Pergunta: Qual é a opinião judaica sobre doação de órgãos?
Resposta:
Existem duas fortes opiniões rabínicas sobre a moderna questão haláchica (lei judaica) sobre doar órgãos.
Primeira opinião: Rav Shlomo Aviner
Existem cerca de 1000 pessoas que estão à espera de um transplante de órgãos e, caso não encontrem, correm sérios riscos de vida. Muitas vezes têmos a oportunidade de salvar estas vidas e então, devemos fazê-lo.
Talvez você argumente: “é proibido matar uma pessoa para salvar outra!”. Como no caso da orientação haláchica do Gaon (gênio do estudo da Torá) Moshe Fainshtein z”l que proibiu um transplante de coração, argumentando que tal prática mata o doador e não necessariamente salva o receptor. Contudo, desde então, a medicina avançou bastante, e o mesmo Rav Fainshtein determinou mais tarde que morte cerebral é considerada morte de acordo com a Halachá (assim como também o fizeram o Supremo Rabinato de Israel há 20 anos). Deste modo, é suficiente que cérebro pare de funcionar – incluindo centros respiratórios – para que a pessoa seja considerada morta.
Mas, então, é uma mitzvá doar os órgãos para assim salvar uma vida?
É verdade que a doação de órgãos envolve certos problemas haláchicos. Entre outros: a mitzvá de enterrar esses corpos, respeito pelos mortos, a proibição de desfigurar a carne humana, etc.
Apesar disso, o transplante de órgãos é uma questão de vida e morte, o preceito chamado de “pikuach nefesh” (risco de vida). Através de um transplante podem salvar a vida de uma pessoa ou uma enorme diminuição da dor ou sofrimento, como no caso de uma pessoa que tem um fígado artificial. O preceito de “pikuach nefesh” supera estas proibições. Às vezes, uma pessoa, através de sua doação, pode salvar sete indivíduos.
Algumas pessoas temem que esses corpos careçam destes órgãos no momento de “Techiat Hametim” (a ressurreição dos mortos). Mas certamente não faltarão. O mesmo se aplica para aqueles que perderam os órgãos devido a doenças ou feridos na guerra. Recuperarão todos seus órgãos que estarão, inclusive, melhores.
Segunda opinião: Rabino Mordechai Alperin em nome do Rabino Shlomo Zalman Oierbach
(Publicação no diário Iated Neeman – 18 Menachem Av 5751)
Fomos convidados para expressar a nossa opinião, a opinião da Torá, em relação ao transplante de coração ou outro órgão a um paciente em estado de perigo, no momento em que o coração do doador ainda está batendo e seu cérebro, incluindo o tronco cerebral, já não funcionam, situação que é conhecida como “morte cerebral”. Nosso ponto de vista é que não há permissão para retirar qualquer um dos órgãos de uma pessoa, e fazer tal ação, é derramar sangue.
(Rabino) Shlomo Zalman Oierbach
(Rabino) Yosef Shalom Eliashiv
1. A morte cerebral, como foi definida hoje por médicos, não é o suficiente para definir a morte de uma pessoa. Portanto, é proibido apressar a sua morte, e obter órgãos, enquanto o coração ainda bate. É proibido, mesmo que a intenção seja salvar a vida de um paciente que certamente morrerá.
2. Nos casos a seguir é permitido retirar órgãos para implantes, e há casos em que é permitido, somente, receber a doação, de uma pessoa definida pelos médicos, como morte cerebral:
- Fora da Terra de Israel. Sendo que a maioria dos médicos e pacientes, em sua maioria não-judeus, que agem de acordo com a ciência e suas crenças – o judeu tem permissão para receber um transplante, e receber órgãos para salvar sua vida, mesmo que seja conhecido que o doador é judeu.
- Se a cabeça foi cortada ou caso todo o cérebro tenha saído, mesmo se o coração ainda está batendo.
- Quando a morte cerebral foi determinada após a realização de todos os exames médicos que são aceitos hoje.
- Se no futuro for encontrado um teste, que determine com certeza absoluta, que todas as células cerebrais morreram, e que o sistema respiratório não está respirando por, pelo menos, meio minuto.
Estas foram as duas opiniões. Existem aqueles que seguem a primeira e outros que seguem a segunda. O importante é ter um rabino que lhe aconselhe e oriente o melhor caminho!