do Egito estivesse a desfazer-se, de volta ao caos.

2ª aliá (10:12-23): O vento leste traz os gafanhotos. Escurecem a terra, comem toda a vegetação. O Faraó chama rapidamente Moshe e Aharon:  Pequei contra De’s, o vosso De’s. Rezem, para esta morte ser removida de mim.  Moshe reza. O vento traz os gafanhotos de volta ao mar. O Faraó não deixa sair o povo.  A 9ª praga: 3 dias de escuridão. Mas para os judeus há luz.

Embora não devamos ter um filho preferido, podemos ter uma praga preferida. As crianças gostam das rãs. A minha preferida é a escuridão. Pelo que diz sobre os judeus. Se está escuro no Egito por 3 dias – já agora, porquê 3 dias? Sobre nenhuma das outras pragas nos é dito quanto tempo duraram. Porquê a escuridão durou 3 dias?  Onde mais nesta  história surgem 3 dias? 

Moshe pediu ao Faraó que permitisse que os judeus viajassem 3 dias pelo deserto para servir a De’s. Se estiver escuro durante 3 dias – Perfeito! Saem, andam durante os 3 dias, e quando as luzes se acenderem, o povo judeu já estará junto ao mar. Porque não partiram sob a cobertura dos 3 dias de escuridão?

Porque esta história não é a história da marcha do povo judeu rumo à liberdade. Uma marcha para a liberdade teria um líder carismático, que reunisse o povo para lutarem contra as injustiças que lhes foram feitas, liderando um povo que anseia ganhar a sua liberdade.  Mas a história não é esta. Os judeus estão no Egito há 430 anos. Sem insurreição. Moshe tem 80 anos quando foi chamado para a sua missão – um pouco tarde na vida para liderar um povo.  Mas liderar o povo não é ideia dele; é-lhe imposta. Recusa-se. Moshe não é um líder carismático, um orador retórico suave, um mestre legislador. 

A história do Êxodo é a Sua história. Ele escolhe Moshe, contra a vontade do próprio, para ser o Seu peão. E repare nos judeus: podiam ter aderido logo – mas eles não são lutadores pela liberdade. Partem completamente pela vontade de De’s, não pela sua própria vontade. Quando tiveram a oportunidade de correr, não o fizeram. O líder relutante e os seguidores passivos só significam uma coisa: a sua redenção não foi um feito do povo, mas uma realização dEle.

3ª aliá (10:24-11:3): O Faraó chama Moshe: Ide servir a De’s, até mesmo os vossos bebés. Deixai só os animais para trás. Moshe responde: Precisamos de levá-los – não sabemos o que oferecer até chegarmos lá. Nunca mais me verás, ou morrerás. De’s diz a Moshe que depois da próxima praga vão ficar livres. E os egípcios vão equipar o povo com ouro e prata.

A justiça é um tema central da Torá. A injustiça da escravatura tem de ser corrigida – daí a promessa de que os egípcios darão ouro e prata, uma pequena compensação pela escravatura.

4ª aliá (11:4-12:20): Moshe conta ao Faraó sobre a praga iminente do primogénito. O teu povo vai implorar para que partamos. Moshe sai com raiva. De’s diz-lhe que o Faraó não vai ouvir. Moshe e Aharon recebem as instruções para o Korban Pesach: no dia 10do mês pegue um cordeiro para a família, guarde-o até dia 14, todo o povo judeu deve oferecê-lo, consumi-lo à noite, assado, com Matza e Maror, com o seu cajado na mão e sapatos nos pés. Entretanto, à meia-noite, vou atacar todos os primogénitos. Este dia e a sua celebração serão marcados eternamente. Durante 7 dias comam Matza; nenhum chametz deve ser comido durante 7 dias.

A Matza deve ser comida na noite do êxodo, antes da meia-noite. Mas eu pensava que comíamos Matza por causa da pressa do êxodo! E isso só acontece no dia seguinte. Rav Menachem Liebtag salienta que o seder na noite do êxodo é um jantar anti-Egipto. Os animais eram sagrados – assamos um. E o pão que sobe é um desenvolvimento egípcio. Todo o pão nestas partes do mundo é pão achatado – pitas, laffa. O pão em formas chiques é egípcio. Então, no seder no Egito – nenhum pão egípcio chique, apenas Matza.

5ª aliá (12:21-28): Moshe instrui as pessoas sobre Pesach, incluindo a marcação das portas com sangue. Não devem sair de casa naquela noite. Este feriado será cumprido para sempre; quando chegarem à terra, cumpram-no. Os vossos filhos perguntarão porquê; digam-lhes que é porque De’s passou sobre as nossas casas. As pessoas que ouvem estas instruções acedem e vão fazer exatamente o que De’s mandou a Moshe e a Aharon.

Imagine a fé necessária para seguir estas instruções. Ok, De’s prometeu que os egípcios primogénitos serão feridos no dia 15 à meia-noite. E com isso, vamos ser livres. Mas escravos a se prepararem descaradamente para abater os animais sagrados do Egito, não num dia, mas tomá-lo e guardá-lo por 4 dias, oferecê-lo e assá-lo? Porquê assá-lo em fogo aberto?  Não sei, estou a especular, mas não se pode esconder o cheiro de um churrasco. Toda a vizinhança o sente. Os judeus são ordenados a celebrar, sem vergonha, em plena exibição, queimando o que é sagrado para os egípcios, bem na sua cara – antes de serem libertados! 

E, para ampliar a confiança e a fé, saiba que vai cumprir isto para sempre. Antes do êxodo acontecer, já planeiam celebrá-lo para sempre. Isto é confiança. Fé. 

Quando Moshe instruiu o povo, as pessoas fizeram exatamente o que De’s mandou.  Uau!

6ª aliá (12:29-51): À meia-noite, todos os primogénitos do Egito morrem. O Faraó chama Moshe e Aharon e ordena-lhes que saiam para servir a De’s. Rapidamente, para todo o Egito não ser ferido. 600.000 homens adultos estavam entre os judeus que deixaram o Egito.  A massa foi assada como Matza, pois não podiam esperar que levedasse.  A estadia no Egito foi de 430 anos.  De’s diz a Moshe e Aharon as regras da oferta de Pesach: só escravos circuncidados, não empregados, todo o povo, não o tirem de casa, uma regra para todo o povo. 

O Êxodo do Egito é uma crença central: que De’s molda a história judaica, com uma yad chazaka e um braço estendido. Acreditamos num De’s todo-poderoso. Que nos deu a Torá. Mas que, além disso, tem um plano. Interveio nos assuntos do homem, trouxe-nos a Ele. A Mão de De’s na história tem sido demasiadas vezes, na verdade, obscurecida da nossa vista. Para onde nos está a levar, como é que Ele nos está a guiar? 

Nós, a geração privilegiada, (oh, quão privilegiada!) nós, que voltámos à nossa Terra, temos o verdadeiro privilégio de ler sobre a Sua Yad Hachazaka e o seu Zroa Netuya, a Sua mão forte e o Seu braço estendido – e podemos confirmar que, sim, afirmando que Ele guia sim o nosso povo, intervém sim na nossa história.

7ª aliá (13:1-16): De’s ordena: todos os primogénitos e animais do povo judeu serão sagrados para mim. Moshe diz ao povo: lembrai-vos deste dia, pois neste dia, De’s tirou-vos da escravidão com mão forte. Quando vierem à terra de Israel, cumpram o seguinte: comam matza durante 7 dias, libertem a casa de chametz, dizei aos vossos filhos que foi para isto que De’s nos tirou do Egito. E amarrá-lo-ás como um sinal no teu braço e como lembrança entre os teus olhos. Cada animal primogénito é uma oferta dedicada. Quando o teu filho te perguntar o que é isto, diz-lhe que De’s nos tirou do Egito. Prende isto como um sinal na tua mão e um guia entre os teus olhos, porque De’s nos tirou com mão forte. A história do Êxodo precisa de ser lembrada nos seus detalhes através de Mitzvot, incluindo colocar tefilin na mão, no nosso braço mais fraco, (pois Ele é quem tem o braço forte), e nas nossas cabeças. Porque todas as nossas ações e aspirações, para toda a História, precisam de ser guiadas por essa história do Seu amor, tomando-nos para sermos os Seus amados.

Rav Reuven Tradburks é o Diretor do Machon Milton, o curso de preparação para a conversão em inglês, uma parceria do Rabbinical Council of America (RCA) e da Shavei Israel. Rav Tradburks também é Diretor Regional para Israel da RCA. Antes da sua aliá, Rav Tradburks trabalhou durante 10 anos como Diretor do Tribunal de Conversão do Vaad Harabonim de Toronto, e foi rabino comunitário em Toronto e nos Estados Unidos.

A incrível história da sinagoga da Covilhã (Shaarei Kabalah)

Artigo de Jayme Fucs, guia de turismo cultural em Portugal e Israel

Cada vez que pesquiso ou estudo sobre Portugal Judaico, o que mais me impressiona é que sempre encontro uma nova surpresa! Uma nova descoberta! São muitos mistérios e segredos ainda não revelados! Me pergunto: Porque pouco sabemos sobre a história dos Judeus de Portugal? Porque a história dos judeus de Portugal ficou esquecida nos livros de história Judaica? Vou contar para vocês a incrível História de uma comunidade secular na Beira do Interior, no sopé da serra da Estrela [Portugal], de nome Covilhã, que pelo nome dá para entender que a sua origem está vinculada à produção de lã em tempos remotos da sua história.

Sabemos da existência da comunidade judaica da cidade da Covilhã desde o século XII, e ela vai existir até à proibição do judaísmo em Portugal. No século XV era considerada a maior e a mais importante da região da Beira interior. Foi considerada uma das maiores e mais fortes comunidades do País, não somente no desenvolvimento da economia e da ciência mas também pela quantidade de nomes ilustres que marcaram a História de Portugal.

Exemplos de portugueses judeus covilhanenses ligados à epopeia dos Descobrimentos e expansão marítima portuguesa: Mestre José Vizinho, cosmógrafo de D. João II; Rui Faleiro, artífice da viagem de circum-navegação de Fernão de Magalhães; Francisco Faleiro, grande cosmógrafo colocado ao serviço de Espanha, autor do Tratado del esphera y del arte del marear; eventualmente, Pêro da Covilhã, explorador e preparador do caminho marítimo para a Índia; e o famoso João Ramalho, primeiro bandeirante no Brasil, de origem judaica covilhanense.

A antiga judiaria da Covilhã ficava localizada dentro das muralhas de proteção da cidade, e hoje em dia está localizada nas atuais Rua das Flores, Rua do Ginásio Clube, Rua da Alegria, Beco da Alegria e Travessa da Alegria. As suas casas eram, como muito comum nas judiarias de Portugal, de dois andares: em cima moravam e em baixo era para os negócios, onde a principal ocupação dos Judeus era o trabalho artesanal e o comércio, designadamente o de lã. Tendo em conta a opinião de muitos pesquisadores, acredita-se que a antiga sinagoga de Covilhã estava situada na atual Rua das Flores. A partir do Sec. XVI, a história dos judeus de Covilhã se torna, como em todo Portugal, uma saga para a sobrevivência de sua cultura e religião, onde milhares de cristãos novos foram acusados de praticas judaizantes e condenados pelos carrascos da Inquisisão. Mas sobreviveram na história, no que conhecemos hoje como o Cripto Judaismo.

No Seculo XX aparece o cristão novo Capitão Artur Carlos de Barros Basto, condecorado com méritos por bravura em defesa de Portugal em 1919. Chega ao Porto e entende a necessidade de criar o movimento de resgate dos cristãos novos que sobreviveram na Historia por quatro séculos. O Capitão Barros Basto tem como seu grande projeto de vida o ajudar os cristãos novos em Portugal a poder retornar ao Judaismo. A sua iniciativa desperta a esperança nos corações de uma quantidade enorme de pessoas que se diziam descendentes dos judeus forçados à conversão no século XV e afirmavam manter ainda, no segredo dos seus lares, algumas práticas e rituais judaicos. Estas pessoas, os cripto judeus, começaram a participar dos serviços religiosos que Barros Basto realizava, a princípio no Porto e depois em várias aldeias e vilas de Trás-os-Montes e das Beiras e chegando à cidade da Covilhã.

Em Covilhã acontece um fato único esquecido na História judaica de Portugal: através da iniciativa do Capitão Barros Basto, no dia 4 de maio de 1929, reuniram-se várias famílias de cristãos novos da cidade da Covilhã, na casa da senhora Amélia Fernandes, cripto-judia, que era uma fiel observante dos ritos judaicos que lhe ensinaram seus pais. Nesse momento histórico, é decidida a fundação de uma sinagoga em Covilhã. Em 30 de outubro de 1929 inauguraram num pequeno local a sinagoga da comunidade Judaica da Covilhã chamada Shaarei Kabalah («As Portas dos Aceites») ou, como eles traduziram, «As Portas da Tradição», onde começaram a participar dos cultos e das reuniões centenas de Cripto-Judeus da Covilhã e da região da Beira. Esse acontecimento foi um renascimento da esperança da possibilidade do retorno de centenas de cristãos novos ao judaismo, mas essas esperanças foram apagadas com a implantação da ditadura em Portugal em 1932. O medo do anti-semitismo e da intolerância religiosa se propagou entre os cripto judeus da Covilhã, assim como em todo o território português. O Capitão Barros Basto, o seu líder, começou a ser conotado como oposição, e não tardou em aparecer o antissemitismo. Barros Basto foi perseguido pelo exército, sendo colocado em locais cada vez mais longe do Porto e das suas atividades em Covilhã , numa tentativa de assim o afastar da Sinagoga e dos projetos que tinha em mente criar. No final, será expulso do exército e a Sinagoga do Porto, que foi criada por iniciativa do Capitão Barros Basto, jamais foi aberta para os cristãos novos. O medo se espalhou entre os cristãos novos de todo Portugal e, como no período da Inquisição, mais uma vez os criptos judeus se trancaram em suas casas, no seu silêncio secular, para ainda poder guardar o segredo e esperar por mais uma oportunidade de estarem seguros para retornar ao judaísmo. A Sinagoga da Covilhã (Shaarei Kabalah) teve que fechar suas portas e, já sem funcionamento, seu prédio foi demolido. Ele se situava nas cercanias da atual igreja de Santiago.

Assim está escrito no Jornal judaico Ha Lapid numero 23, de 30.10.1920:

No Dia 30 de outubro chegou o Capitão Barros Basto, que à tarde fez uma conferência sobre judaísmo na sede da Comunidade Judaica da Covilhã. À noite desse dia foi feita a inauguração da pequena sinagoga, a que o mensageiro do resgate [Barros Basto] deu o nome de Shaarei Kabalah. À entrada da sinagoga foram lançadas flores por cripto judeus presentes.

Até hoje podemos observar uma existência muito forte de nomes das famílias de cristãos novos ainda muito presente nas atuais famílias Covilhanenses, por exemplo: Mendes, Cardoso, Costa, Pereira, Henriques, Cruz, Dias, Baltazar, Vizinho, Gomes, Ramalho, Nunes, Flores, Franco, Vaz, Pinho, Teles, Faleiro, Elias, Mesquita, Oliveira, Ranito, Benjamim etc.

Fontes:

* Comunidades marranas nas Beiras – Maria Antonieta Garcia

* Os judeus da Beira interior: a comuna de Trancoso e a entrada da Inquisição – Maria José Ferro Tavares

* Religião e vida social no espaço urbano: comunidades judaicas na Beira Interior em finais da Idade Média – Isaura Luísa Cabral Miguel

* Rede da judiaria – http://www.redejudiariasportugal.com/…/189-judeus-da…

* Beira interior é o epicentro da rota do judaísmo – Paulo Rolão

* Jornal Ha Lapid – Numero 23 – outubro 1929