600 anos de animosidade: Conversos querem regressar, enquanto judeus deixam Palma de Maiorca

Descendentes de judeus forçados a converterem ao cristianismo há 600 anos na cidade turística espanhola, mantiveram as suas tradições judaicas em segredo; agora, descendentes de Conversos procuram retornar ao judaísmo, mas nem todos lhes dão as boas-vindas

Por: Tali Farkash

Pode ler o artigo completo em inglês aqui

«Íamos à igreja todos os domingos, mas em casa, uma vela ficava acesa a semana toda. Era uma vela para o Santo Shabat», disse Pinchas, da família Piña, descendente de judeus de Palma de Maiorca que foram forçados a se converter ao cristianismo durante a Inquisição, há 600 anos.

Quando Ayelet Mamo Shay, pesquisadora de pequenas comunidades judaicas, lhe perguntou como ele descobriu o seu judaísmo, ele respondeu com confiança que sempre soube. A sua avó costumava gritar com ele para não misturarem carne e leite, e até usava uma faca especial para abater galinhas de uma maneira particular. Piña conta-nos que ele mesmo abate frangos com a mesma «faca especial».

A cidade turística espanhola abriga atualmente 50 famílias. Dentro desta pequena comunidade, desenvolveram-se conflitos internos entre aqueles cujos antepassados resistiram à conversão ao cristianismo e os conversos, que agora decidiram retornar ao judaísmo. Após séculos de conversões forçadas, que diminuíram a comunidade, esses conflitos internos estão atualmente a colocar em risco a continuidade da existência da comunidade.
Palma de Maiorca, capital das Ilhas Baleares, em Espanha, possui uma rica história judaica, repleta de mudanças. Alguns afirmam que os judeus chegaram lá já na época da destruição do segundo templo em 70 EC. Entre os nascidos na ilha inclui-se o famoso posek Simeon ben Zemah Duran, 1391-1444 (conhecido como Rashbatz), classificado entre os maiores rabinos da Argélia. A história da comunidade começa a ficar interessante (e alguns dizem sombria) durante a Inquisição e a expulsão dos judeus de Espanha em 1492.
Em 1435, a comunidade judaica da ilha, de 4.000 pessoas, foi forçada a converter-se ao cristianismo. Não houve nenhuma comunidade abertamente judaica na ilha desde então. As sinagogas foram transformadas em igrejas e as cruzes passaram a enfeitar as portas do antigo bairro judeu. Quaisquer Conversos que fossem apanhados cumprindo as leis judaicas, mitsvot, eram expulsos.
Ayelet Mamo Shay – empresária, jornalista e pesquisadora profissional de pequenas comunidades judaicas ao redor do mundo – estudou a história da comunidade judaica de Maiorca e visita frequentemente a ilha. Ela explica que 15 famílias são classificadas como “Chuetas” – um termo pejorativo usado para se referir às famílias que se converteram ao cristianismo e que eram ostracizadas pela comunidade cristã local.
«Qualquer pessoa com os nomes Aguiló, Bonnin, Cortès, Fortesa, Fuster, Martí, Miró, Picó, Pinya/Piña, Pomar, Segura, Tarongí, Valentí, Valleriola ou Valls foi condenado a uma vida de privações e exclusão social e económica. Embora não pudessem viver como judeus, eles viam-se excluídos da comunidade cristã e só casavam entre si», diz Mamo Shay.
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