Por: Rav Reuven Tradburks
Esta dupla parashá é a implementação do edifício do Mishkan. Tivemos 3 parshiot de comandos para construir o Mishkan. Esta é a construção e montagem real.
Quando temos uma parashá dupla, a primeira parashá vai ter 4 aliot, com a 4ª a continuar na segunda parashá. Assim, cada parashá recebe 3 ½ aliot.
1ª aliá (Shmot 35:1-29) Moshe reúne as pessoas, instruindo-as a não trabalhar em Shabbat. Apela às pessoas para que forneçam tudo o que será necessário: metais, têxteis, azeite, especiarias, jóias. Tudo o que De’s ordenou será efetuado por trabalhadores qualificados: o Mishkan, as suas coberturas, o Aron, a Shulchan, a Menorah…. Listando todos os utensílios, a estrutura do Mishkan e as roupas do Cohen. Em resposta ao apelo de Moshe, o povo contribui generosamente: metais, têxteis, jóias, especiarias e azeite.
A generosidade do povo é marcante. Não imaginaríamos que acabámos de ter o Bezerro de Ouro. Perguntamo-nos como o Homem pôde cair tão rápido depois do Monte Sinai fazer o bezerro de ouro. Mas também nos deveríamos perguntar, ou talvez maravilharmo-nos, com a rapidez com que o Homem se levanta do bezerro de ouro para doar para o Mishkan de uma maneira tão maravilhosa. O Homem é capaz de ser um adorador de ídolos num dia e um generoso doador para De’s no dia seguinte.
2ª aliá (35:30-37:16) Moshe apresenta Betzalel, chamado por De’s, cheio com o espírito de De’s, para ser o artesão chefe. Moshe chamou Betzalel e Aholiav e todos os artesãos, para virem fazer tudo o que De’s ordenou. Eles levaram os materiais para começar o trabalho. Chegaram mais doações no dia seguinte. Moshe anunciou que não eram necessárias mais doações. O trabalho foi feito: as cortinas sobre o Mishkan, as cortinas de pele de cabra e a cortina de pele colorida em cima. As tábuas para as paredes, o parochet para pendurar em frente ao Santo dos Santos, e a cortina à entrada do Mishkan. Bezalel fez o Aron e a shulchan.
Betzalel é descrito como tendo Ruach Elokim – espírito de De’s. É um mestre do artesanato. Mas essa mestria é dada por De’s. Esta é uma filosofia poderosa da Torá; a grandeza do Homem é um presente de De’s. As habilidades são um presente que nos é dado, são uma bênção. Muitas e variadas são as habilidades do Homem: Betzalel tem arte, alguns têm música, outros têm eloquência, outros têm o dom de compreender as outras pessoas, alguns têm capacidade matemática, outros são educadores maravilhosos. Podemos orgulhar-nos das nossas capacidades, mas ao mesmo tempo temos que ser humildes e agradecidos pelo facto de Ele nos ter escolhido para nos dar essas competências. A verdadeira humildade não exige que rejeitemos os nossos talentos; apenas que os atribuamos corretamente à sua fonte. São dados por De’s.
3ª aliá (37:17-29) E ele fez a Menorah e o Altar do Incenso.
Esta é uma aliá curta. Esta parashá dupla tem 190 versículos. É muito longa. Cada aliá tem aproximadamente 30 versículos. Mas esta tem 13. Porquê uma aliá tão curta?
O Mishkan é o alcance do homem para D’us. O edifício é necessário. Mas é estático. É necessário, mas não é suficiente. Um edifício sozinho não é serviço de D’us. A atividade humana é que é. (Como o fenómeno moderno do “complexo de edifícios”. Belas sinagogas sem ninguém dentro).
Existe um padrão na ordem da construção do Mishkan: de estático para dinâmico. O Mishkan é o local de encontro do Homem com D’us. É a humanidade a buscar D’us. O serviço do Homem a D’us é dinâmico. Fazer. Agir. Servir. Esse serviço dinâmico, de seres humanos a realizar um serviço, exige um edifício. Mas o edifício é o meio para atingir um fim; é o palco do espetáculo. Não é o espetáculo em si. A nossa parashá é a mudança do estático para o dinâmico. Da construção ao serviço.
A construção é feita primeiro, seguida pelo conteúdo. Constrói primeiro o exterior; em seguida, faça os acabamentos por dentro. Depois elabora as cortinas que formam o telhado. E as paredes. E a cortina para dividir o santo dos santos, o parochet. É estático. Uma edificação.
Nenhum serviço a D’us é feito pelo edifício. Se houvesse uma edificação sem atividade dentro, D’us não seria servido apenas pelo edifício. Precisamos de atividade.
São construídos os utensílios do Mishkan. Sobre eles ser efetuado o serviço de D’us. O Aron vai no santo dos santos. Depois a Shulchan, colocada fora da cortina do santo dos santos, seguida pela Menorah e pelo altar de incenso.
Passámos da construção estática para os utensílios que constituirão o serviço dinâmico a D’us.
Dentro dos kelim, os utensílios do Mishkan, alguns são mais estáticos e outros mais dinâmicos.
Primeiro vem o Aron; não apenas porque é o mais sagrado, mas porque é estático. Não há avodá, nenhum serviço é feito com o Aron. Ele fica lá, estático, no Santo dos Santos.
Seguidamente é a Shulchan. Há avodá, serviço. Os pães são colocados nesta mesa uma vez por semana, ficando durante a semana. Não se faz nada com os pães diariamente. Existe um serviço dinâmico e humano, mas não é diário. Apenas semanal. Ainda não chegámos ao serviço diário mais dinâmico e humano.
E, por isso, a aliá termina aí. Há uma progressão: do edifício estático ao Aron estático ao Shulchan dinâmico semanalmente.
A nossa aliá é dinâmica. Estes são os kelim mais sagrados, vasos que têm a atividade de serviço mais dinâmica. A Menorá e o Incenso são avodá diária, serviço diário. A Menora é iluminada diariamente. O incenso é queimado diariamente. Por isso, esses utensílios têm a sua própria aliá.
4ª aliá (38:1-39:1) Ele fez o altar para as oferendas, o lavatório de cobre, as cortinas de renda para pendurar em todo o perímetro do Pátio e painel para cobrir a entrada. Foi feito um inventário de todas as matérias-primas usadas: o ouro, a prata, o cobre – e de para quê foram usados. Os têxteis finos foram usados para as vestimentas dos Cohen, tal como De’s ordenou a Moshe.
O padrão continua. A atividade mais dinâmica é no altar das oferendas. Oferendas diárias. Com acrescento de Mussaf em certas ocasiões. Oferendas voluntárias. Este é o aspeto mais dinâmico do Mishkan.
5ª aliá (39:2-21) O Efod (túnica) foi elaborado a partir de materiais coloridos, como De’s ordenou a Moshe. As pedras preciosas com os nomes de Israel esculpidos foram colocadas nos ombros do Efod, como De’s ordenou a Moshe. O Choshen (placa peitoral), do material do Efod, foi feito com as 12 pedras preciosas incrustadas nele, pendurado das peças dos ombros do Efod, como De’s ordenou a Moshe.
Passámos do estático para o dinâmico, do serviço semanal para o diário feito uma vez por dia, e depois para o serviço que se faz várias vezes por dia. Mas há um serviço dinâmico ainda mais dramático. Que ocorre não só várias vezes por dia mas todos os dias, o dia inteiro. São as peças de vestuário dos Cohanim. Usar essas vestes é em si mesmo uma avodá, um serviço. Caminhar pelo Mikdash com essas vestimentas é em si mesmo um serviço. Um serviço constante.
Também é assim com o nosso serviço a De’s. Temos mitzvot semanais, diárias e de várias vezes por dia, e temos também mitzvot constantes, como temer a De’s, ama a De’s, dizer a verdade, cuidarmos dos outros.
6ª aliá (39:22-43) O Meil (manto) foi feito de Techelet, com romãs e campainhas na bainha, como De’s ordenou a Moshe. O K’tonet (manto de linho) foi feito para todos os Cohanim, assim como o Turbante e o Cinto, como De’s ordenou a Moshe. O Tzitz dourado (para a testa) foi feito e colocado, como De’s ordenou a Moshe. Todo o trabalho foi concluído como De’s ordenou a Moshe. Todo o trabalho concluído foi trazido a Moshe: a construção do Mishkan, os utensílios, o pátio exterior, as vestes do Cohen. Moshe viu que tudo foi feito como De’s lhe tinha ordenado. Moshe abençoou o povo.
Concluímos com as vestimentas reais, as vestes coloridas e douradas do Cohen Gadol.
Quando o trabalho fica pronto Moshe abençoa o povo. Que a Shechiná repouse no trabalho das vossas mãos. Porque o padrão é esse: construção estática, depois serviço do Homem, progredindo do menos frequente para o mais frequente, até ao serviço a De’s constante. Mas isso é tudo uma via de sentido único. Nós na direção dEle. Moshe abençoa-os: que a vossa aproximação a Ele receba a aproximação dEle a vós. Ou, mais precisamente, da Shechiná, o Seu abraço.
7ª aliá (40:1-38) De’s ordena a Moshe: No primeiro dia do primeiro mês, monta o Mishkan. Moshe recebe instruções sobre a ordem exata para colocar os utensílios e o edifício. Ele deve vestir os Cohanim e ungi-los. Moshe fez tudo o que De’s lhe ordenou. No primeiro dia do primeiro mês do segundo ano, o Mishkan foi montado, na ordem exata que De’s ordenou a Moshe. Moshe completou o trabalho. Uma nuvem cobriu o Ohel Moed; a glória de De’s encheu o Mishkan. Moshe não podia entrar, devido à nuvem e à glória de De’s. A subida da nuvem era um sinal para viajarem. A nuvem de De’s estava no Mishkan durante o dia. Durante a noite, fogo, visível para todo o povo judeu.
O culminar do edifício é a descida da nuvem, indicando a presença De’s. Essa é a verdadeira culminação do Mishkan. Um lugar na terra para o encontro do Homem com De’s. A nossa aproximação a Ele é recebida pelo Seu abraço. O povo judeu tornou-se um povo com quem a Shechiná reside. E esse é o culminar, não só desta construção mas de todo o livro do Êxodo. Levar-nos a sermos parceiros dEle neste mundo.