«Entre la piedra y la flor»: Um documentário a estrear em breve

«Entre la piedra y la flor»: Um documentário a estrear em breve

Entre la piedra y la flor: La dualidad de los conversos trata da incrível jornada de Genie Milgrom e da sua busca de décadas pela sua linhagem judaica. Genie, uma amiga próxima da Shavei Israel, nasceu em Havana, Cuba, e cresceu em Miami numa escola católica apostólica romana desde a escola primária até ao nível universitário. Sempre esteve sobrecarregada com um sentimento profundamente enraizado de não pertencer ao seu ambiente católico.

A sua história segue muitas voltas e reviravoltas, enquanto toma a difícil decisão de se converter ao judaísmo no meio de uma família católica tradicional de Espanha e escolhe um caminho ortodoxo para o seu futuro.

A sua família e amigos são abalados até à medula, enquanto Genie se convence cada vez mais de que a sua família era judia na Península Ibérica, há séculos atrás.

A sua busca pelas «migalhas de pão» que os seus antepassados deixaram cair levou-a aos Arquivos Medievais e a vários países da Europa para desvendar a rede de segredos que os seus antepassados criaram para se proteger durante tempos muito sombrios da Europa.

Junto com o seu marido Michael, um asquenazita de origem romena, finalmente chega à verdade da sua família num filme atraente que você não pode perder.

A pesquisa para o filme foi realizada em lugares que tocaram a linhagem cripto-judaica de Genie, como Cuba, Espanha, Portugal, Ilhas Canárias, Cartagena, Colômbia, Costa Rica, França, Key West e Miami, Flórida.

Pode ver a apresentação aqui: (em inglês com legendas em espanhol)

A “Rainha Esther do século XVI”, ou “La Senhora”

A “Rainha Esther do século XVI”, ou “La Senhora”

Por: David A. Rosenthal (*)
“A Rainha Esther do século XVI” ou “La Senhora” (HaGevirah)
“Doña Gracia, Doña Gracia, Doña Gracia Nuestro Amor / Doña Gracia, Doña Gracia, Doña Gracia Por Favor”.  Canto sefárdico de Bnei Anusim.
Janna ou Hanna Nasi (mais tarde Gracia, como Janna significa dar graças em hebraico erudito), conhecida em Portugal, Espanha, Itália e Turquia como “A Senhora”, “A Rainha” ou “A Senhora”, não é apenas a mulher judia mais famosa da Renascença, mas também uma das mulheres mais importantes deste período na Europa e no Império Otomano.
Ela foi precursora dos bancos europeus – a primeira mulher banqueira – e do Sionismo, porque 500 anos antes sonhou com um estado para os judeus em Israel. Era também da dinastia davídica, ou seja, descendente da Casa de David – Malchut Beit David – pois o seu apelido Nasi significa “príncipe” e alude à figura do “Patriarca dos Judeus” no exílio.
Lisboa, 1510. Esta é a data e local de nascimento de Dona Gracia, após o exílio judeu espanhol, devido à vil expulsão dos judeus dos reinos de Castela e Leão, assim como de Aragão. No entanto, Portugal repetiria esta história, pois os judeus seriam expulsos em 1497 por ordem do Rei D. Manuel I de Portugal, incitados pela Monarquia Hispânica ou também conhecidos como a “Monarquia Católica” e a Igreja Católica. A única opção em ambos os casos era a conversão ao cristianismo.
Embora a família aristocrática de Dona Gracia Mendes – como ela ficaria mais tarde conhecida – tivesse mudado para o que restava da Península Ibérica “livre” da perseguição dos judeus, estes tiveram de se converter ao catolicismo. Como resultado da situação que se tinha espalhado por toda a península, até Portugal. Além disso, apenas cerca de 600 famílias, das cerca de 100.000 que fugiram de Espanha para Portugal, puderam instalar-se, uma vez que foi necessário pagar uma taxa elevada para obter uma autorização de residência permanente da coroa de João II de Portugal, apelidado de “príncipe tirano”.
Assim, o nome da pequena Janna, nascida como uma “nova cristã” era Beatriz de Luna Miques. A Casa de Luna – de nobre dinastia – era uma família judaica convertida de Pamplona, sediada em Aragão – o Nasí originalmente – com influência na sociedade e na política. O seu pai foi Shmuel Nasí (Ávaro de Luna Miques) e a sua mãe Felipa Mendes (Benveniste), casados em Lisboa.

A família Mendes tinha financiado as expedições de Vasco da Gama à Índia, o que lhes trouxe uma enorme riqueza ao explorar a nova rota comercial da Europa para a Índia. Tinham também financiado a expedição de Pedro Álvares Cabral (originário de Belmonte e filho de um novo cristão) que fez de Portugal o descobridor de quase todo um continente: o Brasil. Entre todos os negócios comerciais e financeiros da família Mendes estava o financiamento das coroas de Portugal, França e do Sacro Império Romano. Além disso, subornaram a Igreja – o Vaticano – em parte para atrasar a Inquisição em Portugal e também para que os antigos judeus em Espanha e Portugal não fossem perseguidos por períodos de tempo.
Dona Gracia foi também uma das mulheres mais poderosas e ricas da Europa renascentista. Era uma mulher de negócios, banqueira, filantropa, diplomata, pré-sionista e também activista política na altura. Uma verdadeira “Eshet Chayil” – uma mulher virtuosa – foi Dona Gracia Mendes Nasi, que sempre defendeu os seus irmãos e irmãs mais desfavorecidos e os protegeu como a grande Senhora que ela era; como a grande matrona hebraica; como uma mãe sefárdica do seu povo. Ela era como uma rainha para os judeus hispano-portugueses exilados, de facto, ela também é lembrada como “a Rainha Ester do século XVI”.
Em 1528, aos 18 anos de idade, “A Senhora” casou com Don Francisco Mendes Benveniste, que era seu tio materno, e um ânus, ou seja, outro “cristão-novo” – novo cristão -, e adoptou o seu apelido Mendes (tradicional convertido sefárdico), chamando-se a si própria Beatriz Mendes. Francisco Mendes era um poderoso comerciante e banqueiro, o seu apelido original judeu era “Benveniste”, de uma família rabínica. O seu bisavô era Don Abraham Benveniste de Castilla, tesoureiro, conselheiro real, rabino e jurista.
Na realidade, Don Francisco Mendes Benveniste era o “Rab Ha-Anusim”, ou seja, “o rabino dos convertidos”. Do mesmo modo, a família Mendes era a contraparte portuguesa ou rival da famosa família Medici italiana, no sector financeiro renascentista. Dom Francisco Mendes Benveniste, conhecedor da Torah e protector dos judeus convertidos, professou o seu amor pelo judaísmo e imbuiu a sua esposa, a jovem Sra. Gracia, com este amor, bem como a instigou a realizar sempre este trabalho e dever em nome dos seus irmãos mais desfavorecidos, que tinham sofrido intermináveis adversidades no novo exílio.
Em 1538, ficou viúva e herdou metade da grande fortuna do seu marido, que acumulou juntamente com o seu irmão Diogo (Meir) Mendes, no comércio de especiarias – especialmente pimenta preta – das Índias Orientais e de Portugal, bem como um banco com agências em toda a Europa e no Mediterrâneo. Quando a Inquisição portuguesa foi estabelecida em 1536, mudou-se com a sua filha Ana (Reyna) Mendes e a sua irmã Brianda de Luna para a rica cidade de Antuérpia, então uma região flamenga da Holanda espanhola.

Em Antuérpia – o principal centro financeiro da Europa -, dona Gracia criou um nome comercial de sucesso, gerindo o ramo comercial e financeiro que lhe foi deixado pelo seu marido. Ela também continuou a trabalhar com o seu tio e cunhado Diogo Mendes, que casou com a sua irmã Brianda, que mais tarde herdaria a sua fortuna rica. Assim, tanto Dona Gracia como a sua irmã Brianda estavam à frente da segunda fortuna europeia.
Dona Gracia tinha sob o seu poder uma das maiores fortunas da Europa, e graças ao poder semelhante que isto lhe deu, financiou o resgate de milhares de anusim ou “marranos” da Inquisição hispano-portuguesa e mais tarde da Inquisição Romana, promovida pelo Bispo Carafa, mais tarde Papa Paulo IV.
Em 1545, Dona Gracia fugiu de Antuérpia para a República de Veneza, juntamente com a sua irmã Brianda e a sua filha Reyna, pois a Holanda fazia parte do Império Espanhol e a Inquisição estava a ameaçá-la. De facto, o seu falecido marido foi acusado de ser um judeu criptográfico e andava atrás dela, pelo que teve de pagar um pesado suborno e também conceder um empréstimo ao Imperador Carlos V. Após o exílio da família Mendes em Veneza, todos os seus bens foram confiscados em Antuérpia, embora José Nasí ou João Micas, sobrinho de Dona Gracia e mais tarde Duque de Naxos, tenham intercedido e resgatado grande parte dos bens confiscados.
As irmãs Luna instalaram-se no Grand Canal em Veneza, onde tinham transferido a sua fortuna. No entanto, após uma disputa entre as irmãs, o tribunal de assuntos estrangeiros de Veneza (Giudici del forestier) decidiu que Donna Grazia tinha de entregar metade da sua fortuna ao tesoureiro veneziano.
Além disso, Brianda acusou Donna Grazia e a sua filha Anna de Judaísmo e foram capturadas, mas uma amiga de Donna Grazia intercedeu em seu nome, sendo o amigo Sultão Suleiman “o Magnífico”. Os venezianos suspeitaram que Donna Grazia fugiria para Constantinopla, mas ela preferiu ir para a vizinha Ferrara, onde o Duque Ercole II de Este tinha feito um convite formal para se estabelecer nas suas terras.  O Duque de Ferrara era filho de Lucrécia Borgia e era também casado com Renata de França, filha de Luís XII, Rei de França, que, como protestante, foi perseguida como herege pela Igreja, tal como o foi Dona Gracia.
Em Itália, Dona Gracia será conhecida como Beatriz, e embora houvesse um importante bairro judeu em Veneza, a colónia judaica em Ferrara era proeminente e gozava de uma posição bastante privilegiada, ao contrário da situação em Veneza. Em Ferrara, Beatrice Mendes, deixando para trás os laços e as vestes da Nova religião cristã que tinha sido obrigada a aceitar, voltou à sua fé hebraica, ou melhor, podia agora chamar-se livremente Gracia Nasi (viúva de Benveniste) e professar o seu ansiado judaísmo e ser uma luz para o seu povo exilado de Sefarade.
Assim, a Bíblia Ferrara – traduzida em judaico-espanhol – editada por Abraham Usque e Yom Tova ben Levi Athias, e Consolação das tribulações de Israel (“Consolaçam às tribulaçoens de Israel” – a mais importante obra judaica escrita em português -) por Samuel Usque, são dedicadas a “A Illustrissima Senhora Dona Gracia Nasci”. Dona Gracia nunca deixou de financiar sinagogas, escolas e livros para resgatar e restabelecer o judaísmo exilado e perseguido da época. Foi também uma mecenas da arte renascentista, financiando artistas da estatura de Michelangelo Buonarroti e Ticiano.
No ámbito da Contra-Reforma Itália, em 1552 Dona Gracia e a sua filha partiram (juntamente com a sua comitiva e guarda) para a capital do Império Otomano: Constantinopla. Aí ela instalou-se numa mansão no então bairro europeu de Galata, que tinha sido em tempos o bairro judeu no século XI. Em Constantinopla, Dona Gracia financiou uma multidão de projectos a favor dos judeus, tais como hospitais, escolas, yeshivas, sinagogas e recebeu também centenas de exilados da Inquisição, convidando-os mesmo para almoçar na sua casa, por vezes até quase 100 pessoas.
Doña gracia era uma “ex-convertida”, pois teve de se converter ao catolicismo, mas tinha regressado ao seu judaísmo. Assim, o seu trabalho era apoiar ex-convertidos como ela, que tinham tido de aceitar a fé católica. De facto, ela usou sempre a sua enorme rota comercial através da Europa para trazer os perseguidos para a “terra livre”, em alguns casos, infelizmente, queimados na fogueira. Além disso, os bens e recursos dos exilados podiam ser trocados, graças ao banco de Mendes que operava nas grandes capitais.
Em 1555, o primeiro “papa da Contra-Reforma”, Paulo IV, atacou os ex-judeus convertidos de Ancona e prendeu-os. Bem, os judeus de Constantinopla, liderados por Donna Grazia, intercederam junto do homem mais poderoso, Sultão Süleyman, em nome dos judeus de Ancona. Assim “o Magnífico”, um querido amigo dos judeus, mediou com os governadores de Ancona para libertar os cativos. No entanto, alguns Anusim – os forçados – foram queimados na fogueira ou vendidos como escravos em Malta, e outros que conseguiram fugir para a cidade vizinha de Pesaro.
Em suma, em 1560, Donna Grazia, juntamente com o seu sobrinho e parceiro comercial Joseph Nasi, promoveu a ideia de um Estado soberano moderno para os judeus na terra histórica de Israel. Bem, os Nasí, depois do Sultão Süleyman, eram os mais poderosos, pelo que lhes foi concedido o cargo de governadores da cidade de Tiberíades, onde começaram a estabelecer as condições para a transformar num Estado judeu.
Dona Gracia e o seu sobrinho, o Duque de Naxos, também financiaram o projecto de Aliyah, ou seja, a ascensão à terra de Israel, e trouxeram judeus de cidades europeias, inicialmente italianos. Dona Gracia tinha também solicitado a Governação de Jerusalém, mas o Sultão preferiu conceder-lhe Tiberíades.
Foi em Tiberíades que Dona Gracia quis viver os seus últimos anos, pelo que ordenou a construção de uma casa, para quando finalmente fez “Aliyah”. No entanto, o plano de estabelecer uma nação judaica em Tiberíades, bem como o plano de Dona Gracia de morrer na terra dos seus antepassados, não se concretizou, pois a cidade não se tornou um estado judaico. Isto também se deveu à recusa cristã e muçulmana de estabelecer uma “nação hebraica” independente em Israel e à morte prematura do padrinho desta causa, Sultão Süleyman.
“La Senhora” morreu em 1569. Ela é em última análise uma “tzadeket”, ou seja, uma mulher justa de Israel e uma predecessora do Sionismo. Que o seu trabalho, memória e legado sejam sempre recordados.
(*) David A. Rosenthal é um cientista político, jornalista, colunista e analista internacional. Siga-o no Twitter @rosenthaaldavid.
O legado português no cemitério judaico de Hamburgo

O legado português no cemitério judaico de Hamburgo

Por: Paulo Pisco

Veja aqui o artigo original completo do jornal português Diário de Notícias

O cemitério judaico-português de Hamburgo é um exemplo extraordinário da presença portuguesa no mundo, onde a história confirma a conhecida capacidade de adaptação dos portugueses aos contextos e situações mais inesperados.

Construído em 1611, e onde foram registadas mais de 1500 sepulturas, segundo algumas fontes, o cemitério foi oficialmente encerrado há quase um século e meio e é hoje um lugar de visita intenso e o mais antigo da cidade e do norte da Europa. Passa-se o portão que o protege e o visitante é logo envolvido pelas árvores altas e dispersas que dão sombra e frescura às lápides com inscrições em português, outras em hebraico, muitas com um véu de fuligem e musgo, umas tombadas outras na vertical.

Fugidos de Portugal por causa da Inquisição no final do século XVI, os cristãos novos foram bem aceites em Hamburgo, onde encontraram um lugar para viver, sem terem de esconder a sua religião e rituais judaicos. Situado então numa das zonas mais nobres da cidade, o nome da rua, Königstrasse, Rua dos Reis, é disso mesmo um reflexo.

O terreno foi adquirido pelos comerciantes portugueses André Falero, Ruy Cardoso e Álvaro Dinis, que conquistaram as graças do soberano e assim conseguiram que “a nação portuguesa pudesse sepultar os seus defuntos”, os judeus sefarditas, segundo o pequeno livro Arquivos de Pedra – 400 anos do Cemitério Judaico de Königstrasse. Com a sua ação, deixaram para a posteridade um extraordinário legado, onde se encontra uma parte da História de Portugal e de Hamburgo, o que certamente terá contribuído para que esta cidade seja hoje a mais portuguesa da Alemanha, com inúmeras marcas da nossa presença, do “bairro português” apinhado de restaurantes, ao antigo navio-escola Sagres ancorado no porto, da omnipresença dos pastéis de nata, ao único busto do Vasco da Gama existente no estrangeiro.

Brasil: a comunidade judaica mais antiga das Américas

Brasil: a comunidade judaica mais antiga das Américas

Por: Rav Menachem Levine

Link para o artigo original em inglês: https://aish.com/brazil-the-oldest-jewish-community-in-the-americas/

A fascinante história dos judeus do Brasil.

Não é em Nova York, em Cincinnati ou na Filadélfia. A mais antiga e primeira comunidade judaica das Américas foi estabelecida no Brasil, onde judeus sefarditas fundaram a primeira sinagoga em Recife em 1636. Esta é a fascinante história dos judeus do Brasil.

Descobrimento Português 1492 – 1624

Após um século de descobertas e colonizações bem-sucedidas, a monarquia portuguesa disse a Pedro Álvares Cabral, no ano de 1500, que levasse seus navios o mais longe possível para oeste para ver se encontrava uma rota alternativa para a Índia. Acompanhando Cabral nesta viagem como intérprete estava um judeu, Gaspar da Gama.

Gaspar foi “descoberto” pelo famoso explorador Vasco da Gama, na Índia, onde Vasco da Gama ficou chocado ao encontrar um homem branco servindo como conselheiro de um dos governantes locais. Vasco Da Gama decidiu que lhe seria útil ter alguém que falasse as línguas orientais, então decidiu levar esse homem de volta para Lisboa. Fez o judeu se converter ao catolicismo e adotar o nome de Gaspar da Gama, em honra do explorador.

Quando Cabral viajou para o Oeste, achou que seria útil ter Gaspar com ele para conversar com os nativos. Depois de cruzar o Oceano Atlântico, chegaram à terra que viria a ser conhecida como Brasil. O primeiro homem a pisar nesta nova terra foi Gaspar. Infelizmente, o seu conhecimento dos dialetos da Índia não serviu de nada para tentar conversar com os brasileiros, e foi então que começou a colonização portuguesa no Brasil.

Depois de descobrir o Brasil, os colonos portugueses foram para o oeste, na esperança de descobrir ouro e prata e estender seu território. Eles eram conhecidos como os Bandeirantes porque carregavam uma bandeira com eles. Com base em seus nomes, os registros sugerem que muitos deles eram conversos, judeus ocultos. Um dos bandeirantes mais importantes foi Fernando de Noronha, um converso português com muitos contatos na corte lisboeta. Ele convenceu a Coroa a arrendar-lhe a terra e que lhe daria em troca uma madeira chamada Pau Brasil que fornecia um corante e outros itens preciosos que encontrasse. A madeira que ele enviou deu à terra o nome de Brasil.

Os historiadores sugerem que seu esquema de arrendamento foi um esforço para ajudar os judeus portugueses, criando um lugar para eles viverem longe das crescentes ameaças da Igreja Católica e da Inquisição. Isso era crucial, porque depois de serem expulsos da Espanha em 1492 pelo infame Decreto de Alhambra, muitos judeus espanhóis se mudaram para Portugal, onde havia muito mais tolerância para com os judeus.

Mas este refúgio chegou ao fim em 1497, quando Portugal expulsou os seus judeus. Nesse ponto, alguns judeus se mudaram para a Holanda e outros tentaram se mudar para as colônias distantes, esperando chegar o mais longe possível do governo centralizado e de sua Inquisição. Assim, muitos cristãos-novos ou conversos se estabeleceram no Brasil, onde se beneficiariam com a colonização de Fernando de Noronha.

Brasil holandês 1624-1654

Em 1600, a Companhia Holandesa das Índias Orientais, que importava especiarias e produtos exóticos do Extremo Oriente, tinha grande sucesso. Assim, os holandeses decidiram criar uma Companhia das Índias Ocidentais, que importaria recursos naturais de Nova York, das ilhas do Caribe e do Brasil, grande produtor de açúcar.

Os holandeses derrotaram os portugueses no nordeste do Brasil e começaram a estabelecer ali um assentamento holandês, chamado Nova Holanda. Os holandeses permitiram a liberdade religiosa na Nova Holanda. Como resultado, muitos convertidos portugueses que viviam nas áreas do Brasil controladas pelos portugueses se mudaram para lá, para se tornarem novamente judeus de pleno direito. Duzentos judeus holandeses também faziam parte do assentamento holandês original. Os judeus estabeleceram uma variedade de negócios na Nova Holanda e estiveram particularmente envolvidos no desenvolvimento da indústria açucareira do Brasil.

A maioria desses mercadores judeus morava na Rua dos Judeus. Foi nesta rua que foi construída a primeira sinagoga do Hemisfério Ocidental, em 1636. Chamava-se Kahal Tzur Israel, a Rocha de Israel.

Os registros da sinagoga mostram uma comunidade judaica bem organizada, com alta participação, incluindo uma escola Talmud Torá, um fundo de tzedakah e um comitê executivo de supervisão. Em 1642, Rabi Isaac Aboab da Fonseca, um conhecido rabino de Amsterdã, e Moses Raphael d’Aguilar vieram ao Brasil como líderes espirituais para auxiliar as congregações de Kahal Zur em Recife e Magen Abraham em Mauricia.

Conquista portuguesa da Nova Holanda

Durante anos, o assentamento holandês prosperou, mas depois a Companhia das Índias Ocidentais começou a perder o interesse na colônia, pois os lucros eram menores do que noutras áreas sob seu controle. Os portugueses expulsaram os holandeses do Brasil em 1654, após uma guerra de nove anos.

No Tratado dos Guararapes, os portugueses prometeram respeitar a liberdade religiosa daqueles que optaram por permanecer no Brasil sob controle português. No entanto, nos anos seguintes, os portugueses voltaram atrás em sua palavra, acusaram os judeus de heresia e os perseguiram.

Nesse ponto, 150 famílias judias optaram por retornar a Amsterdã, mas outras se mudaram para áreas controladas pelos holandeses no Hemisfério Ocidental. Vinte e três desses judeus holandeses viajaram para Nova Amsterdã, a atual Nova York. Peter Stuyvesant era o governador de Nova Amsterdã e não gostava de judeus. Ele pediu permissão à Companhia das Índias Ocidentais para expulsá-los, sem perceber que uma porcentagem dos acionistas eram de fato judeus. Ele recebeu uma resposta de Amsterdã dizendo-lhe para «tratar nossos acionistas com consideração».

A Inquisição no Brasil

Apesar da esperança dos judeus de que a distância os protegesse do longo braço da Inquisição, a perseguição portuguesa os seguiu até o Novo Mundo. Em 1647, Isaac de Castro foi preso por ensinar judaísmo numa parte do Brasil controlada pelos portugueses. Ele foi deportado para Portugal, onde a Inquisição o condenou à morte e o queimou na fogueira. Reconhecendo o perigo, os judeus esconderam suas identidades judaicas, emigraram para áreas controladas pelos holandeses ou se mudaram para o interior do Brasil, onde havia menos supervisão.

Os historiadores encontraram recentemente populações no interior do Brasil que têm práticas aparentemente judaicas. Esses grupos não sabem explicar porquê, mas acendem velas na sexta-feira, lêem apenas o “Antigo Testamento”, não comem carne de porco ou marisco e evitam comer pão durante a Páscoa.

Um dos casos mais famosos sobre a Inquisição no Brasil foi o de Antonio José da Silva. Da Silva era um estudante de direito que morava no Rio de Janeiro, e também escreveu várias peças de teatro de sucesso. Foi denunciado à Inquisição, preso e enviado para Portugal. Ele se recusou a se retratar e foi queimado na fogueira em 19 de outubro de 1739. Sua coragem inspirou brasileiros judeus e não judeus, e, em 1996, sua história foi transformada em um filme brasileiro chamado O Judeu.

O fim da perseguição oficial e a comunidade marroquina

Em 1773, um decreto real português aboliu a perseguição aos judeus. Como resultado,  foram-se estabelecendo gradualmente judeus no Brasil, embora quase todos os conversos brasileiros originais já tivessem sido assimilados.

Em 1822, depois que o Brasil conquistou sua independência oficial de Portugal, começaram a se mudar para o Brasil judeus marroquinos. Em 1824, eles fundaram uma sinagoga em Belém (norte do Brasil) chamada Porta do Céu. Na Primeira Guerra Mundial, a comunidade sefardita de Belém, composta principalmente por marroquinos, tinha aproximadamente 800 membros. Na década de 1950, uma onda adicional de imigração judaica trouxe mais de 3.500 judeus marroquinos para o Brasil.

Os judeus europeus Ashkenazi começaram a chegar ao Brasil por volta de 1850. O Brasil não era o destino preferido de judeus europeus à procura de uma nova vida na América do Sul. Os europeus, judeus e não judeus, tendiam a preferir a Argentina, mais cosmopolita. No início do século 20, a Argentina tinha um dos mais altos padrões de vida do mundo. É possível que os imigrantes que escolheram o Brasil o tenham feito porque a o preço do bilhete de barco era muito menor do que para Buenos Aires, que ficava 1500 milhas ao sul.

Quase 30.000 judeus da Europa Ocidental, principalmente da Alemanha, vieram para o Brasil na década de 1920, para escapar do antissemitismo europeu. Em 1929, eles haviam estabelecido tantas comunidades que havia 27 escolas judaicas.

Ascensão do antissemitismo no Brasil

Na década de 1930, os intelectuais brasileiros começaram a caluniar os judeus, retratando-os como não-europeus, comunistas empobrecidos, capitalistas gananciosos e prejudiciais ao progresso. O Partido Nazista também encorajou o anti-semitismo entre a diáspora alemã, embora tenha tido muito mais sucesso na vizinha Argentina.

Em 1938, o Brasil iniciou um esforço ativo de assimilação e fechou os jornais iídiche e as organizações judaicas, tanto seculares quanto religiosas. Seguiu-se uma onda de antissemitismo, incluindo várias impressões dos Protocolos dos Sábios de Sião. Com a eclosão da Segunda Guerra Mundial, o Brasil adotou uma política de imigração que proibia a entrada de mais refugiados judeus no país.

No entanto, o embaixador brasileiro na França, embaixador Luis Martins de Souza Dantas, via as coisas de forma diferente e heroicamente escolheu ignorar a proibição do Brasil à imigração judaica. Vendo o que aconteceria com os judeus caso permanecessem na França, ele concedeu vistos de imigração a centenas de judeus franceses, salvando suas vidas do Holocausto.

Após o Holocausto, o Brasil adotou uma nova constituição, mais democrática, e o antissemitismo diminuiu. A imigração judaica fortaleceu a comunidade com números cada vez maiores e, na década de 1960, o judaísmo brasileiro estava prosperando. Nas eleições parlamentares de 1966, seis judeus representando vários partidos foram eleitos para a legislatura federal. Além disso, políticos judeus serviram em legislaturas estaduais e conselhos municipais.

Horacio Lafer, judeu, foi Ministro da Fazenda nas décadas de 1950 e 1960. Ele foi fundamental para que milhares de judeus deslocados da Síria, Líbano e outros países do Oriente Médio pudessem se estabelecer no Brasil.

Comunidade Judaica Brasileira Moderna

Hoje o Brasil tem a nona maior comunidade judaica do mundo e a segunda maior população judaica da América Latina, depois da Argentina. A população judaica totaliza cerca de 130.000. Cerca de 70.000 judeus vivem em São Paulo, que é o coração comercial e industrial do Brasil, e outros 30.000 vivem no Rio.

Os restantes 30.000 judeus estão distribuídos pelas outras cidades do país. Aliás, há um ditado no Brasil que diz que «se uma cidade não tem um comerciante judeu, não merece ser chamada de cidade».

Os judeus paulistas estão particularmente orgulhosos de seu apoio ao Hospital Israelita Albert Einstein, considerado por muitos o melhor hospital de toda a América do Sul. Foi o primeiro hospital fora dos Estados Unidos a ser credenciado pela Joint Commission.

No Brasil atual, a comunidade judaica vive em paz e estabilidade e pode praticar sua religião livremente. Em contraste com o anti-semitismo que marcou sua história, hoje a maior ameaça ao judaísmo brasileiro é o casamento misto e a assimilação.

Ao mesmo tempo, devido aos esforços de muitos indivíduos, começaram a florescer escolas judaicas, aulas de educação de adultos e estabelecimentos kosher.

Incrivelmente, a sinagoga Kahal Zur em Recife, a primeira sinagoga construída nas Américas, foi reaberta em 2002, 347 anos depois de ter sido fechada pelo domínio colonial português. A sinagoga não era usada desde meados do século XVII, quando os portugueses derrotaram os holandeses em Recife, expulsaram seus cerca de 1.500 judeus e baniram o judaísmo. A sinagoga está novamente aberta graças à generosidade da família de banqueiros Safra.

Após a Segunda Guerra Mundial, Binyomin Citron era um construtor e líder comunitário em São Paulo. No início da década de 1950, ele se encontrou com o principal sábio americano, o rabino Aharon Kotler, e orgulhosamente lhe contou sobre um belo edifício que ele havia construído para ser usado como yeshiva, descrevendo como ele iria produzir judeus fortes e educados, tal como uma grande yeshiva americana.

Com grande discernimento, o rabino Kotler respondeu a ele: «Prédios não criam judeus fortes e educados, as pessoas sim. Se você tiver os rabinos certos como professores, você pode produzir judeus instruídos e fortes. Enviaremos o melhor rabino do sistema para ajudar a construir a Torá no Brasil.» O rabino Kotler enviou Reb Zelig Privalsky ao Brasil, onde ele e muitos outros ajudaram a criar um futuro judaico para milhares de judeus brasileiros – um futuro para a comunidade judaica mais antiga do Hemisfério Ocidental.

 

A nossa resiliência tem que ser reconhecida: entrevista a um judeu calabrês

A nossa resiliência tem que ser reconhecida: entrevista a um judeu calabrês

Roque Pugliese, um judeu calabrês, conta a realidade dos judeus no sul da Itália: uma mistura de tenacidade, criptojudaísmo e amor por Israel.

Doutor Pugliese, o que significa hoje ser judeu no sul da Itália?

Você deve entender que os cripto-judeus do sul viveram escondidos durante séculos, fazendo o Shabat “no porão [na cave]”, isto é, nas condições mais difíceis.  Ao longo do tempo, os judeus do sul perderam os seus livros, professores e o uso do hebraico, e por isso mudaram para um dialeto único. No entanto, de alguma forma, persistiram. Aqui, por assim dizer, estamos habituados a ficar sozinhos, temos as nossas tradições kosher e nossa judeidade, compramos carne de Roma, e quando alguém nos vem visitar é uma festa para nós. E agora, depois de cerca de cinco séculos, podemos finalmente emergir e voltar ao ar livre. Por exemplo, eu ando com kipá, estou orgulhoso e feliz por ser judeu nestas terras. Por isso quis casar na sinagoga de Bova Marina, fechada há 1700 anos. Claro que sentimos falta de rezar com um minyan, sentimos muito a falta de uma comunidade, mas estamos a tentar trabalhar para construir a comunidade novamente. Devo dizer que podemos contar com as autoridades locais, que nos compreendem e nos consideram uma parte importante e integrada da cultura residente.

Recentemente, houve uma importante iniciativa em Sta. Maria del Cedro que comprova isso. Pode falar-nos sobre isso?

Era um projeto que esperávamos há muito tempo. Muitos prefeitos [presidentes da câmara] estiveram presentes na iniciativa, e isso dá uma ideia da atenção para a realidade judaica do sul e as raízes judaicas da Calábria. Não se tratava apenas de desenvolver o turismo judaico no sul, o que certamente é importante, mas também de procurar uma perspetiva mais ampla.

O que isso quer dizer?
Em Sta Maria del Cedro estiveram instituições chave para o projeto: o Governador da Calábria, com o importante trabalho de Klaus Davì, que ampliou e reuniu os vários aspetos do sulismo judaico, depois a UCEI, a Comunidade Judaica de Nápoles e o Embaixador do Estado de Israel. A intenção era impulsionar um sistema económico regional estagnado. O resultado foi justamente a conferência, que deu a possibilidade de iniciar uma colaboração cultural e económica em diversos setores. Devo dizer que poder aproximar Israel e a Calábria é incrível, especialmente depois de anos de trabalho e sacrifício. O papel do Presidente Noemi Di Segni e do Vice-Presidente Giulio Disegni, responsável pelo Sul, foram decisivos para dar sinergia às forças mobilizadas. Afinal, pense, por exemplo, que durante a primeira onda de pandemia de Covid demos máscaras em hospitais e agências das forças de segurança com o símbolo Magen David. A nossa contribuição como judeus residentes para necessidades críticas tem sido concreta. Também trabalhamos constantemente nas escolas e fazemos cursos de kashrut, difundindo os princípios básicos: alguns alunos apresentaram as suas teses sobre kashrut nos exames estatais. O resultado da conferência em Sta. Maria del Cedro foi, portanto, muito positivo. Foram tocados pontos sensíveis  e estamos muito felizes porque agora esperamos que Israel esteja disposto a colaborar num plano de desenvolvimento económico. O embaixador Dror Eydar compreendeu imediatamente a nossa realidade judaica residente e ficou feliz com o acolhimento instintivo de toda a região. Isso deixa-nos orgulhosos.

Pode falar-me sobre a realidade local dos judeus do sul?

Nós, aqui na Calábria, pertencemos à comunidade judaica de Nápoles, responsável por todo o Sul. Na Calábria há residentes judeus não registados. Reconhecemos um problema interno: temos poucos membros, mas são muitos os que nos olham com interesse e trabalham pelo judaísmo. Eu certamente não poderia trabalhar sozinho e obter resultados. Nada poderia fazer sem a ajuda dessas pessoas, animadas pelo imenso amor a Israel e ao judaísmo. Esses são recursos que devemos fazer tudo o que pudermos para manter.

Quando falamos de judeus do Sul, os nossos pensamentos vão para todos aqueles que tentaram, no passado, completar o caminho de conversão: em que ponto está essa situação?

Há anos que existe um Projecto Sulista que, no entanto, tem estado envolvido em várias fases e muitas vezes causa divisões, pois tem insistido em projetar a dinâmica das Comunidades, que tem séculos, para uma realidade diferente, como a do Sul, que tem particularidades específicas. O projeto tem duas vertentes: aquele que é gerido pela UCEI e depois a vertente religiosa, na qual não posso entrar, de competência rabínica. Gostaria de dizer que a UCEI sempre nos deu a mão, sempre entendeu o nosso sofrimento. Assim como a presidente de Nápoles, Lydia Schapirer, e o vice-presidente Sandro Temin, que agiram com compreensão do nosso trabalho. No entanto, no momento, para dizer a verdade, a maioria dos interessados ​​em voltar às suas raízes foi forçada a sair sem resultados.

Porquê, na sua opinião?

Parece-me que isso se deve a uma posição tomada sobre os convertidos do sul ao judaísmo, motivada pelo facto de não haver aqui nenhuma comunidade local. O que não significa que essas pessoas tenham perdido o interesse, apenas que acabaram escolhendo outros caminhos.

Por exemplo?

Muitos obtiveram a conversão no exterior, outros em diversas associações. Alguns hoje são judeus ortodoxos; no entanto, devo dizer que muitos são acolhidos pelos conservadores e/ou reformistas. É claro que se não fizermos uma oferta concreta, surgem outras realidades. E assim, aqueles que querem voltar às suas raízes judaicas vão para onde têm a esperança de ter sucesso.

Os movimentos reformistas são uma “concorrência” sentida no sul?

Há comunidades reformistas que acolhem as pessoas, enquanto nós não damos respostas concretas. Eles têm um sistema de receção local muito diferente do nosso e respeitam as identidades territoriais. Essas realidades tentaram fazer contato com as instituições locais, tentamos fazer tudo o possível para representar a União, mas objetivamente às vezes é difícil nessas condições.

Como poderia ser resolvido esse problema, na sua opinião?

Em geral, as pessoas não podem ser trazidas das comunidades se as problemáticas locais não forem aceites e resolvidas de forma agregadora e não divisiva. A realidade que precisa de ser entendida é que as pessoas aqui realmente sentem a sua herança judaica, pois a expulsão dos judeus no século XV resultou no fenómeno do criptojudaísmo, e com ele uma grande bolsa de resiliência cultural. É um mundo que deve ser compreendido e aceite para se poder trabalhar nele.

O ‘marranismo’ e o criptojudaísmo são fenómenos presentes noutras partes da Europa, onde a questão foi abordada de forma diferente. Em Portugal e Espanha abordaram o problema com leis nacionais que favorecem o regresso, em cooperação com instituições judaicas locais. A Shavei Israel também trabalha com muito sucesso nesse mundo, juntando os Bnei Anussim. Com eles falamos de “retorno”, não de conversão, ou seja, a sensibilidade é diferente daquela que é utilizada na Itália, deixando de fora a parte técnica. Se a questão for enquadrado como conversões, e não como parte da herança judaica, a solução certa nunca será encontrada no sul, que tem a sua própria história territorial específica. O sul teve o fenómeno dos decretos de expulsão de Ezra Israel… Bnei Anussim. Portugal e Espanha satisfizeram o pedido de retorno e também enriqueceram aquelas terras; nós, por outro lado, não escolhemos tais soluções e continuamos um pouco… invisíveis.

Em que projetos futuros está a trabalhar agora?
O evento de Santa Maria del Cedro foi o esperado culminar de anos de trabalho, materializado com o empenho da Região, que partilha a nossa realidade residencial. Considero isso um primeiro passo para projetos futuros, que agora estamos a direcionar para uma maior colaboração com Israel, a UCEI e a Comunidade. Por exemplo, sonhamos em ver regressar, nem que seja só temporariamente, o primeiro livro impresso mecanicamente dos comentários de Rashi, feito aqui na Calábria, porque é nosso património. Daria dignidade ao nosso passado e… presente, consertando a vontade de uma região de recuperar a posse da sua própria história. Temos a vontade de reconstruir a nossa história, que foi apagada, reiniciada, sob controlo da Inquisição. Temos que lançar luz sobre todos os nossos artefactos históricos e revivê-los, numa espiritualidade renovada: para trazer à tona essas latências judaicas e centelhas de vida. Aqui na Calábria há escavações em túmulos judaicos a serem desenterrados, mas são necessários recursos.

Continuaremos a manter viva para os alunos a memória do que foram as aberrantes leis Racistas Fascistas que criaram na Calábria o campo de internamento de Ferramonti di Tarsia, um campo de internamento fascista, onde muitos presos judeus contribuíram depois da libertação para lançar as bases do novo Estado de Israel. E então gostaríamos de publicar a história do cedro da Calábria, de acordo com a visão de especialistas que colaboraram com as nossas iniciativas. De resto, continuaremos a fazer a iluminação pública das Chanuchiot, os dias de cultura, os nossos Shabbatot… a nossa “resiliência”.

Na fotografia: Roque Pugliese e sua esposa, no dia do seu casamento, em Bova Marina

Artigo original em italiano em riflessimenorah.com